Sob direção de Todd Phillips, em 2019 chegava aos cinemas Coringa, estrelado por Joaquin Phoenix. O longa baseado em um dos maiores vilões da DC Comics surpreendeu completamente expectadores e crítica especializada por sua profundidade narrativa e inovação. Isso, certamente, refletiu tanto em sua bilheteria chegando a um bilhão de dólares quanto nas onze indicações ao Oscar. Diante disso, o anúncio de Coringa Delírio a Dois gerou sentimentos mistos. Afinal, parte do público ansiava por ver mais da atuação brilhante de Phoenix, que lhe rendeu um merecido Oscar. Por outro lado, justamente pelo fato do primeiro filme ser tão completo em si mesmo, uma sequência soou como desnecessária e arriscada por mexer numa obra tão aclamada. Ainda na fase de divulgações sobre a sequência, os fãs receberam com receio a notícia de se tratar de um musical. Entretanto, outra informação aguçou o ânimo: Lady Gaga integraria o elenco.
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O julgamento de Arthur Fleck
O fio condutor de toda a história de Coringa Delírio a Dois é o julgamento de Arthur Fleck. Afinal, é a partir dele que surge a discussão sobre o protagonista ser culpado ou inimputável. A saber, tal inimputabilidade se basearia em uma consciência fragmentada que se divide em duas: Arthur e Coringa. Essa teoria é defendida principalmente por sua advogada Maryanne Stewart (Catherine Keener). Na interpretação da mesma, Fleck teria criado o vilão como de forma inconsciente para se defender de todos os abusos aos quais foi submetido desde a infância. Joker seria sua proteção, ele não apenas se defende, mas também se vinga, ao contrário do passivo Arthur. Assim sendo, seria essa segunda personalidade que teria cometido todos os assassinatos do filme anterior, incluindo o de Murray Franklin (Robert De Niro).
Embora não seja uma temática totalmente nova, de fato, é um assunto interessante. Porém, infelizmente, a questão não foi bem desenvolvida dentro de um roteiro bastante confuso. Muitas perguntas ficaram sem respostas mesmo entre as questões principais do filme. Isso, certamente, prejudica o envolvimento do público que se desprende da narrativa, se mantendo atento apenas à qualidade impecável das atuações.
O relacionamento com Haleen Quinzel
Outro ponto essencial para a história é a relação entre Fleck e Harleen, que no filme é chamada apenas de Lee. Inclusive, vale explicar a escolha do título: Folie à Deux é uma espécie de loucura compartilhada. Ela ocorre quando duas ou mais pessoas partilham o mesmo delírio, é uma conexão mental baseada na loucura. Dessa maneira, é o delírio de Lee que se conecta ao delírio de Arthur, no caso, ao Joker. A personagem de Lady Gaga é uma espécie de potencializador do caos, ao passo que expõe, de certa maneira, a fragilidade de Arthur Fleck comparada a imponência de Coringa.
É impossível negar que um mérito enorme de Coringa Delírio a Dois está nas atuações. Joaquin Phoenix conseguiu ser ainda mais brilhante. Os primeiros minutos do longa, a saber, apresentam uma sequência sem que o protagonista fale sequer uma palavra, ainda assim, muita coisa é dita pelo trabalho interpretativo de Phoenix. Não seria injusto um nova indicação ao Oscar de melhor ator. Lady Gaga, por sua vez, também foi impecável dando vida à Lee. De fato, a carga dramática de Haleen é menor, mas trata-se de uma personagem muito bem interpretada.
Vale a pena assistir Coringa Delírio a Dois?
O filme, assim como o primeiro, traz debates super interessantes, interpretações memoráveis, além de ser bem bonito visualmente falando. Tem problemas de roteiro, mas muito do hate que vem sofrendo é por se tratar de um musical e por se afastar demais do imaginário do vilão da DC. De fato, não é surpreendente como o primeiro longa, mas é instigante, evoca sentimentos, então vale à pena assistir.