Assistir “Mufasa: O Rei Leão” é no mínimo uma experiência curiosa. O filme de Barry Jenkins (do ótimo “Moonlight”), tem diversas vantagens sobre o seu antecessor, como a possibilidade de contar uma história inédita, sem ter comparações como o seu maior problema. Mas mesmo assim, o filme traz outras ressalvas que o filme de Jon Fraveau, de 2019, não tem. Sendo uma prequela/sequela do longa anterior, “Mufasa” se propõe, e conta uma boa história, mas apesar do esforço de Jenkins, o filme derrapa em pontos onde a animação e consequentemente o seu live-action ultrarrealista, foram bem. E por um motivo óbvio: Qualidade.
Filme melhora o problema das expressões dos personagens
Um ponto positivo de “Mufasa”, é a correção que é feita nas expressões dos personagens, o que deixa o filme com menos cara de “animal planet”, dá um dinamismo maior às cenas, onde você consegue entender mais as expressões. O filme de Fraveau engessa os personagens, e toda a magia da animação se perde na inexpressividade dos seus personagens. Jenkins usa um truque para fazer o longa parecer o que se propõe, e não um documentário: os cenários não parecem mais ultrarrealistas, e você consegue captar melhor o que cada personagem quer traduzir: Seja raiva, alegria, intimidade, medo… E esse é um ponto forte.
História é bem contada e fortalece o protagonista
Mufasa (Aaron Pierre, no original) se agiganta ainda mais depois de seu filme. Poderia se imaginar um longa onde se vivenciaria mais do ambiente, de seus personagens adicionais, mas não, Mufasa é o grande protagonista, e se prova ainda mais humano, habilidoso e corajoso do que nos parece tanto nos desenhos, como na adaptação anterior. Com uma história surpreendente, conseguimos voltar em 1994, e entender melhor a obsessão de Scar/Taka (Kelvin Harrison Jr.) de assumir o trono. Realmente, ele é portador de um sangue real, enquanto Mufasa sempre quis apenas chegar a Milele (o novo nome das Terras do Reino, ao que parece).
Scar, ainda como Taka, tem no clássico de 94, o auge do todo o ressentimento, que já havia sido sugerido, na adaptação de 2019, de ter sido um leão trocado, rejeitado, ainda que tivesse tudo para ser o Rei das prometidas terras. Mas não tem os elementos principais: Coragem e caráter. Conseguimos entender que além disso tudo, ainda restou a mágoa de ter perdido seu interesse para o irmão, Mufasa: A rainha Sarabi (Tiffany Boone).
Outros personagens também se sobressaem
Além da estrela do filme, “Mufasa” consegue tornar personagens interessantes, como a própria Sarabi, que passou a ser uma leoa de mais atitude na adaptação de Favreau, e aqui, no filme de Jenkins, apenas intensifica a releitura enquanto personagem. Essa princesa Sarabi é jovem, destemida, esperta e confronta o também jovem Mufasa, em muitas oportunidades, antes de se apaixonarem.
Um Rafiki mais jovem, mais ágil, com uma personalidade tão mística quanto carismática, tudo que nós fãs, e hoje críticos, sonhamos. A adição dos pais de Taka e de Mufasa também é muito importante. Saber que os dois são filhos de pais diferentes, explica muita coisa e torna, por incrível que pareça, mais forte, a relação de irmandade entre os dois, justamente por não ter mais a ver apenas com sangue.
Relação entre Mufasa e Taka é o ponto alto do longa
No longa, ver Mufasa se perdendo da sua família, sua mãe Afia e seu pais Masego, é no mínimo agoniante. Ainda que não tenhamos a certeza de como ficaram, até então, é reviver a história de Simba, e encontrar pontos de ainda mais semelhança entre pai e filho. Ao ser encontrado por Taka, e ser salvo de jacarés, pelo herdeiro de Obasi e Eshe, entendemos como a palavra família soa diferente na educação dos dois jovens leões.
Enquanto Mufasa sempre foi acolhido, ensinado e amado, Taka é sempre cobrado e a todo tempo preparado para um reinado medíocre. E tudo isso, reflete na história dos dois. Mesmo aprendendo um com o outro, muito de Obasi ainda fica em Taka, e no Scar que conhecemos em 1994 e vimos novamente em 2019, assim como Mufasa leva lições dos pais, mas também de Eshe, que o acolhe como filho legítimo.
Trilha Sonora deixa a desejar
Para falar da trilha da “Mufasa: O Rei Leão”, precisamos passar pela fraca música de abertura, incidental e curta, até as melhores canções do longa, que são poucas. A canção de Kiros (“Tchau, Tchau”, interpretado pelo ótimo Mads Mikkelsen), o grande vilão do filme, encaixa como uma luva na mensagem do vilão, não é fantástica, mas conversa bem com a sequência. Assim como a de um magoado e vingativo Taka (“Irmão Traído”), ao descobrir o interesse mútuo entre Sarabi e Mufasa. Tirando isso, tudo é muito fraco.
A ideia de Lin-Manuel Miranda é boa. Moderniza, sem perder a essência e a introduções de canções de instrumentais já conhecidos do público, mas suas músicas não são marcantes, e para a franquia “O Rei Leão”, isso faz toda a diferença. Confira toda a trilha sonora original AQUI.
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Aparição de personagens famosos é rápida (e por vezes, desnecessária)
Não existe “O Rei Leão” sem Simba, Nala, Timão e Pumba. A prova é que mesmo em derivados, a dupla que criou o grande protagonista da franquia sempre dá as caras. Mas talvez, em “Mufasa”, foi um pouco demais. No início do longa, Simba (Donald Glover), precisa deixar a filha Kiara (interpretada por Blue Ivy Carter), com Rafiki, Timão e Pumba (Jhon Kani, Billy Eichner e Seth Rogen, respectivamente) para ir ao encontro de Nala (Beyoncé). E o velho Mandril resolve contar a história do avô da princesa.
Ao final do longa, descobrimos que na verdade, o afastamento era para que Nala desse a luz ao irmão de Kiara, que não tem seu nome revelado, o que instiga desde a sua identidade, até mesmo a uma sequência do longa de 2019, junto a essa parte final de “Mufasa”. Mas as entradas de ambos os personagens em passagens da história, quebra o ritmo e exagera. Essa é uma história de Mufasa, e não cabe tanta interferência.
“Mufasa” é um filme completo, só não é encantador
Direção e Roteiro foram fiéis e entregaram o que prometeram Barry Jenkins e Jeff Nathanson (“O Rei Leão”, “Prenda-me se for capaz”). A trilha do longa é o ponto fraco do filme, junto a algumas escolhas que atrapalharam o andamento da história, mas “Mufasa” em si, é um bom longa-metragem. Reforça a ideia que sempre tivemos do primeiro rei das Terras do Reino, e agita os fãs, de forma mais otimista, quanto ao futuro da franquia, que nas mãos de Jenkins, tem tudo para dar certo.