Distribuído pela A24, ‘Marcel, A Concha de Sapatos’ é um mocumentário que mistura live-action e a técnica de animação Stop-Motion. Indicada ao Oscar de Melhor Animação em 2023, o filme retrata, através de uma concha, tudo que muitos abandonados sentem.
O longa conta a história de Dean (Dean Fleischer Camp), um documentarista amador que aluga uma casa em um Airbnb e lá encontra Marcel, uma concha que passou por traumas e agora divide todos eles com o rapaz.
Existem fatores que tornam esse filme uma obra muito tocante. Inicialmente, fica tudo muito estranho quando o filme propõe que você compreenda a possibilidade da existência de Marcel, uma concha inteligente que possui compreensão de comunicação e também um intelecto bastante avançado, sendo considerado apenas ingênuo. Mas esses fatores não impedem uma boa historia de acontecer.
Marcel, em dado momento, conta que um casal morava nessa casa e, quando eles se separaram, o marido levou junto seus pertences e neles a família da concha acabou indo junto, restando apenas Marcel e sua avó na casa, onde vivem sozinhos há dois anos. Essa história serve de motor para que Dean publique vídeos de Marcel para ajudá-lo a encontrar seus familiares.
É uma obra bastante impressionante no que diz respeito a controle de câmera, controle de efeitos e condução de narrativa. É um filme completamente sem ação, focado em apenas recortes de conversas dos vídeos gravados por Dean. Isso nos dá um pouco de vislumbre das consequências e é assim que o diretor Dean Fleischer Camp consegue fazer com que nos apeguemos ao personagem e torçamos por ele. Afinal, Marcel acaba sendo um retrato da “fofura” que acaba conquistando mais facilmente o publico.
Um retrato de abandono forçado, Marcel, A Concha de Sapatos consegue transitar entre o surrealismo do cinema, a suspensão de realidade, o realismo dos acontecimentos e possui uma camada de depressão que percorre, desde a maneira que a concha é dublada por Jenny Slate, até sua fotografia quase sem cores, levantando tons pastéis bem frios. Os planos escolhidos são bem básicos, por se tratar de um documentarista amador como personagem principal, então ocorre uma simplicidade bem realizada no que se pode exigir mais trabalhos.
O Stop-Motion da A24 é tão bem feito que facilmente o espectador se acostuma com o estilo da animação e, certamente, depois de uns bons quinze minutos de filme, você pode se esquecer que Marcel e sua avó não existem de verdade. Devido à sua personalidade bem definida, completamente palpável e uma forte história que permeia sua vida, uma concha de sapatos pode te conquistar de formas mais potentes do que alguns filmes que tentam te pegar por fatores emocionais mais profundos (existe uma saga sobre família que já está forçando a barra).
Dado todos esses elogios, é um filme que depende do fator emocional demais, algo que me pressionou muito e em dados momentos não me surtiu o efeito que ele propôs. Essa frieza por parte deste que vos escreva pode, sim, ter afetado a experiência de uma obra que visivelmente é carinhosa, acolhedora, bastante sentimental e rica em passar uma mensagem. Para mim, acabou sendo cansativo e bastante repetitivo, tendo diálogos que poderiam ser removidos, mas o o longa se tornaria assim um média ou curta-metragem, formato de onde surgiu a ideia inicial do diretor. Portanto, é um filme que depende muito do seu fator emocional de momento, da sua bagagem de vida e de certa forma, um pouco de boa vontade.
Nota: 7/10.