Com todos os anúncios, teaser e trailer deixando as pessoas ansiosas pelo retorno da série, a Netflix cumpriu o prometido. A segunda temporada de “Cidade Invisível” estreou na quarta-feira, 22, trazendo de volta toda a imersão ao folclore brasileiro, de uma forma que ninguém jamais fez. Só por isso, já merece ser aplaudida de pé. Depois de uma primeira temporada aclamada, o segundo ano da série criada e produzida por Carlos Saldanha tinha tudo para ser ainda mais eletrizante, mas faltou pernas e até um pouco de criatividade.
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No ponto de partida da nossa história, temos Luna. A menina filha de Erick, agora uma adolescente, ganha contornos de protagonista principal da segunda temporada da série. Erick, através de um pacto entre a menina e a Matinta Perê (ou Matinta Pereira), brilhantemente interpretada por Letícia Spiller, consegue trazer o pai de volta. Mas de onde ? Essa é uma das perguntas que a série faz questão de não responder.
Novas lendas movimentam o principal núcleo de personagens
Erick retorna determinado a saber onde está a filha, e isso desencadeia uma série atitudes de novos e velhos personagens da série. Quem cuidou de Luna durante esses dois anos, depois da morte da bisavó, foi a Cuca. Alessandra Negrini retorna para sua Inês, menos misteriosa, e mais mentora da filha de Erick. Esse por sinal, no meio do caminho, cruza com o Menino Lobo, Bento, ótima aquisição da série, interpretado por Tomás de França, e com a Mula sem Cabeça, que é interpretada por Simone Spoladore, e que rouba a cena, é um belo apelo visual da série, que não deixa a desejar em nada para outros enlatados americanos que consumimos.
Um dos pontos que mais desagradam são tantos personagens do folclore brasileiro, sem muita explicação de quem são e de onde vem. Se você conhece, bem, senão, a série não se preocupa com explicações de origem, o que fazia muito bem na primeira temporada. A história é eletrizante, principalmente quando Erick consegue encontrar Luna, mas ela tem de pagar o prometido a Matinta, que lhe devolveu seu pai: E o preço é ela mesmo. Erick descobre que pode absorver poderes, e o faz com Bento, que acaba curado de sua “maldição”, passando seus dons para Erick.
Elenco afiado, mas com pouco tempo (ou nenhum) para o desenvolvimento
A série é compacta em todos os sentidos. São só 5 episódios de uma série que não sai do Norte do país, do Pará, pra ser mais preciso, e nem ousa muito para contar a sua história. Em paralelo a história de Erick, que acaba andando em círculo, tornando o personagem bem impopular, tem um leilão para exploração do Marangatu, um santuário sagrado, escondido, mas que o velho Lazo, que é um Zaoris, sabe entrar. Os irmãos Castro são os responsáveis pelo leilão, interessados nas riquezas do santuário. Inclusive Débora, que tem um dom bem peculiar: ela vira uma víbora, é a lenda da Boiúna, muito difundida no norte do país. A série faz alertas importantes sobre a preservação não só das florestas, mas dos povos originários, tendo o garimpo como seu principal vilão, o que não deixa de ser uma realidade retratada pela produção.
O elenco é bem variado, com atores locais, inclusive uma promotora de justiça que é uma indígena, que é interpretada por Kay Sara. E a própria Débora, que tem na sua personagem, ao longo dos últimos episódios, uma virada importante para o destino da sua história, algo que é muito bem feito pela atriz Zahy Tentehar. Ela é o grande acerto da série. Já Marcos Pigossi, Alessandra Negrini e Manuela Dieguez, Erick, Inês e Luna, perdem um pouco de espaço, e não tem evolução importante como personagens dentro da trama, até por que esta, não permite.
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O que tem de se elogiar é o espaço e a representatividade feita pela produção. Uma história no norte do país, com atores dessas regiões e papéis importantíssimos. Vide o grande plot vivido pela personagem de Débora/Maria Caninana, um dos melhores da série. A personagem se descobre parte do que tentava explorar, e consequentemente destruir, passando por um rito de reconciliação com seu eu. E atriz Zahy Tentehar dá um show de interpretação.
Série se preocupa mais com jornada espiritual
A história que é contada na segunda temporada de “Cidade Invisivel” tem início, meio e fim. A série não ousa, nem com uma trama mais ampla, talvez, por medo de cancelamento, o que impossibilitaria o fim da história ou talvez por ser só uma opção de roteiro mais compacto. Mas não quer dizer que não deixe muita coisa em aberto, inclusive retornos de personagens importantes nos seus momentos finais. Série bem produzida, com episódios bem feitos, principalmente o que abre a temporada, dirigido por Luis Carone. Efeitos práticos e especiais bem feitos. A Fotografia dos episódios é um show a parte. É importante lembrar que boa parte da primeira temporada, estávamos diante de uma série policial, e a virada de chave aqui, na segunda, é notória. Temos uma jornada espiritual.
O que fica depois do final da temporada é a sensação de que a série poderia ter ousado mais, ainda que estivesse presa ao fato de que não sabíamos o destino de Erick depois do fim da Primeira temporada. A ausência de personagens importantes da primeira parte, suas representações e lendas, para o lançamento de outros também fica mal construído, assim como a apresentação dessas lendas que são bem difundidas no norte e nordeste, mas não no restante do país. Ou do mundo. Principalmente com o aparecimento do Saci e da Cuca, nos momentos finais. O folclore brasileiro é lindíssimo, rico e variado, e é sempre bom vê-lo em produções como “Cidade Invisível”, que mais do que uma série nessa temporada, é mais um pedido de socorro ao desmatamento e preservação da natureza e de seus povos. Então, vale demais a pena, mesmo sem a excelência e o impacto da primeira temporada.
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Nós do Kolmeia, inclusive gravamos um live para o nosso canal no Youtube, sobre o que achamos da segunda temporada de “Cidade Invisível” que você pode conferir aqui mesmo, no vídeo abaixo. E claro, deixe a sua opinião. O que você achou dessa segunda temporada de “Cidade Invisível” ? Conta pra gente!