Um voo de Düsseldorf, com escala em Miami e desembarque no Rio de Janeiro
A narrativa histórica tradicionalmente privilegia a perspectiva dos vencedores, moldando a narrativa a partir de seu ponto de vista. Mas como aplicar essa lógica ao Funk Carioca? Se a história do Funk é a história de uma vitória, quem são os vitoriosos? Não seriam os DJs, os MCs, os produtores? Talvez. Mas e o público, a audiência que se identificou com o ritmo, que encontrou no Funk uma voz, um espaço de expressão, uma identidade? Esse texto é fruto da pesquisa do DJ Bryan AVS.
A história do funk carioca é uma narrativa de inovação, criatividade e resistência. Apesar da marginalização e dos desafios, o funk se firmou como uma expressão cultural poderosa, com raízes que remontam à música eletrônica e ao soul. Mas antes de concluir, precisamos revisitar a trajetória do Funk carioca. Apesar da inovação e criatividade, houve marginalização e inviabilidade. Para falar do Funk, precisamos voltar à música eletrônica com Kraftwerk em 1970.
Pioneiros e Influências
Como dissemos no paragrafo anterior, a jornada do funk começa com a banda alemã Kraftwerk, pioneira no uso de sintetizadores. A banda alemã formada em Düsseldorf, é reconhecida por muitos críticos como uma das mais influentes da história, especialmente por sua colaboração com a música de gerações futuras. Foi pioneira na utilização fluida de sintetizadores, inspirando Afrika Bambaataa e o SoulSonic Force, que por sua vez influenciaram o funk carioca. Contudo, uma peça crucial desse quebra-cabeça ainda está faltando: o Soul / Funk.
Então logo no começo da década de 70, aqui no Brasil, estava vindo o Fenômeno da Soul Music (resultado do Rhythm and blues e da Música Gospel) com muitos elementos de jazz e com temáticas de viés político, além da própria exaltação da negritude, tendo James Brown como sua principal expoente. Só que como tudo no mundo moderno, as coisas foram acelerando, e o Soul sendo projetado com uma grande pitada sexual, se subdividiu para um gênero chamado Funk.
Do Miami Bass aos Bailes Funk Carioca:
O Miami Bass, oriundo de Miami (Flórida), com influências do Hip-Hop e da cultura caribenha, é um dos grandes pilares para o desenvolvimento do Funk carioca. Nos anos 80, os “Bailes da Pesada” no Canecão, liderados pelo radialista Big Boy e pelo DJ Marlboro, introduziram o funk no Brasil através do disco “Funk Brasil”, utilizando a arte de samplear.
A Luta Contra a Marginalização
Enquanto variações como Baile de Corredor, Funk Melody e o programa Furacão 2000 ganhavam espaço, o movimento enfrentava perseguições midiáticas e policiais, além da criação de CPIs Municipais e Estaduais. Essa repressão estatal visava silenciar as letras do Funk, que expressavam a dura realidade da vida nas comunidades.
A Ascensão e a Diversidade do Funk Carioca
Nos anos 90 e 2000, começamos a observar novas mudanças nesse ritmo tão rico, assim como o funk Carioca, tais como: a ascensão a programas de TV como “Xuxa Hits”, temas de novela da “Barriga de Aluguel” com a Feira de Acari, MC Batata e produção do DJ Marlboro, além das próprias comunidades transmitirem hits como: “Bonde do Tigrão – Passa Cerol na Mão”, “Cidinha e Doca – Rap da Felicidade” e “Tati Quebra Barraco – Boladona”
Embora muitos tenham tentado apagar a história do funk no Brasil, o estilo musical continua a se ramificar e conquistar novos espaços, como evidenciado pelo impacto do DJ Ramon Sucesso no Boiler Boom, na Espanha.
O funk não apenas sobreviveu, mas prosperou, ramificando-se em diversos subgêneros, como Funk Mandelão, Funk Ostentação, 150 BPM e Brega Funk. Essa resiliência garante que o funk continuará a triunfar sobre aqueles que desejam sua extinção