A terceira temporada de O Urso (The Bear) chegou com grandes expectativas, após a recepção calorosa da primeira temporada e uma segunda temporada que, embora não tenha conseguido manter o mesmo nível, ainda gerava interesse. Contudo, ao concluir a terceira temporada, é impossível não notar a perda significativa de rumo da série, que agora se apresenta como uma sombra de seu antigo eu.
O que foi O Urso até aqui
Lançada pela FX em 2022, O Urso conquistou a audiência com sua abordagem inovadora e detalhista sobre o cotidiano de uma lanchonete familiar em Chicago. A atuação brilhante de Jeremy Allen White como o chef Carmy Berzatto, Ebon Moss-Bachrach como o primo Richie Jerimovich, e Ayo Edebiri como a sous-chef Sydney Adamu foram os pilares que sustentaram a série. A primeira temporada foi uma celebração de autenticidade e energia, capturando a essência caótica e vibrante do mundo gastronômico.
O Declínio da Segunda Temporada
No entanto, a segunda temporada revelou os primeiros sinais de desgaste. O que inicialmente parecia uma escolha estilística ousada — o uso extensivo de flashbacks, longas tomadas e episódios independentes focados em personagens secundários — tornou-se uma fórmula desgastada, em vez de uma inovação narrativa. A série começou a mostrar sinais de navel-gazing, onde a introspecção excessiva substituiu o dinamismo que havia caracterizado a primeira temporada. A introdução de Claire, uma interesse amoroso pouco desenvolvido para Carmy, e a trilha sonora que inicialmente encantava, tornou-se uma presença opressiva, refletindo uma falta de foco.
A terceira temporada exacerbou essas falhas. O que antes era um retrato afiado de um restaurante e seus funcionários agora se transformou em um desfile interminável de maneirismos e artifícios. O uso excessivo de cinematografia estilizada, que variava entre tomadas impressionantes e câmeras trêmulas, tornou-se um truque cansativo. A narrativa, que dependia fortemente de flashbacks, parecia cada vez mais uma muleta para evitar a evolução real dos personagens e da trama.
A Perda de Direção e o Futuro da Série
O ritmo da terceira temporada é notoriamente arrastado. Com 28 episódios acumulados até o momento, a série apresentou uma quantidade surpreendentemente pequena de progresso real. Um restaurante fecha, outro abre, personagens brigam e fazem as pazes, mas a sensação de estagnação é palpável. As decisões importantes são adiadas e as histórias pessoais dos personagens parecem repletas de estagnação. O ciclo contínuo de flashbacks para revisitar o luto do irmão de Carmy se torna um exercício repetitivo que não avança o enredo, mas simplesmente adia o desenvolvimento real.
A atuação, que anteriormente era um dos pontos fortes da série, também mostra sinais de desgaste. Apesar de Moss-Bachrach ainda se destacar como Richie, o resto do elenco parece preso a um ciclo de atuações cada vez mais monótonas. A recusa dos roteiristas em desenvolver os personagens, juntamente com a dependência excessiva de closes frenéticos como uma forma de intensificar emoções, contribui para uma falta de profundidade emocional que era anteriormente uma característica marcante.
A tentativa de compensar a ausência de substância com uma trilha sonora incessante e desconectada é talvez o aspecto mais irritante. A escolha de músicas, que inclui uma sobrecarga de faixas icônicas de bandas como Wilco e Pearl Jam, parece mais uma tentativa de se conectar com o espectador por meio de referências culturais do que uma escolha musical autêntica. A trilha sonora, em vez de complementar a narrativa, frequentemente desvia a atenção do conteúdo, substituindo a profundidade com uma fachada de relevância cultural.
O potencial original de O Urso era explorar como a genialidade criativa pode coexistir com uma personalidade difícil e prejudicial. A série tinha a promessa de explorar a relação entre criatividade excepcional e comportamento antiético, mas acabou se afundando em melodrama. O retrato de Carmy como uma vítima de traumas passados, em vez de um indivíduo complexo lutando com seus próprios demônios, reduz o show a uma fantasia juvenil sobre a relação entre genialidade e disfunção pessoal.
Em última análise, o que é mais frustrante em O Urso é a sua tentativa constante de camuflar sua falta de direção com referências a obras de arte superiores. A série agora parece uma tentativa frustrada de capturar a mesma magia que a tornou um sucesso inicial, mas falha em entregar algo substancial. A beleza da primeira temporada não foi completamente superada, e a série parece incapaz de sustentar o brilho que uma vez teve. A série, que começou como uma visão refrescante do mundo dos restaurantes e das complexidades pessoais, se perdeu em um mar de repetição e falta de propósito.
Conclusão
O declínio de O Urso não é um crime imperdoável; mesmo as melhores séries enfrentam desafios em manter sua qualidade ao longo do tempo. No entanto, reconhecer que uma série não é mais o que costumava ser é essencial para uma apreciação honesta e crítica da evolução do entretenimento.
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