Muito se ouviu de Maria Rita muito antes dela ser quem era. E ela vem dobrando crítica e público há 20 anos. Ora por semelhanças com a mãe, ora por pura implicância. Mas nunca pela qualidade do seu trabalho. Nessa sexta, 17, estreou o “Samba de Maria – Ao Vivo”, nos streaming de músicas e também com registro audiovisual no canal oficial da cantora no YouTube. A cantora paulista sela a grande comemoração dos seus 20 anos de carreira com o seu melhor registro, e consequentemente, no seu melhor momento.
O “Samba de Maria” é um show que a cantora faz desde 2015. Um show íntimo, do puro e melhor samba brasileiro. A poesia em forma de música de estrelas como Jorge Aragão, Guará, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz figuram entre suas interpretações, com trilhas marcantes que embalam desde o mais descontraído pagode de esquina, até marcos do samba interpretados em outrora por figuras como Alcione e até Beth Carvalho. Agora, a voz é de Maria.
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O “Samba da Maria – Ao Vivo” foi lançado nas plataformas virtuais na madrugada de hoje, 17, e no YouTube, o registro audiovisual foi liberado às 11 da manhã, no canal oficial da cantora. O registro é um compilado de tudo que Maria já vem cantando, com pérolas de Jovelina Pérola Negra, Adoniran Barbosa, Gonzaguinha, dentre outros. A intérprete e compositora, é vencedora de 8 Grammys Latino, inclusive o de Melhor Artista Revelação, inédito para uma artista brasileira. A direção geral do projeto é da própria Maria Rita, com direção de vídeo de Arthur Moric. A gravadora é a Som Livre.
Show mescla músicas que são hits das cantora com nova interpretações
E é com ineditismo, para o show e para o registro, que Maria abre o seu samba com uma das melhores músicas que ela interpreta durante a ocasião, muito por conta da emoção de levar o “Samba de Maria” para as telas. “Sorriso Aberto”, canção de Guará, interpretada de forma única por Jovelina, é declamada pouco antes de ter seu arranjo iniciado e a sua interpretação acontecer.
“Bola pela frente” entra em um pout-pourri acertado com “Num Corpo Só”, hit da cantora, que tem até um vídeo clipe lançado à época do lançamento do seu álbum de mais sucesso de samba: “Samba Meu”, de 2007. “Maltratar não é direito” só ajuda a fechar a série emocionada de Maria, que pra quem acompanha o seu trabalho, sabe o significado de cada nota embargada.
Depois de “E Eu ?”, fruto do seu último trabalho e mais autoral, Maria embarca em Jorge Aragão, com “Tendência”, “Lucidez” e outras das mais bem interpretadas no show: “Eu e você sempre”. “Coração em Desalinho” inflama a sua plateia e prepara terreno para “Tradição”, joia de Geraldo Filme, samba paulistano, e para o samba-enredo “Simplesmente Elis”, quando a pimentinha foi homenageada pela escola do Bixiga, a Vai-Vai. Aos gritos de “Aê! Aê-aê”, trecho de “Maria, Maria”, o final do samba é um apoteótico costume dos fãs nos shows da mãe de Antônio e Alice.
Abraço à democracia toma conta em alguns momentos
Com o Samba-enredo, Maria Rita traz um série de músicas interpretadas pela mãe, com destaque para “O Bêbado e a Equilibrista” e “O Mestre-Sala dos Mares”, ambas músicas muito cantadas por Elis Regina durante o duro regime da ditadura militar. Músicas de Aldir Blanc e João Bosco, figurinha carimbada nos álbuns da gaúcha falecida em 82. Ainda deu tempo de ouvir gritos de “Lula, Lula”, atual presidente do país, e abertamente escolha política da cantora.
Quando em “Corpitcho”, Maria Rita canta livre, inclusive dos comentários quanto ao seu peso, ela se garante no que faz. Que é cantar. Em “Cara Valente”, talvez sua música mais cantada desde o seu primeiro álbum “Maria Rita”, de 2003, ela mostra que não existe a dita distância para a Maria Rita performer que conhecemos há 20 anos, ela só evoluiu. E não é só sobre ela, é sobre o seu canto.
E pelo público, a música de Marcelo Camelo, é o hino dos bacanudos, principalmente por encontrar em “Ele não!”, apoiado e alimentado pela cantora um dos melhores – novo – refrão para a música. Assim como Elis transformou muito do que cantou em hino, Maria Rita segue o mesmo caminho, em um momento de devolução ao povo brasileiro de espaços democráticos.
Espiritual, Maria Rita canta Clara Nunes e Beth Carvalho
Compenetrada, ela traz algumas canções que são canais de transmissão da religiosidade da cantora, adepta e praticante do Candomblé há aproximadamente 3 anos. “Reza”, “D’Oxum” e com um arranjo inicial simples e único, “Oyá”, as músicas dão forma a uma fase do registro muito bem arranjada e interpretada pela cantora. Com o “Canto das Três Raças”, a cantora ainda rememora Clara Nunes. Com “Por Vezes” e “Canção para O Erê dela”, Maria, reforça que também está em outro lugar na indústria, ela é uma das compositoras das canções.
Como é característica da cantora, ela terminar seu show com “É” e “O Homem Falou”, canções de Gonzaguinha, dessa vez temos uma ligeira mudança: A última música é “Vou festejar”, imortalizada na interpretação de Beth Carvalho, madrinha do samba. Prova de que a cantora não tem medo de arriscar, de mudar e também de se lançar em mais 20 anos de sucesso. Em um show camaleão, que muda de repertório mais mantém a sua mesma energia prestes a completar 8 anos de estrada, Maria Rita pode aproveitar esse momento, talvez com um dos melhores shows do Brasil.