Esse texto contém spoilers do filme Barbie (2023)
Eu costumo dizer que o mundo deu errado para nós mulheres quando homens perceberam que a vida não era gerada como num passe de mágica num útero. Desde então, fomos esmagadas através dos séculos e cá estamos numa luta incessante em busca daquilo que deveria parecer óbvio (mas não é): a igualdade.
Diante disso, somos presenteadas com Barbie (2023). E, entendam, talvez este filme não dialogue com todos os públicos. Inclusive, é palpável que ele vai desagradar (e muito!) o público incel. Como não nos importamos com a opinião deste tipo, seguimos…
Este também não é um filme que deva agradar crianças. Talvez nem mesmo agrade jovens ainda presas naquela velha militância rasa de frases de efeito (mesmo que o próprio filme tenha várias delas). Algumas estão ali em tom de autocrítica, outras nem tanto.
Um abraço coletivo de muito brilho, cor de rosa e sororidade
Há algo mais profundo, ainda que com um texto deveras expositivo, que dialoga especialmente com mulheres enfrentando a assustadora e deliciosa crise dos 30. Chamo de assustadora e deliciosa por ser uma jornada intensa e solitária sobre autoconhecimento e autocuidado.
E talvez seja por isso que eu, no auge dos meus 29 anos, tenha sentido esse filme bater tão forte em mim. Barbie bate, mas ainda assim ele nos levanta. Mas o principal é que ele nos abraça. É como se ele soltasse um “Ei, desalacera, pra quê a pressa? Pra quê tentar projetar essa imagem de alguém tão forte? Você não precisa ser perfeita.”
E é engraçado que o próprio filme brinca com o fato de ser difícil acreditar que a Margot Robbie não seja perfeita. Mas veja, se até mesmo esse monumento de mulher foi chamada de mediana recentemente, o que resta para nós? O que resta para nós?
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A transformação de um símbolo feminino
Confesso que ver uma boneca com quase 70 anos de história, que por muito tempo oprimiu meninas a este ideal de perfeição, tentar reparar os danos causados por este símbolo me traz um pouco de esperança para o futuro. E talvez eu seja um pouco sonhadora e otimista demais, mas fato é que a Mattel já vem nos últimos 10 anos assumindo um compromisso de representatividade com o lançamento de bonecas mais diversas e com corpos reais.
Sabemos, obviamente, que isso é fruto do capitalismo se apropriando da evolução das pautas sociais para fazer mais uma tonelada de dinheiro. Mas veja, onde antes tínhamos mulheres que cresceram colocando uma barbie num pedestal inalcançável de perfeição, hoje temos meninas se sentindo representadas e com um modelo bem mais realista em mãos. E isso por si só já é uma grande vitória para nós.
A voz que nos empodera é a nossa própria voz
Barbie trabalha de forma descontraída tudo aquilo que já estamos cansadas de gritar a plenos pulmões ao levantar a bandeira feminista. Queremos igualdade entre gêneros, queremos direitos iguais! Suplicamos para que nossas vozes sejam ouvidas dentro de uma sociedade que só nos reprimiu e esmagou com o pesado rolo compressor do patriarcado. Pedimos, sobretudo, respeito.
Vale lembrar que este filme estreia na mesma semana em que vimos inúmeras pessoas defendendo um ex-bbb condenado por estupro. E seguimos aqui unidas, ainda que muito cansadas, pedindo o mínimo. Seguimos sendo nós por nós. E sonhando todas as noites para que o mundo seja um pouco mais cor de rosa.
Barbie estreia nos cinemas de todo Brasil no dia 20 de julho.