Disponível no Brasil através do Paramount+, “The Curse” é uma série que promete dividir opiniões. Criada por Nathan Fielder, conhecido por “Nathan for You” e “The Rehearsal”, e Benny Safdie, co-diretor de “Uncut Gems”, a série é uma sátira intensa e provocativa, mergulhando nas profundezas da ambição branca e sem noção, e nas complexidades do mundo da televisão de realidade.
Uma Experiência Incômoda e Provocativa
Assistir a “The Curse” é uma experiência singularmente desconfortável. A série, composta por dez episódios de aproximadamente uma hora cada, é quase insuportável de se ver. Descrever a série como um entretenimento agradável seria uma mentira. Ela é horrível e excruciante. No entanto, também é inventiva, provocativa, estranhamente hipnotizante e bastante diferente de qualquer outra coisa na televisão este ano. “The Curse” é uma dessas obras que serão adoradas e odiadas na mesma medida.
A série segue o casal Asher (Fielder) e Whitney Siegel (Emma Stone) enquanto tentam lançar seu programa de TV de realidade, provisoriamente intitulado “Flipanthropy”. A premissa do programa é uma versão do “Queer Eye” em que eles realizam “boas ações” para os desinteressados moradores da cidade de Española, Novo México. Essas boas ações, no entanto, também servem como marketing para o negócio de eco-casas dos Siegels, construído sobre um modelo de compra de propriedades baratas e venda com grande lucro, impulsionado pelas tentativas de gentrificação da área.
A série começa criticando a gentrificação e o complexo de salvador branco, mas logo se expande para temas ainda maiores, abordando o mundo da arte, a comercialização do trauma, o ecossainthood e o individualismo climático, e o mito da mobilidade ascendente. “The Curse” também é uma sátira feroz da televisão e do entretenimento, o que pode explicar por que é tão difícil de assistir: faz questão de sua crítica em um nível palpável.
Atuação e Desenvolvimento dos Personagens
Asher e Whitney são personagens complexos e fascinantes. Fielder interpreta Asher como alguém ostensivamente egoísta e avarento, enquanto Stone dá vida a Whitney como uma mulher paralisada pela autoconfiança e medo de errar. A química entre eles é palpável, mas não no sentido romântico tradicional. A relação deles é um retrato brutal de um casamento envenenado pela estética e pela ambição.
Emma Stone entrega uma performance incisiva, talvez a melhor de sua carreira. Sua interpretação de Whitney é uma ilustração precisa e cuidadosa de uma personagem que é ao mesmo tempo um emblema de nossos tempos e uma pessoa empática, apesar de suas falhas. Sua atuação é a força motriz da série, tornando Whitney uma personagem complexa e multifacetada que cativa e provoca o público.
A série é impregnada de uma atmosfera de crescente temor que não alivia. A trilha sonora atmosférica e constante e a maneira como os personagens são frequentemente enquadrados através de vidros sujos e arranhados, criando uma sensação claustrofóbica, fazem com que pareça que estamos espiando suas mentes mais íntimas. A casa eco-friendly dos Siegels é uma casa passiva certificada (um esquema de certificação real), mas se transforma em uma espécie de panela de pressão decorada com arte avaliada por sua “autenticidade”.
Conclusão
The Curse é uma série que desafia e provoca, com atuações excepcionais e uma crítica afiada à cultura moderna e ao entretenimento. Apesar de seus pontos fracos no desfecho, ela permanece uma obra relevante e poderosa, que merece ser vista e debatida. Para aqueles que apreciam uma sátira bem elaborada e estão dispostos a enfrentar o desconforto que ela traz, “The Curse” é uma experiência que vale a pena.
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