Desde sua formação em 2019, a banda irlandesa Sprints tem mostrado um crescimento contínuo, culminando no lançamento de seu álbum de estreia, “Letter to Self”. Este trabalho é uma explosão de raiva e catarse, igualmente apto para um mosh pit em um clube ou para uma noite introspectiva em casa. Embora não soe como o hardcore empoderador de bandas americanas como GEL, “Letter to Self” compartilha uma missão semelhante de autoafirmação e libertação emocional.
A energia crua de Sprints
O título do álbum é particularmente adequado; apesar da vocalista Karla Chubb frequentemente se dirigir ao ouvinte como “você”, fica claro que ela também está confrontando a si mesma e se reconstruindo. Afinal, a voz de Chubb é memorável e evocativa, lembrando grandes nomes como Jehnny Beth e PJ Harvey, com uma fúria justa e soulful. Suas letras são afiadas e diretas, e a banda a acompanha com uma dinâmica de tensão e alívio ao longo das 11 faixas. As músicas, embora longe de serem pop, possuem uma crueza cativante que se torna viciante.
A faixa de abertura, “Ticking”, a saber, busca capturar o sentimento de ansiedade, e Sprints atinge esse objetivo com sucesso. A música mantém o ouvinte em alerta, crescendo até explodir em um clímax elétrico. É fácil imaginar essa faixa sendo eletrizante ao vivo, com a multidão gritando junto com Chubb: “I don’t know if I go harder, is that better at all?” e explodindo de energia.
Influências Poderosas
“Cathedral” é preenchida com imagens provocativas e inquietantes, como: “They say you call it punch drunk love, call it power to abusers / They say I’ve gone cold while I’m sat drowning in the gutter.” Essa faixa destaca as lutas internas de Chubb, vocalizando suas ansiedades como uma mulher queer que cresceu na igreja católica. A tensão da música atinge seu ápice antes de uma explosão de distorção que eleva a intensidade.
“Shaking Their Hands” remete a Hole, soando inicialmente como uma fusão com “Jennifer’s Body”, mas explodindo em um grande refrão à la Savages. A influência de Savages também é ouvida em “Adore Adore Adore”, uma poderosa reafirmação de si mesma, com a linha marcante: “They never called me beautiful / They only called me insane.” Essa resolução e ato de amor próprio desafiante é o que provoca arrepios, mesmo quando você sente vontade de se levantar e dançar. O solo de guitarra em “Shadow of a Doubt” também evoca essa sensação.
“Can’t Get Enough of It” ecoa as letras mais ameaçadoras de PJ Harvey, mas com um som mais direto e massivo, cortesia do produtor Daniel Fox, da Gilla Band. A produção de Fox é notável por dar à banda um som robusto e envolvente, sem perder a crueza e a autenticidade que definem Sprints.
Consagração no Mercado da Música
Se alguém suspeitava que a onda atual de música de guitarra irlandesa tinha atingido seu pico com Fontaines D.C. e The Murder Capital, certamente, “Letter to Self” desafia essa suposição. Com este álbum de estreia impecável, o quarteto de Dublin se posiciona de forma proeminente na cena musical, construindo sobre um crescimento constante através do circuito de shows ao vivo, tendo esgotado recentemente apresentações em locais icônicos como Scala, em Londres, e Button Factory, em Dublin.
Apesar dos momentos de caos que incitarão nas apresentações ao vivo, este é um álbum que desvela sua alma sem desculpas. A faixa “Cathedral”, especialmente, destaca essa dualidade, com sua abertura assombrosa que culmina em um clímax catártico, intensificado por uma explosão de distorção. A letra “Maybe living’s easy / Maybe dying’s the same” encapsula a tensão existencial que permeia o álbum.
Conclusão
“Letter to Self” é uma declaração poderosa e formidável de Sprints. É um álbum que combina tensão e alívio, raiva e autoafirmação, resultando em uma experiência auditiva que é tanto visceral quanto emocionalmente ressonante. Sprints conseguiu capturar a complexidade da condição humana em um álbum que é tão eletrizante quanto introspectivo.
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