Guardiões da Galáxia 3, certamente, é um filme que tem coração. Inclusive, a emoção é marca registrada de toda trilogia de James Gunn. Além disso, numa equipe com tantos integrantes, é comum que o carisma de uns engula outros, mas não aqui. Apesar de sete integrantes no grupo, o ´público consegue se conectar emocionalmente com cada um deles. Assim, a vida dos heróis é uma preocupação que faz os espectadores estarem submersos na história durante todo o tempo. E, dessa vez, mais especificamente, Rocket é o cento das atenções.
Curiosamente, a trilogia que mais faz chorar também é a que mais faz rir. A inocência de Groot e Mantis, os diálogos constrangedores de Drax, as brincadeiras levemente sádicas de Rocket, a inabilidade de Nebulosa em demonstrar afeto e a imaturidade de Quill são detalhes que a gente espera a cada nova aparição dos Guardiões. E Guardiões da Galáxia 3 mais uma vez entregou tudo isso. É impressionante o modo como James Gunn nos faz rir e chorar com a mesma intensidade.
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A última trilha sonora dos Guardiões da Galáxia
James Gunn é conhecido por entregar trilhas sonoras tão marcantes que que repercutem tanto quanto a própria história. Como prova disso, os Awsome Mix volumes 1 e 2 fizeram um sucesso estrondoso. Certamente, com guardiões da Galáxia 3 não seria diferente. Assim, temos quase um espetáculo musical dentro do longa e totalmente conectado com a trama.
Toda a trilha sonora dos dois primeiros filmes é de músicas lançadas entre os anos 60 e 70, época da juventude da mãe de Peter Quill. Para se ter ideia, a música mais recente dos Awsome Mix volumes 1 e 2 é Escape (The Piña Colada Song), de Rupert Holmes, de 1979. Expandir a trilha pras décadas posteriores, casa com a história dos Guardiões, já que Yondu deixou um Zune com 300 músicas pro Peter Quill. No entanto, esse avanço na trilha sonora também fala sobre futuro, sobre acertar de vez as contas com o passado e seguir em frente.
De todos membros da equipe, Rocket é o único que chegou ao terceiro filme sem contar sua história. Essa viagem dilacerante ao passado do Guaxinim era o passo final para exorcizar os traumas e guardar apenas o que merece ser guardado. E já nas cenas iniciais a trilha sonora nos aponta esse caminho.
Um oponente para Rocket Raccoon
Rocket tem uma construção fantástica e um dos melhores desenvolvimentos, não só de Guardiões da Galáxia, mas do MCU. A transformação do inescrupuloso guaxinim no pai amoroso de Groot, de modo algum soou forçada ou inconsistente. Porém, ainda era importante resolver as pendências da história não contada da “Lebre” e conhecer a pessoa por detrás dos traumas. Para um personagem com um nível tão alto, era preciso um opositor à altura.
O vilão era, com certeza, um dos pontos de expectativa do público. Convenhamos que, se a trilogia tem um ponto mais fraco, é na construção dos antagonistas. Ronan era um capanga medíocre de Thanos e Ego era mais caricato do que precisava. Dessa vez, porém, somos apresentados ao excelente Alto Evolucionário. Trata-se de um personagem que decide brincar de deus e criar uma sociedade perfeita, mesmo que o preço para isso custe milhões de vidas. Ele não poupa tortura e experiências necessárias ao seu objetivo. Tão pouco aceita que alguém possa superá-lo em inteligência. Além da premissa do vilão, a interpretação de Chukwudi Iwuji carrega o Alto Evolucionário para a galeria de antagonistas memoráveis do MCU
O fim é só o começo
Uma característica peculiar dos filmes da Marvel é que o público não analisa apenas o filme em si, mas o que ele acrescenta no MCU. Assim sendo, as expectativas giravam em torno da despedida dos Guardiões, mas também de promessas de futuro. A aguardada aparição de Adam Warlock, se juntava ao clima de despedida de James Gunn.
Porém, Guardiões da Galáxia 3 é tão envolvente que cada cena entrega um experiência em si própria. Dessa forma, o público solta um pouco essa lógica de quebra-cabeça. Isso não significa que o filme seja descartável na nova saga do MCU, ao contrário, há acréscimos importantes. Mas, Quantumania, por exemplo, pecou por tentar ser uma peça na estrutura e acabou se tornando um filme sem alma. É exatamente o contrário do que vemos aqui. guardiões da Galáxia 3 é 100% alma. Para quem acha que vai chorar no final do filme, um spoiler: talvez você chore bem mais.