Nolan entrega um entretenimento de se tirar o chapéu
Inegavelmente, alguns fatos históricos que marcaram o século XX, como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria já foram abordados em diversos filmes. No entanto, Christopher Nolan, ao escolher fazer um longa sobre o cientista J Robert Oppenheimer, mostra que ainda há assuntos não abordados sobre o tema. E, analisando tanto a figura do pai da bomba atômica e o contexto histórico antes, durante e depois da criação da mesma, sem sombra de dúvidas, existem diversos desafios para uma adaptação. Assim, será que Nolan conseguiu dirigir bem todos os desafios que o tema apresenta? Acompanhe a nossa crítica e descubra.
Assim como o filme, começaremos na Universidade, com o jovem Oppenheimer enfrentando os desafios acadêmicos proporcionados pela física. Apesar de parecer batida a ideia de iniciar a história de um cientista num laboratório, vale relembrar um fato importante: A teoria da relatividade de Einstein. Calma! Isso não vai se tornar um texto científico. Porém, no mundo da ciência, as recentes descobertas de Einstein haviam literalmente promovido o surgimento de um novo campo nas ciências exatas: a física quântica e, com ela, todos seus avanços e incertezas.
Oppenheimer lida com as linhas do tempo de forma mais sutil graças atuação do elenco
Com isso, os primeiros atos do filme colocam a audiência a bordo desta viagem pelo olhar de um cientista dedicado, curioso e próximo de outros cientistas que admira. Conseguimos sentir tudo isso graças à atuação espetacular do ator Cillian Murphy, pois, através das suas expressões, identificamos os três momentos que o filme se passa: Projeto Manhattan, pós guerra e defesa da sua reputação diante do governo americano. Aliás, diferentemente de Dunkirk, em Oppenheimer, as linhas do tempo são exploradas de uma forma sutil, mas não a ponto de gerar qualquer dúvida a qual tempo se passa graças ao elenco.
Por falar em elenco, Robert Downey Jr, Emily Blunt e Matt Damon ajudam e muito a marcar qual linha do tempo está sendo retratada. Começando por Robert Downey Jr, que dá vida a Lewis Strauss, tem aqui o papel da sua carreira e não ficaria surpreso se rendesse uma indicação ao Oscar. Durante o longa, vemos a construção do antagonismo de uma forma tão sutil que, ao terminar o filme, temos uma visão completamente diferente do mesmo personagem a ponto do espectador se perguntar: – Como a gente não percebeu?
Outro ator que se destacou foi Matt Damon, que interpretou o tenente-general Leslie Groves e diretor do Projeto Manhattan. Apesar das discussões políticas serem uma das partes densas do filme, Damon, por incrível que pareça, conseguiu trazer um certo alívio cômico e também seriedade quando era necessário.
Já Emily Blunt, que foi subaproveitada no filme, tem uma uma cena memorável no último ato do filme que faz todos ficarem de queixo caído por conta da versatilidade que ela conseguiu entregar em poucos minutos. Sem contar diversas outras aparições durante a trama, onde mesmo em poucos minutos sua presença não passava despercebida.
Christopher Nolan utiliza o Imax de uma maneira que o torna um personagem do filme
Não podemos esquecer que a utilização do Imax nesse filme transforma tecnologia em um quase personagem. Para se ter uma ideia, pela primeira vez, temos uma adaptação da tecnologia para filmagens em preto e branco. Assim, seguindo a lógica em que cenas coloridas retratam uma visão subjetiva, enquanto as sem cor, algo mais próximo da realidade, Nolan conseguiu captar desde as micro expressões dos personagens em todas as cenas, até a Vila de los Alamos, a imensidão do deserto do novo México e a explosão da bomba num grau de detalhe absurdo.
O som também foi outro quesito extremamente importante para a construção do ambiente do filme. Hans Zimmer apresenta uma trilha sonora que faz a plateia ir desde uma empolgação de um projeto concluído, até a aflição de um interrogatório. Sem contar a edição de som, que tem um efeito tão poderoso que o impacto sonoro da bomba vai testar o limite de isolamento acústico das salas de cinema.
Apesar de um detalhe negativo, aqui vai a nossa crítica
Talvez o único ponto negativo do filme seja a sua duração, pois infelizmente alguns arcos narrativos foram tão bem explorados no início do filme que quando os temas retornam no último ato, dão uma sensação de redundância. Mas nada que possa diminuir a qualidade da experiência do filme. Portanto, sem sombras de dúvidas, esse foi um dos melhores projetos que Christopher Nolan já executou, mostrando que o diretor continua num patamar diferente dos demais colegas.