No dia 21 de setembro de 2024, o Palco Mundo do Rock in Rio presenciou uma estreia inédita e histórica: o show “Para Sempre Trap”, parte da programação especial do “Dia Brasil”, uma homenagem à música nacional. Com grandes nomes do trap brasileiro no line-up, como Matuê, Filipe Ret, Orochi, Kayblack, MC Cabelinho, MC Ryan SP e Veigh, a expectativa era alta, e o público jovem, ávido por ver seus ídolos ao vivo, lotou a Cidade do Rock. No entanto, o que era para ser um marco do festival, transformou-se em uma experiência frustrante para muitos, marcada por atrasos, falhas técnicas e vaias da plateia.
O atraso e as vaias
O show estava programado para começar às 15h30, porém, devido a problemas técnicos, o espetáculo só teve início às 16h40, após mais de uma hora de espera. Essa demora não apenas gerou descontentamento no público, mas também atrapalhou o timing de outras atrações previstas, como a tradicional apresentação da Esquadrilha da Fumaça, que ocorreu às 15h20, sem a sincronia esperada com o evento musical.
Durante a longa espera, o clima no público, que já estava aglomerado desde a abertura dos portões às 14h, começou a azedar. Muitos fãs, impacientes com o atraso, entoaram coros de vaias e expressaram insatisfação com gritos de “vergonha”. Em um momento, uma jovem sentada na grama resumiu o sentimento geral ao questionar: “Vim aqui para ouvir silêncio?”. A tensão aumentou quando Zé Ricardo, um dos organizadores do Rock in Rio, foi vaiado ao aparecer para tentar acalmar os ânimos.
A apresentação e os desafios técnicos
Finalmente, às 16h40, os artistas Filipe Ret, Kayblack, Orochi, MC Cabelinho, MC Ryan SP, Matuê e Veigh subiram ao palco. Contudo, os problemas técnicos persistiram, impactando diretamente a performance. A apresentação começou de forma tímida, sem grandes efeitos visuais, e logo ficou evidente que o sistema de som ainda não estava plenamente ajustado.
Kayblack foi o primeiro a tentar iniciar sua apresentação, mas após a primeira música, o grupo decidiu interromper o show, com Matuê avisando ao público que esperariam a organização do festival corrigir os problemas técnicos antes de continuar. “Vamos esperar eles se organizarem para voltar para o palco”, declarou o artista. Durante todo o show, as falhas de som continuaram a atrapalhar o desempenho dos trappers, gerando desconforto visível entre os artistas. MC Cabelinho, em um dos momentos de irritação, reclamou: “Aí é f*oda”, refletindo o sentimento geral sobre a situação caótica.
O show foi interrompido por completo em três momentos distintos, fazendo com que os artistas saíssem do palco, gerando mais frustração entre os fãs. Mesmo assim, os trappers tentaram manter o clima leve, brincando com a plateia e improvisando para aliviar a tensão. Filipe Ret, por exemplo, aproveitou o tempo para beber no palco enquanto aguardava o ajuste dos equipamentos, e em determinado momento, convidou o público a cantar junto com ele, em uma tentativa de resgatar a conexão com os fãs.
A reação do público e a perseverança dos artistas
Apesar das adversidades, os trappers conseguiram, eventualmente, continuar com o show, e alguns momentos de interação com o público deram novo fôlego à apresentação. Músicas como “Plaqtudum”, de Filipe Ret, e “Poesia Acústica”, que envolveu Matuê e MC Cabelinho, fizeram o público cantar em coro, mostrando que, apesar das dificuldades, a paixão dos fãs pelo trap brasileiro se manteve inabalada.
Um dos momentos mais memoráveis foi a formação de rodinhas punk no meio da plateia, algo incomum em shows de trap, mas que demonstrou a energia e o entusiasmo dos fãs. Ainda assim, ficou evidente que tanto o público quanto os artistas esperavam um espetáculo com maior qualidade técnica e organização, o que acabou sendo prejudicado pelas falhas constantes no som.
A organização do Rock in Rio se manifestou sobre os problemas técnicos, afirmando em comunicado oficial que o atraso foi causado por “problemas inesperados no equipamento de som”, e que a programação do festival naquele dia seria ajustada para compensar o tempo perdido. Essa não foi a primeira vez que o som apresentou problemas nesta edição do festival; na sexta-feira, 20 de setembro, tanto o Palco Mundo quanto o Palco Sunset sofreram com oscilações de volume, impactando as apresentações de artistas como Iza e Katy Perry.
A importância do trap no Rock in Rio e a inovação do “Dia Brasil”
Apesar das dificuldades, o “Para Sempre Trap” simboliza um marco importante para o Rock in Rio, ao destacar o gênero que mais cresce entre os jovens brasileiros. O vice-presidente artístico do Rock in Rio, Zé Ricardo, mencionou que o trap, atualmente, representa para a juventude o que o rock representou nos anos 1980. Ao reunir sete dos maiores nomes do gênero no Brasil, o festival buscou celebrar essa transformação no gosto musical das novas gerações.
Com uma base de fãs extremamente engajada e números impressionantes nas plataformas digitais, os artistas do trap somam mais de 75 milhões de ouvintes mensais no Spotify e 66 milhões de seguidores no Instagram. Esses números reforçam o impacto cultural do gênero e a razão pela qual o Rock in Rio decidiu dedicar um dia inteiro à música nacional, com o trap como destaque.
Embora o show tenha sido marcado por falhas, ele também abriu espaço para que esses artistas mostrassem sua resiliência e capacidade de cativar o público, mesmo em condições adversas. A apresentação de feats inéditos e a interação entre os trappers foram alguns dos pontos altos do evento, deixando claro que, quando se trata de trap, o espírito de coletividade e irmandade entre os artistas é um dos grandes atrativos do gênero.
Conclusão
O “Para Sempre Trap” pode não ter sido perfeito em termos técnicos, mas simbolizou um momento importante para o Rock in Rio e para a música brasileira. Com a crescente popularidade do trap, especialmente entre os jovens, o gênero já se consolidou como uma força cultural no país, e essa apresentação, mesmo com seus desafios, serviu para reforçar a relevância desses artistas no cenário atual.
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