A Viagem de Chihiro é um filme de aventura e fantasia japonês feito pelo Estúdio Ghibli. O longa é tão bom que rendeu até o Oscar de melhor animação, um feito incrível no qual, segue sendo o único filme estrangeiro a vencer nesta categoria. Além disso, o longa ganhou trinta e quatro prêmios.
Complexa e subjetiva, é a melhor definição sobre a história, que é ótima e bem feita, estando aberta a diferentes interpretações. Apesar da questão cultural atrapalhar um pouco no entendimento de símbolos e personagens, isso não estraga a experiência do filme. Isso pode até estimular a prender a atenção da audiência internacional, já que por não viverem no Japão precisam estar mais atentos às cenas.
Conheça a história de Chihiro
A obra fala sobre uma garota de 10 anos chamada Chihiro que está mudando de cidade com seus pais, e no caminho seu pai decide pegar um atalho. No qual, faz com que eles entrem em um lugar desconhecido, parecido com um parque temático, que parece estar abandonado. Logo, ela se encontra em um mundo misterioso onde criaturas como bruxas, espíritos e dragões existem. Ela se vê forçada a achar uma forma de salvar seus pais e sair daquele estranho universo.
O enredo traz muitas reflexões e críticas sociais, misturando fantasia com a realidade, a humanidade com seres divinos e uma das principais críticas é sobre o capitalismo e o comportamento humano. Em passagens como, quando os pais de Chihiro se transformam em porcos por comer mais que o necessário, e por comer comida que não era deles, é uma alusão a que existem muitas pessoas que vivem consumindo mais do que precisam. Enquanto, existem várias outras que estão vivendo em estado de miséria no mundo.
Outro personagem que mostra essa crítica é o espírito chamado Sem Rosto, ele não possui nenhuma expressão no rosto, nem possui nome. Ele anda despercebido e sendo ignorado por todos, até que a Chihiro o nota, e sendo gentil, ela o convida a entrar na casa de banho onde trabalha. A principal característica do Sem Rosto é que ele se comporta conforme a maneira em que é tratado, por exemplo, no decorrer da animação ele trata Chihiro de maneira gentil, porque ela o tratou assim inicialmente. Consequentemente, ele fica oferecendo para ela bastante ouro e cartões de banho, mas ela nunca aceita, dizendo que não precisa.
Já os trabalhadores da casa de banho apenas se aproximam dele por conta da riqueza que ele produz, a ganância das pessoas o tornam ganancioso. É neste momento que ele começa a engolir os funcionários desenfreadamente, e quanto mais ele se alimenta mais ele começa adquirir características humanas, como cabelo, pernas, braços e a capacidade de reproduzir as vozes das pessoas que ingeriu.
Apenas quando ele vomita as pessoas que comeu e se afasta da casa de banho, ao seguir Chihiro para fora da cidade, que ele se purifica. Esse é outro momento que fica transparente a crítica aos comportamentos humanos através dos pecados capitais, e ao capitalismo.
Outra principal mensagem que o filme trata é a questão da identidade, a protagonista Chihiro está em uma idade de transição da infância para a adolescência e ademais, A Viagem de Chihiro mostra o amadurecimento dela ao ter que enfrentar a nova realidade que se encontra longe dos pais. Existe uma bruxa chamada Yubaba que além de explorar seus trabalhadores, ela tira as identidades deles ao mudar seus nomes. Ou seja, tirando a identidade das pessoas ela consegue fazer com que os personagens esqueçam de quem eram e consequentemente, não conseguem sair daquele mundo. Pois, simplesmente não lembram o caminho de volta para suas casas, e ela faz exatamente a mesma coisa quando Chihiro pede para trabalhar lá.
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A bruxa aceita que a garota trabalhe se ela assinar um contrato onde diz que o nome Chihiro pertence a ela, e que a partir dali ela se chamará Sen. Mais tarde, um garoto chamado Haku, que foi o primeiro amigo de Chihiro no novo ambiente, lhe dá um cartão com seu verdadeiro nome escrito e a aconselha a não se esquecer dele, se não, nunca voltará para sua casa. Porque esquecer de seu nome é perder sua essência, sua identidade e sua história.
Concluindo, os pecados capitais que aparecem na história são quase todos exceto pela luxúria, que é o desejo excessivo por prazer sexual, e como o filme é para todas as idades não se encaixaria no enredo. A ira, inveja, avareza, gula, preguiça e soberba estão presentes. A gula fica evidente nos pais da protagonista, que se transformaram em porcos.
A avareza é a ganância dos trabalhadores em tirar proveito do Sem Rosto, e depois do espírito devorando as pessoas. Yubaba também é gananciosa e invejosa, ela é tão apegada ao dinheiro que não reparou que seu filho estava desaparecido. Ela também demonstra a ira com seu temperamento abusivo e manipulador. Seu bebê é preguiçoso e não quer sair do quarto enorme e da proteção da mãe, que o mima excessivamente.
O Haku é condenado pela soberba, ele se acha superior que os outros funcionários por ser o capanga da Yubaba, por falar de forma mais intelectual, e por poder se transformar em um dragão, mesmo sendo resultado de uma maldição. O orgulho e inveja também estão presentes nos comportamento dos funcionários da casa de banho.
O filme é maravilhoso e envolvente, por isso vale a indicação, inclusive é bacana assistir mais de uma vez. Ainda mais, reassistir A Viagem de Chihiro depois de ter crescido como foi no meu caso, em que assisti pela primeira vez quando era criança. A interpretação se enriquece por conta da maturidade adquirida com o passar dos anos.