A África surge mais uma vez, por meio de suas filhas, filhos e filhes, como o norte e o sul do Back2Black. Nesta 11ª edição, o festival – que é apresentado pelo Instituto Cultural Vale e Shell, com captação via Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, e patrocínio do Youtube – retorna com música, palestras, arte contemporânea, fotografia, teatro, moda, dança, literatura, rodas de conversa e gastronomia, desta vez, no Armazém da Utopia e no Parque de Madureira.
A programação começa na Zona Portuária hoje, dia 25 de maio (quinta-feira), data em que se comemoram os 60 anos do Dia de África. A série de diálogos de Pret’Upias, além de enaltecer a essência desse dia como uma gratidão ao continente africano como o berço da civilização, demonstrará também uma perspectiva de futuro a ser construído sob as perspectivas africana e afrodiaspórica. Ideais que vão ecoar por todo o festival.
Se quando o B2B (sigla para Back2Black) começou, em 2009, a música africana era apenas um nicho do eurocêntrico rótulo “world music”, agora, ela pertence ao mainstream lotando estádios e circulando pelos grandes festivais e festas das grandes metrópoles. Antenado com tudo isso, o Back2Black traz ao Brasil, de forma inédita dentre os festivais do país, as novas sonoridades festivas que estão influenciando a música pop: os afrobeats (ou afropop), uma gama de ritmos eletrônicos diversos criados nas décadas de 2000 e 2010 que têm, em sua essência, batidas de matrizes africanas; e amapiano, ritmo eletrônico que, hoje, é considerado o “novo deep house” após balançar massivamente as pistas, e os quadris, na África e na Europa. Além disso, o B2B volta a trazer alguns expoentes de estilos musicais africanos já consagrados, como o jùjú, e o politizado afrobeat original, criado pelo gênio nigeriano Fela Kuti na década de 1960 – uma influência, inclusive, para os afrobeats.
SHOWS
Amanhã, dia 26 (sexta), no Back2Black, o Palco Orun receberá grandes “feats”. Uma bem especial será entre o rapper Emicida, que traz a grande celebração de seu show-experiência “AmarElo”, e o seu convidado especial: o músico, compositor e ativista Dino d’Santiago (Cabo Verde), com a sua musicalidade do R&B e dos ritmos populares cabo-verdianos — como a morna, o funaná e o batuku. O palco também terá um encontro de legados familiares, com o multi-instrumentista, cantor e compositor Chico Brown, filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, que convida para uma participação especial o também multi-instrumentista e compositor Mádé Kuti (Nigéria), filho do músico Femi Kuti e neto de Fela Kuti, e que debutou em 2021 com o álbum “For(e)ward”. Também estarão presentes as batidas da bombada DJ e produtora DBN Gogo (África do Sul), demonstrando o que fez o ritmo eletrônico amapiano se tornar, hoje, a nova queridinha dos clubs. Já no palco Aiye a revelação carioca N.I.N.A, representa a cena de grime e drill brasileiras com seus versos cheios de rima e potência; e, em versão Sound System, o movimento cultural carioca Okupiluka, que divulga arte e música africanas em suas festas nas zonas Norte e Central carioca.
No dia 27 (sábado), os destaques do palco Orun serão o músico e cantor Salif Keïta (Mali). Também conhecido como a “voz de ouro da África”, o ex-integrante do lendário grupo africano Les Ambassadeurs e também ativista por mais respeito e dignidade às pessoas com albinismo realiza apresentações memoráveis por onde passa ao entoar o seu som solar que une a musicalidade tradicional do povo mandinga com R&B, funk e jazz fusion. O palco também tem, pela primeira vez no Brasil, a cantora e compositora Tiwa Savage (Nigéria), a “diva dos afrobeats” com 16 milhões de seguidores no Instagram que leva a sua musicalidade inspirada nos grandes nomes da Black Music dos anos 1990, como Mary J. Blige e Chaka Khan. Também estarão presentes o furacão do pop brasileiro, Iza, com um show exclusivamente feito para a noite especial; e a suavidade romântica da jovem revelação baiana que saiu das redes sociais para o mundo, Agnes Nunes. No Palco Aiye, a cantora e compositora baiana Sued Nunes demonstra a sua ancestralidade e vivência através de suas canções carregadas de axé; o cantor, compositor e instrumentista brasiliense Hodari demonstra seu R&B romântico-erótico com pitadas de funk; e as carrapetas da carioca DJ Tamy garantem os grooves na pista.
Já no dia 28 (domingo), o festival Back2Black aporta em um importantíssimo bairro negro do Rio, Madureira, e promove um grande intercâmbio musical entre África x Brasil com Salif Keïta e sua banda, que convidam a cantora baiana Margareth Menezes, atual ministra da cultura.
DIÁLOGOS DE PRET’UPIAS
O Dia de África será celebrado com muita arte, diálogo e conhecimento nos encontros promovidos pelas rodas de conversas, talks e conferências. “Diálogos Afroatlânticos” reunirá o músico, compositor e ativista cabo verdiano Dino d’Santiago, o músico, escritor, poeta e cronista angolano Kalaf Epalanga e a escritora, roteirista e jornalista brasileira Eliana Alves Cruz, para desvendar conexões emocionantes entre as culturas afro-brasileira por meio da música e da literatura na crença da força da criatividade para aproximar pessoas. Já a mesa “Retratos de África” unirá a palavra cantada do cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade musical pan-africana, Mateus Aleluia, e a palavra escrita do primeiro prêmio Nobel de literatura do continente africano, Wole Soyinka, em uma conversa sobre modos de ver e recriar imagens sobre África.
Como insumo para os Diálogos de Pret´Upias, a programação contará com Talks sobre “Afrofuturismo” com o escritor Fabio Kabral; “Black Music” com o Youtube; e “Afro-Turismo: Diáspora e Rotas da Escravidão Angola Brasil” com Jair Miranda e Afonso Vita (Angola). Não ficará de fora do Dia de África as rodas de conversas com quilombolas e refugiados mediadas pelo jornalista e escritor Tom Farias; a poesia falada do poetry slam com o coletivo artístico Slam das Minas; e o Workshop Vozes Negras oferecido pelo Youtube Music.
Para coroar esta grande celebração do dia 25, o encerramento será com o show do eterno Tincoã Mateus Aleluia.
Já no dia 28, o Parque de Madureira receberá a peça teatral “Chegança do Almirante Negro na Pequena África”, onde a Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades contará a odisseia de João Cândido, líder da Revolta de Chibata.
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ARTE
Festival será revestido por “pele eletrônica” que refletirá as Áfricas latentes entre nós
A direção de arte do festival Back2Black é assinada pelo curador e documentarista Marcello Dantas e o design por Rico Lins. O conceito traz a sucata eletrônica que “vestirá” o festival como se fosse a sua pele. O trabalho será formado por uma camada digital de circuitos e cenários de placas eletrônicas. De acordo com Marcello, a criação é para refletir as Áfricas latentes entre nós:
“Grande parte dos metais raros que são necessários para produzir os circuitos eletrônicos digitais que movem o planeta são garimpados de terras africanas, processados em fábricas orientais, para transmitirem a informação do mundo atual. Esses circuitos voltam para a África na forma de lixo eletrônico. Por outro lado, vistos como sucatas, eles são reutilizados por criativos capazes de reprocessar todas essas referências e ressignificá-las”.
Já na exposição artística, as obras de Panmela Castro e Maxime Manga refletirão os ritmos e movimentos criativos, propositivos e tecnológicos de nosso tempo. A artista visual carioca, que despontou da favela carioca Tavares Bastos para as galerias de arte brasileiras e da Holanda, da Alemanha e dos Estados Unidos, apresentará sua arte de cunho político, social e feminista. Já o artista gráfico camaronês “usa a diversidade para criar exclusividade” com retratos de comunidades sub-representadas em colagem digital de formas geométricas e tons de poeira estelar. Para complementar a cena, as coreografias vibrantes do grupo infantil Masaka Kids Africana, de Uganda, que vira e mexe viraliza nas redes sociais por conta de sua positividade e, é claro, muita fofura.
Além de tudo isso, durante o festival, também será lançado o Instituto Back2Black, para promover residências entre artistas africanos afrobrasileiros, desenvolver trabalhos com refugiados e ampliar as vozes das comunidades quilombolas. As tendas e barracas da Feira Preta também apresentarão, de forma bem didática e durante todos os dias do evento, a história e a riqueza por trás de criações gastronômicas africanas e afrobrasileiras, já que a fome nunca, jamais foi negra.
Confira a programação completa do Back2Black: