Tyler, The Creator voltou com força em seu novo álbum, CHROMAKOPIA, e não deixa dúvidas de que ele está em uma fase de introspecção artística madura e sincera. Em uma declaração no lançamento, ele enfatizou a importância de ouvir o álbum mais de uma vez para realmente compreender sua profundidade. Este é um projeto que exige do ouvinte o mesmo nível de atenção e reflexão que o artista empregou em sua criação.
Na onda de álbuns conceituais que incentivam múltiplas audições, como Mr. Morale & the Big Steppers, de Kendrick Lamar, Tyler desafia a ideia de um consumo rápido. CHROMAKOPIA demanda uma apreciação cuidadosa, onde cada faixa revela camadas novas a cada audição. Como uma obra literária, o álbum é recheado de detalhes ocultos, reflexões sobre fama, identidade e as armadilhas da cultura de celebridade. Tyler, assim como autores icônicos como J.R.R. Tolkien, usa sua música para tecer uma narrativa complexa, carregada de simbolismos e significados.
Bonita Smith: A Voz da Consciência de Tyler
Em CHROMAKOPIA, a mãe de Tyler, Bonita Smith, serve como uma guia espiritual para o personagem central, St. Chroma, em diversas faixas. Em “Hey Jane”, ela traz à tona temas como a importância de se proteger emocional e fisicamente. A presença de Bonita é um lembrete constante das raízes de Tyler e de como a sabedoria adquirida em casa impacta sua visão sobre a vida adulta. Em uma sequência particularmente tocante, ela se responsabiliza pela ausência do pai de Tyler, mostrando uma vulnerabilidade rara e honesta.
“St. Chroma”: O Personagem e o Conceito
Tyler apresenta St. Chroma, uma figura que enfrenta dilemas emocionais e espirituais, guiado por uma busca interna e pela influência das lições de vida de sua mãe. Em CHROMAKOPIA, St. Chroma é um reflexo do próprio Tyler, que, aos 33 anos, agora revisita sua juventude e seus valores com olhos de adulto. Na faixa homônima, Daniel Caesar adiciona uma profundidade quase religiosa, com um refrão introspectivo que toca em temas de luz e redenção.
Faixas como “Rah Tah Tah” e “Noid” mostram um Tyler explosivo e, ao mesmo tempo, introspectivo. “Rah Tah Tah” é intensa, com linhas líricas provocativas que ecoam a autoconfiança e o sarcasmo de Tyler, enquanto ele aborda a fama e os limites de relacionamentos verdadeiros. Já em “Noid”, a paranoia se manifesta de forma crua, com referências a invasões de privacidade e perda de autonomia. Tyler se sente encurralado pela fama, refletindo sobre as complexidades de ser uma figura pública com uma desconfiança crescente em relação ao mundo ao seu redor.
Reflexões Sobre Paternidade em “Hey Jane”
Uma das faixas mais emocionantes, “Hey Jane”, aborda o tema da paternidade de uma maneira não convencional e sincera. Tyler se divide entre a vontade de assumir o papel de pai e o medo de perder sua liberdade pessoal. A canção é dividida em duas perspectivas: a de Tyler e a de Jane, sua parceira. Esse diálogo permite que ambos expressem suas inseguranças sobre a gravidez e a possibilidade de criar um filho juntos. Em um ponto vulnerável, Jane revela a Tyler que, apesar das incertezas, ela está disposta a enfrentar as mudanças, afirmando a importância do apoio mútuo.
Um Coral de Colaborações de Peso
Tyler não está sozinho nesta jornada musical. CHROMAKOPIA conta com a participação de artistas como Daniel Caesar, Teezo Touchdown e Childish Gambino, além de Lil Wayne e GloRilla na faixa “Sticky”. Esses convidados ajudam a ampliar o alcance sonoro do álbum, trazendo suas próprias influências e estilos. Cada colaboração adiciona uma camada única à narrativa, tornando o álbum uma experiência auditiva rica e variada.
Embora coeso em sua narrativa, CHROMAKOPIA desafia as expectativas de continuidade musical. Cada faixa traz uma experimentação sonora distinta, com influências que vão do gospel ao hip-hop experimental. Essa variedade pode dividir opiniões, mas também reafirma a versatilidade de Tyler como produtor e artista. Em CHROMAKOPIA, ele rejeita a ideia de conformidade sonora, oferecendo uma experiência que exige do ouvinte uma abertura à imprevisibilidade.
Conclusão
CHROMAKOPIA é uma obra de Tyler, The Creator, que reflete um artista em evolução, disposto a enfrentar seus medos e dilemas pessoais através da música. Mais do que um simples álbum, ele é uma exploração de temas complexos como paternidade, fama e autoconhecimento. As faixas são cuidadosamente elaboradas para capturar a essência de um artista que, embora esteja no auge de sua carreira, ainda encontra novas questões para confrontar. Com referências literárias e colaborações bem posicionadas, CHROMAKOPIA é um testemunho da maturidade artística de Tyler, convidando o ouvinte a se aprofundar em sua jornada introspectiva.
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