A parceria entre o pagodeiro e o rapper criou um dos momentos mais intensos e representativos do festival
Péricles subiu ao palco Quebrada pontualmente às 18h15 e iniciou o show com “Até que Durou”, uma canção que toca fundo no coração de qualquer um. Em seguida, para levantar a energia da plateia, trouxe “É no Pagode”, levando todos a cantarem a plenos pulmões. Na primeira pausa para interagir com o público que resistia aos ventos gelados de Interlagos, ele desabafou: “Esperei muito tempo por esse momento e sei que vocês também”. Afinal, até poucos anos atrás, o pagode era um gênero que costumava ficar do lado de fora dos grandes festivais nacionais.
A Surpresa no Palco: Dexter e a Fusão do Rap com o Pagode
Por volta da quarta música, Péricles convidou ao palco o rapper Dexter, e juntos apresentaram o hit “Me Perdoa”, que misturou pagode e rap na mesma canção. Essa fusão me teletransportou para a década de 90, quando o grupo Negritude Júnior convidou Mano Brown para participar da música “Gente da Gente”. No entanto, a conexão entre Péricles e Dexter demonstrou ser uma verdadeira evolução dessa mistura.
O Arrepio Coletivo: A Homenagem ao 509-E
O verdadeiro arrepio, no entanto, veio com Dexter. A trajetória do artista, que floresceu para o rap no Carandiru com o aval de Mano Brown e os Racionais MC’s, já é impactante por si só. Mas quando Péricles assumiu os refrões de clássicos do 509-E como “Saudades Mil” e “Oitavo Anjo”, a apresentação transcendeu. A voz aveludada do pagodeiro, servindo de base para as rimas cortantes sobre vivência e saudade, criou uma química improvável que explodiu diante do público, que abraçou a missão e completava os versos em um coro ensurdecedor. Foi, sem exagero, o momento que definiu não só o palco Quebrada, mas talvez o festival inteiro.
Uma Montanha-Russa de Emoções: Do Protesto ao Samba de Raiz
A montanha-russa de emoções não parou por aí. Dexter ainda trouxe a realidade de “Eu Sou Função”, cantou um trecho de “Voz Ativa” e prestou um tributo necessário a gigantes como Malcolm X, Luiz Gama e Marielle Franco. E quando o público pensava que tinha entendido a proposta, a dupla mergulhava de cabeça em “Maneiras”, um samba que Péricles conduziu com maestria. Foi nessa virada de chave, do rap noventista para o pagode que todo mundo sabe cantar, que o Rei da Voz assumiu o controle, trazendo a nostalgia de “Falando Segredo” e fazendo a plateia dançar como se não houvesse amanhã.
A Conexão com a Periferia: A Verdadeira Magia do Encontro
No fim das contas, a apresentação foi muito mais que um simples show com participação especial. Ali, o palco Quebrada deixou de ser um anexo no canto do Autódromo para se tornar o coração pulsante do evento. A mágica aconteceu porque a obra dos dois artistas dialoga diretamente com a mesma realidade: a da periferia. Foi essa a conexão, a liga que transformou um encontro musical em um ato poderoso de representatividade, provando que o rap e o samba bebem da mesma fonte e falam a mesma língua.
Uma Reflexão Para o Futuro dos Festivais
Para concluir, a edição de 2025 do The Town tem deixado uma reflexão importante, principalmente no Palco Quebrada e no The One: os artistas brasileiros têm entregado shows tão potentes e bem executados que nos faz pensar até quando os maiores festivais do Brasil irão mantê-los em palcos menores.