James Cameron aposta em conflitos mais densos, personagens melhor desenvolvidos e um enredo menos previsível
Sobre “Avatar: Fogo e Cinzas”, preciso confessar que nunca fui um grande fã do universo estabelecido por James Cameron em Pandora. Apesar de o primeiro ter revolucionado a experiência do cinema, ele tinha um roteiro similar ao da animação Pocahontas. Já o segundo, pedi para o Marcelo fazer a crítica, pois até hoje me pergunto qual a necessidade dele. Dito isso, se chegou até aqui achando que vou “esculhambar” o terceiro… já adianto que isso não vai acontecer.
Por que Avatar : Fogo e Cinzas funciona melhor
“Avatar: Fogo e Cinzas” carrega algumas características presentes em grandes histórias contadas no cinema: a originalidade do roteiro e, principalmente, a força dos conflitos.
Antes de entrar no arco da nova tribo Mangkwan e sua líder Varang (Oona Chaplin), presente nos trailers, a primeira hora do filme foca nas consequências dos atos do segundo longa. São elas: mais um ataque dos humanos a Pandora; a morte de Neteyam (Jamie Flatters); a presença de Spider (Jack Champion), jovem humano nascido em Pandora que vive usando máscara de oxigênio; e Kiri (também vivida por Sigourney Weaver), nascida do avatar inanimado da saudosa doutora Grace, que tem alguns novos poderes e vulnerabilidades.
Confesso que o processo de desenvolvimento de personagens dessa primeira hora de “Avatar: Fogo e Cinzas” foi bem mais eficaz do que as maçantes 3 horas e 12 minutos do seu antecessor. O processo de luto de Jake Sully (Sam Worthington), Neytiri (Zoë Saldaña), Lo’ak (Britain Dalton) e Tuk (Trinity Bliss) mostra o quanto a família está levemente dividida.
Enquanto Lo’ak se culpa pela morte do irmão, sentimento acompanhado pelo pai Jake, Neytiri começa a nutrir um ódio fora do comum por todos que não são de Pandora, inclusive pelo jovem Spider, que ela mesma criou como filho.
Tuk e Kiri ficam levemente abandonadas, e Kiri ainda tenta se entender dentro daquele universo, pois, de alguma forma, ela não consegue se conectar com Eywa. Como se não bastasse, a família, tribo da floresta, ainda convive com a tribo da água.
Um fato específico faz com que Jake e Neytiri decidam levar Spider para um assentamento de humanos. Nesse momento, conhecemos a tribo do ar, que viaja por Pandora em navios voadores puxados por criaturas aladas, algumas parecendo águas-vivas e outras arraias.
Simultaneamente, Coronel Miles Quaritch, interpretado por Stephen Lang, morto em batalha no primeiro filme, mas ressuscitado como um avatar Na’vi, intercepta a comunicação de Jake e decide segui-lo por dois motivos: capturá-lo/matá-lo e recuperar seu filho Spider.
Mangkwan: conflito além sobre a fé em Eywa
No período de travessia, a tribo Mangkwan, tal como piratas, ataca a todos, e Varang fica impressionada com a metralhadora de Jake que emana uma rajada de fogo e balas. Com isso, a segunda hora de “Avatar: Fogo e Cinzas” se torna um excelente filme de múltiplas caçadas, flechas e tiroteio.O Enredo Funciona: Híbrido, Revolta e a Força da Crítica
Talvez uma das facetas mais interessantes seja a introdução dos Mangkwan e sua rejeição a Eywa, graças a uma erupção vulcânica. Sem contar a liderança cruel de Varang, que acaba se unindo ao Coronel Miles Quaritch, tanto pela paixão pela destruição quanto por uma certa semelhança na crueldade.
Outro ponto positivo do filme foi a nova motivação do conflito entre os Na’vi (exceto os Mangkwan) e os “pele rosa”, ou seja, os humanos. Graças a Kiri, Spider desenvolve a habilidade de respirar em Pandora e se conectar ao planeta, tornando-se, assim, além do primeiro humano nascido em Pandora, um híbrido entre as duas espécies.
Como tudo isso ocorre antes da metade do longa, os conflitos resultantes de todos esses cenários descritos acima fazem com que o terceiro filme da saga tenha algo único até aqui: um enredo que, de fato, faça você ficar entretido, além do deslumbre visual.
O melhor Avatar em termos narrativos
Portanto, “Avatar: Fogo e Cinzas” é, sem sombra de dúvidas, o filme com melhor desenvolvimento de enredo dos três. Pela primeira vez, não senti que a história é muito similar a outras do cinema ou uma total bagunça e perda de tempo, como foi o segundo.
Ainda que o ato final seja muito parecido com a batalha que ocorre no segundo filme, o terceiro consegue fazer com que você sinta que está assistindo a um filme com um roteiro um pouco menos sem graça e previsível que os dois anteriores.
O futuro da franquia Avatar
Sobre o futuro da franquia, apesar de o terceiro deixar algumas pontas que podem gerar boas continuações ou possíveis séries, eu espero que o estúdio reconsidere a ideia de levar a história até o quinto filme, e aqui vai o porquê. Claramente, o terceiro filme, no quesito roteiro e desenvolvimento de personagem, faz com que o segundo se torne totalmente esquecível. Além disso, Avatar 3 tem um certo jeito de final de saga ou talvez de penúltimo capítulo.






