Quem sair por último apaga a luz! E foi Aquaman 2 O Reino Perdido que ficou encarregado dessa missão de encerrar o universo DCEU (iniciada lá em 2013 por Homem de aço) de forma melancólica e apática. A fase final do atual panorama de super-heróis no universo DC parece envolta em complexidades. Após superar desafios com The Flash, é o filme do Rei de Atlântida que se depara com uma série de questões de produção. Alterações de última hora e soluções que desagradam quem vai assistir ao longa, um verdadeiro problema intensificado.
Um Peixe fora d’água, ou do tom
A abertura do filme, com uma cena de ação abruptamente interrompida para explicar detalhes, revela a preocupação em reintroduzir a franquia de maneira didática. A mudança de foco para temas familiares, embora tente reposicionar Aquaman no mercado de entretenimento familiar, resulta em momentos em que Jason Momoa parece desconectado de seu papel.
No entanto, o enfoque não é tanto em se conectar com o espectador de maneira cuidadosa, mas sim em reposicionar a franquia em um mercado há muito controlado pela empresa rival: o entretenimento voltado para a família. Para alcançar esse objetivo, Arthur Curry não apenas assume a posição de herói, mas também a de pai. Dessa forma, introduz-se uma trama imersa na temática dos laços familiares. No segundo filme, Jason Momoa parece um tanto fora de lugar ao desempenhar um Aquaman mais alinhado com princípios virtuosos – sua relação com o meio-irmão Orm evoca emoções genuínas, mas o efeito imediato é a persistência do ator em uma abordagem irônica com piadas e referências à cultura pop que cansam com o tempo. Em uma, por exemplo, cena o Aquaman chama seu irmão de Loki, pois é.
Aquaman 2 navega sob a orientação de uma mensagem de unidade, transmitida ocasionalmente na narrativa através do ditado que diz que um líder habilidoso é capaz de construir pontes. Essa lógica descomplicada ganha destaque no antagonista que prevalece por meio dos conflitos alheios e na ameaça que coloca em risco a vida subaquática.
Tal proposta acompanha uma progressão notável de James Wan como diretor de produções grandiosas. Artesão experiente, o cineasta demonstra maior habilidade na condução das cenas de ação. Wan sabe como iluminar as cenas e colocar a câmera a serviço do impacto, equilibrando de forma mais eficaz os extensos efeitos visuais com o desempenho dos atores. Ainda assim, é muito pouco diante das promessas que um diretor da sua estatura pode oferecer. O resultado é notavelmente menos chamativo do que o apresentado em “Aquaman” de 2018, que mergulhava no exagero de maneirismos e poses.
A sequência ainda encara alguns exageros, entretanto, nesta instância, a atribuição de culpa parece direcionar-se aos gestores da Warner. Seja na introdução apressada de informações ou na presença minimizada da atriz Amber Heard, nota-se que algumas modificações foram implementadas de modo improvisado na edição. A personagem entra em cena nos momentos de Deus ex machina, totalmente avulsa e sai da mesma forma.
Claramente o filme dá um leve salto de qualidade quando Patrick Wilson entra em cena, trazendo novamente o vilão Mestre dos Oceanos para a tela. Por falar nisso, a ideia de que o ator seria um Aquaman muito melhor que Momoa não sai da minha cabeça. Afinal, com presença e carisma, o personagem estava ganhando o titulo de “melhor coisa do filme” isso se não fosse por um detalhe, em certo momento, Orm insinua uma breve inclinação ao revanchismo para, em seguida, adotar sua nova postura altruísta simplificada. Isso vai além de simplesmente evitar a vilania – fundamentalmente, a questão é eliminar qualquer vestígio de contradição entre esses personagens ou na trama como um todo. A contradição é o que nos torna humanos.
Molhando só a pontinha do dedo
A grande decepção surge na expectativa por um épico confronto final, que simplesmente não se concretiza. A construção de uma ameaça extrema se estende por mais de duas horas, porém, quando finalmente se materializa, desaparece em questão de minutos. Considerando a abundância de cenas de ação, era esperado que o clímax final fosse tratado com mais cuidado.
Aquaman 2: O Reino Perdido parece ser o ponto baixo deste ano para os filmes de super-heróis em geral, apagando a luz de uma festa chata com pessoas desinteressantes. Vamos torcer para que em 2024, seja o momento onde cineastas e roteiristas tragam elementos frescos para que o gênero não perca seu apelo junto ao público.
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