Apresentado pela primeira vez e fazendo um grande sucesso no festival de Cannes de 2023. O filme “Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou” dirigido e protagonizado pela atriz Joanna Arnow, traz a vida pacata e de certa forma desinteressante de Ann, uma mulher que vive claramente infeliz com tudo que a cerca, sua família, seu trabalho e dando ênfase a essa infelicidade principalmente em seus relacionamentos. Relacionamentos em que ela deveria viver os momentos que seriam os menos monótonos, em uma relação BDSM, onde a submissão com os seus “mestres” a faz passar por momentos em que a degradação e a forma como é tratada (com falta de interesse por parte deles) a faz, mesmo que sem estar à vontade, sentir-se satisfeita com tudo o que passa.
Texto escrito por Willian Fernando (@wii_fat)
Precisamos de um incentivo externo para crescer
A partir do momento em que ela começa a ter mudanças na sua vida familiar, com sua irmã passando um tempo com ela e seus pais cobrando uma presença maior e no trabalho, com mudanças de cargo e demissões na empresa, Ann percebe que está cansada de viver desinteressada pelas coisas. Movida por isso começa a ter pequenas tomadas de decisões, mudando um pouco o pensamento submisso declarado desde o início do filme.
É nesse momento que vemos que Arnow escolheu muito bem a forma de utilizar o som no filme, com toques simples e tons para expressar emoções, sem precisar de músicas muito complexas, ela dá o ritmo ao filme, mostrando a simplicidade em que a personagem vive, até o momento em que suas escolhas a permitem viver um romance fora do padrão dela. Ao encontrar Chris, um músico que demonstra real interesse nela e deseja passar mais tempo juntos, saindo e se divertindo, despertando em Ann interesses que ela tinha, sobre os famosos musicais, por exemplo, mas que não era compartilhado com nenhum dos “mestres”.
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Técnica bem desenvolvida, mas faltam ajustes finos
Joanna Arnow soube nos apresentar essa imagem da submissão e degradação mas sem levar para o lado pesado disso tudo, mostrando o modo como isso pode ser uma fuga de uma espécie de vazio existencial por parte da personagem, mas infelizmente o lado filosófico não foi perdoado, pois ao mesmo tempo que ela usa o BDSM como recurso, ela tenta mostrá-lo como parte da comédia/tragédia da vida de Ann, comédia essa que é muito falha em diversos momentos e acaba virando somente mais uma cena que fica sem conexão com o resto do filme.
A história traz uma sensação de estagnação que acabamos tendo diariamente, vendo tudo passar na nossa frente todos os dias e somente seguindo sem ter reação, escolhas e vivendo praticamente submissos a tudo que o mundo nos coloca como obstáculo. A forma como esse paralelo é traçado nos faz pensar se não precisamos de mais interesse pela nossa própria existência e que talvez deixemos de viver às custas das pessoas que “mandam” em nós. Com certeza tem seus pontos fortes e fracos, mas Joanna Arnow tem muito potencial e já deixou isso claro nesse seu primeiro trabalho como diretora, os próximos só tem a melhorar.