A cena do rap está conquistando, certamente, um espaço cada vez mais proeminente no cenário nacional, seja pela narrativa transmitida em suas letras, pelo ritmo envolvente ou pela poesia peculiar. Esse domínio em expansão destaca-se com o surgimento de talentosos artistas. Frequentemente negligenciamos a riqueza cultural ao nosso redor, direcionando nossa atenção para outras expressões que divergem da nossa vivência diária.
Dessa forma, fizemos uma seleção com 20 artistas do Rap no Brasil para você, que não está familiarizado com o estilo musical, começar a se envolver nessa cultura do Hip Hop e não ficar de fora desse movimento tão significativo.
Sabotage
Mauro Mateus dos Santos, mais famoso como Sabotage, também desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do rap no Brasil. Criado em uma comunidade ao longo de toda a sua infância e adolescência, acabou se envolvendo no universo do crime e tráfico de drogas desde cedo, sendo assim suas músicas sempre exploraram o tema de maneira pessoal. Diferentemente de muitos outros renomados rappers que abordam esses assuntos com uma perspectiva mais distante, Sabotage efetivamente experimentou ser parte do submundo criminoso como assaltante e gerente de tráfico por muitos anos. Ingressar no cenário musical e compartilhar suas vivências foi o que o retirou da marginalidade, revelando seu verdadeiro talento. Além disso, ele encontrou sua vocação no cinema, atuando em notáveis produções brasileiras como “O Invasor” e “Carandiru”. Lamentavelmente, o rapper nos deixou em 2003, mas, sem dúvida, deixou um legado inestimável para a música brasileira.
Carlos Eduardo Taddeo
Mais conhecido pelo seu nome, Eduardo, o primeiro envolvimento de Carlos Eduardo Taddeo com o universo do rap ocorreu nos primórdios da década de 90. Aos 16 anos, ele e seus parceiros decidiram estabelecer sua própria banda, a Facção Central, que rapidamente se tornou um dos pilares mais significativos na paisagem do hip-hop brasileiro. O grupo lançou uma série de álbuns ao longo de sua trajetória, incluindo Diálogos (1994), Dúvida e Contradição (1996) e Os Donos da Verdade (2002). A carreira solo de Eduardo teve início em 2003 com o lançamento de seu primeiro álbum, Sob o Olhar de Deus. A obra foi aclamada tanto pela crítica quanto comercialmente, rendendo-lhe inúmeros prêmios e reconhecimentos em todo o Brasil. Desde então, Eduardo lançou mais cinco álbuns de estúdio, tornando-se uma fonte de inspiração para muitos aspirantes a rappers no Brasil e além-fronteiras.
Além de suas realizações nacionais, Eduardo deixou sua marca no cenário internacional. Em 2018, tornou-se o primeiro artista brasileiro a ser indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rap, com seu trabalho O Movimento do Som. Em 2020, foi novamente indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Urbana pelo álbum Tempo de Volta.
Mano Brown
Mano Brown é, sem dúvida, um dos pioneiros no cenário do rap brasileiro, considerando o surgimento do gênero na década de 70 e sua atuação como cantor desde 1988. Ao lado de Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, forma o principal conjunto de rap do país, abordando questões sociais em suas composições. Em 2008, a revista Rolling Stones o incluiu na lista dos 100 maiores artistas da música brasileira, conquistando a 28ª posição. Contudo, Mano Brown vai além da música em sua militância. Atualmente, conduz um podcast no Spotify denominado “Mano a Mano”, no qual recebe convidados de diversas áreas para debater assuntos variados.
Negra Li
Reconhecida como uma das marcantes figuras femininas do rap brasileiro, Negra Li se aproximou desse gênero musical aos 16 anos de idade. Seu trajeto artístico teve início como integrante do conjunto de rappers RZO em 1996, desempenhando um papel crucial na ascensão não apenas dela, mas também de outros artistas de renome nacional, como Sabotage. Entre 2004 e 2014, período em que o grupo passou por uma pausa, Negra Li trilhou sua jornada solo. No entanto, desde então, o RZO foi revitalizado, e ela reassumiu suas atividades como membro do conjunto.
Emicida
Leandro Roque de Oliveira, conhecido nacionalmente como Emicida, adotou esse nome artístico porque começou sua trajetória como Mestre de Cerimônias (MC) em duelos de improvisação, e seus amigos o apelidaram de “assassino” devido à sua consistente vitória em todas as competições, superando todos os seus oponentes. Dessa forma, ele fundiu MC e ‘homicida’ para impulsionar sua carreira como rapper. O paulista, originário de uma comunidade, deu início à sua carreira em 2005, quando divulgou suas primeiras composições online como “Contraditório Vagabundo”. Emicida é amplamente reconhecido hoje por abordar, além dos temas habituais do rap, como criminalidade, pobreza e racismo, questões menos discutidas entre homens heterossexuais, como saúde mental, suicídio, depressão e solidão.
Entretanto, o artista não se restringe à música. Há alguns anos, ele atua como apresentador, fazendo parte, ao lado de Fabio Porchat, João Vicente de Castro e Francisco Bosco, do elenco fixo do programa Papo de Segunda, transmitido pelo canal GNT, que trata de tópicos polêmicos a serem desmistificados pelos homens. Recentemente, ele também lançou, em parceria com a Netflix, seu documentário “AmarElo”, no qual entoa seus poemas no Teatro Municipal de São Paulo e revela os bastidores de seu espetáculo, prestando homenagem ao legado da cultura negra no Brasil.
Linn da Quebrada
Diferentemente dos demais rappers renomados no Brasil, Linn da Quebrada rompe totalmente com essa esfera predominantemente composta por homens heterossexuais e cisgêneros do mercado. Além de atuar como ativista, ela é uma mulher transgênero e aborda em suas músicas as experiências vividas. Suas letras contêm análises contundentes sobre a transfobia e o isolamento enfrentado pela mulher trans, que reside em uma das nações mais transfóbicas globalmente, onde travestis são vítimas de homicídios diariamente.
Dessa forma, ela cativa a audiência LGBTQIAP+, que nunca se sentiu representada pelo rap. Desse modo, ela se torna uma das principais responsáveis pela disseminação do rap brasileiro nos dias de hoje.
Criolo
Criolo deu início à sua trajetória em 2006, entretanto, desde os 11 anos, dedicava-se à composição de rap inspirado pelos coletivos mencionados anteriormente: Racionais MC’s e RZO. Nos primórdios de sua carreira como rapper, ele fundou, em parceria com Cassiano Sena e o DJ Dandan, o Rinha de MCs, um empreendimento que permanece ativo até hoje, visando fomentar apresentações de rap e competições de improvisação em meio a um ambiente de resistência musical urbana em São Paulo.
Djonga
O mineiro Djonga também se destaca como um dos principais expoentes do rap nacional, tornando-se amplamente reconhecido por suas canções caracterizadas por letras contundentes e repletas de análises sociais incisivas. Um de seus principais propósitos como rapper é desmontar a percepção de que o rap é um gênero marginalizado. Similarmente a Criolo, Djonga foi influenciado e inspirado pelo conjunto Racionais MC’s, mas, ao mesmo tempo, encontrou sua expressão artística por meio do funk e do rock.
MV Bill
Contrariamente aos outros rappers, MV Bill deu início à sua trajetória escrevendo sambas-enredos por volta de 1988. Somente uma década mais tarde, o carioca finalmente lançou seu álbum de estreia no rap, intitulado “Traficando Informação”. Natural e criado na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, MV Bill sempre atuou como ativista para além da esfera musical. Ele, ao lado de Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, publicou um livro de filosofia e sociologia intitulado “Cabeça de Porco”, que aborda reflexões sobre a violência urbana proveniente do tráfico de drogas, posteriormente adaptado para o documentário “Falcão – Meninos do Tráfico“, ganhando notoriedade nacional após ser exibido no programa Fantástico da Rede Globo.
Don L
Originário de Fortaleza, Gabriel Linhares da Rocha, também conhecido como Don L, é um ex-membro do grupo Costa a Costa e apresentou ao público seu primeiro álbum em 2013, intitulado “Caro Vapor/Vida Veneno”. O artista é reconhecido por sua inventividade nas letras, incorporando referências de músicas, filmes e artes, fazendo uso da ironia de forma marcante. Em 2017, lançou o disco “Roteiro Pra Aïnouz vol.3”, o qual descreve como uma trilogia narrada de forma inversa de suas experiências. “Aquela Fé”, “Eu Não Te Amo” e “Mexe pra Cam” destacam-se como as faixas mais célebres deste álbum.
BK
Nascido em 1989, Abebe Bikila Costa Santos, mais conhecido como BK, divide seu tempo entre sua carreira solo e sua participação no grupo carioca Nectar Gang. Em 2016, lançou seu álbum individual “Castelos & Ruínas”, que cativou seu público, além de engajar-se em cyphers renomados como “Poetas no Topo”, “Favela Vive 2” e “Poesia Acústica 2”. Ele figura entre os principais representantes da nova geração do rap nacional, e se você considera isso exagerado, paciência.
Rincon Sapiência
Eleito como artista do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2017, Danilo Albert Ambrosio, conhecido pelo nome artístico Rincon Sapiência, deu início à sua trajetória em 2000, porém alcançou maior visibilidade a partir de 2009 com seu single “Elegância”. Em 2016, apresentou seu maior êxito, “Ponta de Lança”, que o consagrou no cenário musical nacional.
Flora Matos
A brasiliense Flora Matos cresceu em uma família de artistas, portanto, desde cedo, estava familiarizada com os palcos. Ao estrear como MC aos 17 anos, recebeu o prêmio de melhor cantora do ano em Brasília. Ela, que já dividiu o palco com Mano Brown e vários outros ícones do rap brasileiro, constantemente desafiou expectativas e rompeu paradigmas ao se mostrar extraordinariamente feminina, mesmo fazendo parte de um meio predominantemente masculino e enérgico. Com cabelos longos, roupas curtas e maquiagem marcante, Flora demonstrou ao Brasil que o talento não deve ser julgado pela aparência. Seu álbum mais recente, “Flora de Controle”, lançado em 2021, foi produzido por profissionais de diversas regiões do Brasil, trazendo reflexões sobre o amor de maneira que cada faixa apresenta um estilo completamente distinto, justamente por não ter contado apenas com um único produtor.
Karol de Souza
Outra mulher que se destaca no cenário do rap nacional é Karol de Souza. Com autenticidade e sinceridade em suas composições, a rapper curitibana aborda a essência feminina. Em 2013, divulgou sua mixtape “Rap Até o Fim”, uma compilação de todos os seus singles apresentados até aquele momento.
Baco Exu do Blues
O baiano reconhecido como Baco Exu do Blues emerge como uma das mais recentes figuras do rap nacional. Aos seus 26 anos, conquistou renome em todo o Brasil desde o lançamento, em 2016, de sua faixa “Sulicídio”, produzida em colaboração com o rapper Diomedes Chinaski.
A canção critica o próprio cenário do rap no sudeste, especialmente nas metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo, buscando conferir maior visibilidade e apreço a um gênero musical que frequentemente é negligenciado pelos produtores. Apesar dos poucos anos de trajetória, o artista foi agraciado como Artista Revelação pelo Prêmio Multishow de Música Brasileira, e sua música “Te amo disgraça” foi escolhida como Canção do Ano em 2017.
Black Alien
Gustavo de Almeida Ribeiro, mais conhecido pelo seu nome artístico Black Alien, atua como rapper, cantor e compositor brasileiro. Gustavo estreou nos palcos pela primeira vez em 1993, e desde então construiu uma trajetória participando de projetos com artistas de diversos estilos, tais como Os Paralamas do Sucesso, Forfun, Fernanda Abreu, Raimundos, Banda Black Rio, Pavilhão 9, Marcelinho da Lua, Dead Fish, Sabotage, entre outros.
Black Alien foi integrante do Planet Hemp, conjunto que também contava com Marcelo D2, e fundou o grupo Reggae B, em parceria com o baixista Bi Ribeiro, dos Paralamas do Sucesso. Seu álbum inaugural como artista solo, lançado pela Deckdisc em 2004, foi intitulado “Babylon by Gus – Vol. 1: O Ano do Macaco”. A escolha do título é uma alusão ao álbum “Babylon by Bus” de Bob Marley.
Fabio Brazza
Fabio Brazza é um rapper e poeta que consegue harmonizar de forma única as rimas mais refinadas em um estilo hip hop, abordando letras que oscilam entre crítica social, experiências pessoais e, sobretudo, sobre o Brasil. Ao fundir ritmo e poesia, o artista apresentou seu álbum inaugural em 2014, intitulado “Filho da Pátria”.
Bivolt
Bivolt corresponde ao seu nome e frequentemente demonstra ser simultaneamente 110V e 220V. Em seu mais recente álbum autointitulado, ela proporciona uma combinação de estilos, tópicos e emoções, levando-nos a concluir na multidimensionalidade de uma artista que vem ganhando cada vez mais destaque na cena.
Matuê
As estatísticas do jovem cearense Matheus Brasileiro Aguiar, conhecido como Matuê, são capazes de despertar a inveja de qualquer artista. Presente no cenário musical desde 2016, o rapper apresentou em 2020 o seu álbum de estreia: “Máquina do Tempo”, uma obra que o elevou a um patamar inimaginável. No próprio dia de lançamento, quebrou recordes de audições em plataformas digitais, superando até mesmo Lady Gaga e Anitta.
Yung Buda
Yung Buda é um artista originário de Jundiaí que iniciou sua carreira profissional em 2016 com o álbum Yama-arashi, que seguia uma abordagem inovadora onde as rimas mesclavam o inglês com o japonês – o que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da estética do cantor. O álbum foi removido pelo próprio artista posteriormente, uma vez que ele começou a se sentir insatisfeito com a qualidade do projeto.
Um ano depois, Buda lançou a mixtape Músicas para Drift, que em seis faixas repletas de referências a video games, animes e outros elementos da cultura geek solidificaram todo o conceito e habilidade do artista. Abordando uma linguagem mais franca e intensa, Músicas para Drift não apenas introduziu alterações em sua carreira, mas também explorou temáticas que até então não eram tão abordadas no rap nacional.
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