Se você não é um fã dos mais dedicados a saber de tudo da DC Comics e está se perguntando “Quem é o Besouro Azul na fila do pão?” eu vou te contar um pouquinho desse personagem vivido pelo ator Xolo Maridueña na mais nova produção do universo cinematográfico da DC.
No longa somos apresentados ao jovem Jaime Reyes, adolescente latino-americano que assume o manto do Besouro Azul em uma encarnação mais recente do herói (sim, esse não é o primeiro Besouro Azul na cronologia). Sua história começa quando ele recebe um pacote misterioso das mãos de Jenny Kord (vivida pela atriz Bruna Marquezine) , personagem inédita criada apenas para o filme, mas que tem uma importância chave para o destino do nosso herói. Dentro deste pacote ele encontra o escaravelho alienígena azul, que se funde a sua espinha dorsal, concedendo-lhe um traje tecnológico e poderes únicos.
A partir daí começa a história de Jaime como o herói Besouro Azul, enfrentando, além de vilões, outras questões como adaptação aos seus poderes, a aceitação como herói, a importância da diversidade e representação no mundo, e finalmente o que torna esse filme de herói tão carismático, o valor da família.
É nesse ponto que quero tocar agora, pois o filme se apega muito ao aspecto da família para se distanciar, corretamente, de outros filmes introdutórios de heróis. Se por um lado Besouro Azul não traz novidades e usa a fórmula batida dos filmes do gênero, (é só observar que a estrutura está toda na tela) por outro ele escolhe acrescentar elementos de conexão com o público, a ponto que a todo momento vamos nos pegar se identificando com traços familiares de cada personagem secundário que compõem o elenco.
A atuação do núcleo familiar traz um frescor para o filme, uma simpatia que de cara já fica nítida com a relação entre eles, e dois personagens se destacam aqui, o tio conspiracionista vivido pelo divertidíssimo George Lopez, que entrega o humor do filme em quase todos os momentos em que o personagem aparece, e a irmã de Jaime, Milagro interpretada pela atriz Belissa Escobedo, que traz muito bem a relação de humor entre irmãos, em um momento implicando e sendo sarcástica, e em outro apoiando sempre nos momentos difíceis.
Tá tudo muito bem conectado com a história sem parecer forçado e o filme mostra que não estamos diante de uma representação estereotipada da família latino-americana como Hollywood está acostumada a fazer com sua egolatria, muito pelo contrário, Besouro Azul faz com que o público se entregue totalmente à experiência de estar conhecendo uma cultura que pode ser diferente para algumas pessoas, mas que dialoga muito bem com a nossa. Exemplo disso é ver que em alguns momentos você vai pegar referências de novelas mexicanas que foram sucessos no Brasil, trilha sonora com as músicas em espanhol, e até um certo personagem vermelhinho que aparece em dois momentos e que eu não vou revelar para vocês terem a surpresa na hora (eu torço inclusive para ele virar canônico na DC..rs).
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O responsável por trazer essa conexão entre culturas latinas é o diretor porto-riquenho Angel Manuel Soto. Soto não esconde suas referências da infância na hora de contar uma história de herói, as cenas são filmadas com agilidade e peso nos movimentos, lembrando momentos de anime e tokusatsu em sua essência. Podemos dizer que o CGI está bem honesto e não atrapalha a experiência do público, algo tão questionado nos tempos atuais. O diretor conseguiu contar uma história de apresentação bem feita, sem querer em nenhum momento reinventar a roda e por isso abraça, sem vergonha nenhuma, características bem usadas nos filmes de introdução dos super heróis, como os primeiros Homem-Aranha e o Homem de Ferro.
Maridueña traz para seu personagem o tom certo do jovem confiante com senso de humor descontraído e carismático, frequentemente usando piadas e sarcasmo para aliviar a tensão em situações de perigo, mas ao meu ver peca na hora de entregar algumas nuances na parte dramática, isso fica visível quando comparado em cena com a nossa Bruna Marquezine que entrega em seu grande papel em Hollywood uma atuação muito positiva e com um inglês de dar inveja a qualquer um que começa seus primeiros passos na terra do tio sam. A atriz está muito à vontade e é peça chave para a trama, tendo bastante destaque e falando até uma frase em português em uma de suas melhores cenas do filme.
Quem não está muito bem e convincente no longa são os vilões, com atuações bem rasas e caricatas no pior estilo novela galhofa (pois existem ótimos vilões nas histórias das telenovelas mexicanas) sem trazer um tom de perigo em nenhum momento através das atuações. Susan Sarandon interpreta a tia megera Victoria Kord que herdou as Indústrias Kord do irmão e pai de Jenny, Ted Kord, que foi o segundo Besouro Azul na cronologia da DC e desapareceu misteriosamente (lembra que no início do texto eu mencionei que Jaime Reyes não era o único que usou o manto de Besouro Azul). Ao lado de Victoria temos também o capanga da vez, Carapax, o típico vilão “tanque de guerra” que só existe pra grunhir e distribuir socos, apesar do filme tentar criar uma empatia contando a história do passado dele, o roteiro falha na questão de conexão que não é o bastante para aceitar uma redenção do vilão, muito por conta do texto fraco e do ator Raoul Max Trujillo ser uma porta de madeira maciça de carisma.
Com isso, o terceiro ato perde a força deixando os vilões com desfechos meia boca, mas o que salva mais uma vez o filme é a interação entre a família de Jaime, que faz uma força tarefa para ajudar o nosso herói a salvar o dia. Isso mostra que essa é a maior força de Jaime, não só ter uma armadura alienígena poderosa em seu corpo, mas sim os laços da família que vão dando forças a cada obstáculo e dor, como diz a personagem que faz a avó em um dos momentos de perda do filme “Não é o momento de chorar, somos mais fortes juntos, como uma família. Precisamos lutar”.
Besouro Azul entra para o universo cinematográfico da DC com bastante carisma e tem tudo para ser trabalhado mais pra frente em uma possível sequência, mas que nesse filme foi feito o básico do jeito certinho, não o básico comum, mas o clássico feijão com arroz feito com o carinho da mãe e servido quentinho em uma mesa com toda a família reunida. Um bom tempero latino nessa salada clichê dos filmes de super heróis.