Fernanda Torres foi indicada ao prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro por sua atuação em “Ainda Estou Aqui”, filme dirigido por Walter Salles. O longa-metragem está em cartaz e conta a história de Eunice Paiva, uma mulher que, diante da ditadura militar, busca a verdade após o desaparecimento de seu marido.
Torres foi a terceira brasileira indicada na competição, antes Sônia Braga havia sido por “O Beijo da Mulher Aranha” (1985) e novamente em “Amazonas em Chamas” (1994). Fernanda Montenegro, por sua vez, também foi indicada em 1999 por “Central do Brasil”.
Em suas redes sociais, Fernanda Torres celebrou a conquista mencionando os 25 anos desde a última indicação ao Globo de Ouro em que, coincidentemente, Walter Salles também era diretor. A atriz completou dizendo: “A vida presta!”.
Curiosamente, a valorização à vida é uma das pautas mencionadas no filme “Ainda Estou Aqui”, que debate justamente as pressões internas de uma mãe que precisava de respostas para encontrar a paz.
O merecido reconhecimento de Fernanda Torres, de acordo com suas próprias palavras, se deve principalmente à Eunice Paiva, a quem ela interpreta. Uma mulher que se tornou um símbolo de resistência frente à ditadura militar que assolou o Brasil por mais de 20 anos.
Fernanda Torres já havia dito: o importante é estar lá
Globo de Ouro, Oscar e outros prêmios americanos são, em sua maioria das vezes, momentos solenes de valorização do cinema americano. O brasileiro é profissional em torcer pelos seus, mas é importante conter as expectativas.
Nem digo isso pelo trabalho impecável de Salles, atuação irretocável de Torres, porque, afinal, em termos de qualidade o longa-metragem brasileiro foi muito bem selecionado. Mas ocupar esses espaços já é motivo de comemoração, pode acreditar.
“Ainda Estou Aqui” tem, possivelmente, a maior campanha já feita por um filme brasileiro na história. A Sony, que é detentora da distribuição do filme, colocou o longa para rodar nos principais espaços dos Estados Unidos e em todos a recepção foi extremamente positiva.
Foi esse cuidado com a campanha que fez com que o filme chegasse, por exemplo, ao Globo de Ouro e com a dupla indicação: melhor atriz e melhor filme de língua não-inglesa.
“Ainda Estou Aqui” deveria ser a regra, não a exceção
Se não vencer, valerá a pena? Não tenha dúvidas que sim! O padrão de campanha apresentado pela equipe de “Ainda Estou Aqui” será um divisor de águas no que diz respeito a impulsionar o potencial de filmes brasileiros pelo mundo.
A própria Fernanda sabe disso. Em algumas entrevistas ela já elucidou a importância que devemos dar a essas indicações. Nós sempre começamos atrás e mesmo assim nunca paramos de fazer.
São dezenas de filmes sendo produzidos todos os meses por aqui. Muitos deles totalmente de forma independente e dentro de um país de dimensão continental. A cada fronteira é possível encontrar uma nova linguagem, estética e uma nova forma de se contar uma história.
Tudo isso, dentro de um país que em pouco tempo atrás havia sofrido com cortes de verba na cultura por parte do governo e que hoje vê na cultura um pouco de esperança, principalmente para o que está por vir.
A vida realmente presta, Fernanda. O vislumbre de um Brasil fértil ao cinema ecoa na mente de jovens que hoje torcem pelo seu filme e por você. Mas no fundo todos sabemos que tudo isso que está diante dos nossos olhos já é uma vitória.
Para deixar claro: “Ainda Estou Aqui” não vai mudar o cinema brasileiro. Nem há o que mudar, afinal, o nosso audiovisual respira nossos anseios, nossas dores.
Contudo, vale reforçar que esse filme tem o poder de potencializar a visibilidade de novos filmes frente às grandes competições internacionais e, por essa perspectiva, posso assegurar que estamos presenciando a história.