Na quinta, 6 de julho, o Centro Cultural Correios RJ inaugura a primeira exposição individual institucional da artista visual carioca Fernanda Sattamini. Com curadoria de Bruna Costa, a mostra apresenta mais de 30 obras, sendo a maior parte delas inédita. As técnicas são diversas: cianotipias, trabalhos em técnica mista sobre papel, cerâmicas e fotografia.
A cianotipia é uma técnica de fotografia artesanal do século 19, que a artista explora há alguns anos. O processo utiliza compostos de ferro que quando misturados se tornam sensíveis à luz, produzindo cópias de tons azulados. Não é necessário o uso de equipamento fotográfico e é explorada a plasticidade do material sensível à luz.
“A Cianotipia me encanta por ser um processo totalmente artesanal, feito com a luz do sol ao ar livre. É um outro tempo que eu me permito, de trabalhar junto com a natureza”, conta a artista. “O resultado é de um azul profundo, uma cor muito presente no meu universo e na minha paleta de cores, que dialoga com a imensidão e as profundezas do mar, com a cor do céu e o infinito no espaço”.
A artista imprime suas imagens em tecidos leves e fluidos, sem acabamento ou costuras, e que são dispostos no espaço por fios de nylon. As peças ganham presença no mundo e flutuam, sendo simultaneamente matéria presente e resíduo processual. Submetidos às condições de ventilação do espaço, soltos fazem sua dança com o vento.
Já a cerâmica é um processo incorporado mais recentemente à sua pesquisa e produção artística, com peças em formas orgânicas e uma paleta de cores quentes. “Estava sentindo necessidade de trabalhar com a argila e fui para cerâmica investigar esta experiência. É tão delicioso trabalhar o barro, um deleite tão grande que naturalmente fui me encantando por essas formas mais orgânicas e sinuosas. O processo também é cheio de surpresas: depois da queima é que se vê como a argila trabalhou, como o esmalte escorreu e a mistura das cores. Adoro ter uma surpresa quando a peça sai do forno. Gosto de produzir com o inesperado, sem muito controle do processo”.
Segundo a curadora Bruna Costa, “O trabalho de Fernanda Sattamini preza pelo tempo, pela artesania e por essa dose de imprevisibilidade. Suas cianotipias são feitas ao ar livre, com a luz do sol, incontrolável e certamente mutável. A cerâmica também é viva – nada se sabe depois que a peça entra no forno. São técnicas que são possíveis de aprender a dominar, mas a artista tem compromisso com o fortuito. Enquanto a lógica do progresso preza pelo controle máximo da mão humana, a arte se abre ao inesperado, à vida. Não à toa, o corpo é motor da obra – corpo que é cheio de possibilidades, mas também de limitações. Somos carne e osso na matéria, mas podemos ser terra e água na poesia”, explica
A mostra “Meu corpo de terra e água” fica em cartaz até 19 de agosto, no Centro Cultural Correios RJ, com entrada gratuita e classificação indicativa livre.
SOBRE A ARTISTA:
Fernanda
Sattamini (1976) é artista visual, vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Sua produção e pesquisa explora processos empíricos, analógicos
experimentais, alternativos e manuais. Combina diferentes técnicas e
práticas artísticas, como fotografia, gravura e objetos. Com um olhar
voltado aos detalhes efêmeros, desenvolve uma poética intimista
através de imagens e anotações íntimas, que trazem em si um discurso
do pessoal e de contemplação melancólica. Formada em publicidade e
marketing, trabalhou em agências de comunicação e empresas, teve sua
formação artística na EAV Parque Lage – em diversos cursos com
artistas como Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Iole de Freitas,
Charles Watson, João Carlos Goldberg, entre outros – no extinto Ateliê
da Imagem e diversos outros cursos e grupos de estudo, no Rio de
Janeiro.
SOBRE A CURADORA:
Bruna Costa (Rio de
Janeiro) é historiadora da arte, curadora e professora. Formada em
História da Arte pela Escola de Belas Artes da UFRJ com período
sanduíche na Sapienza University of Rome, na Itália, e mestre em Artes
Visuais pelo PPGAV/UFRJ, com pesquisa sobre cor e cultura material em
Hélio Oiticica. Atua em curadoria e pesquisa para projetos de arte e
exposições, com destaque para a co-curadoria do “Abre Alas 18” da
galeria A Gentil Carioca (2023), do “Salão Vermelho de Artes
Degeneradas” do Atelier Sanitário (2019 e 2021) e de “Zil Zil Zil” no
Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (2022). Coordena o ateliê do
artista Ernesto Neto. Ministrou cursos livres no SESC Rio e escreveu
para periódicos como A Palavra Solta e a e-revista Performatus.
SERVIÇO:
Local: Centro Cultural Correios RJ
(Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro – RJ)
Visitação: de 6 de julho a 19 de agosto
Horário: terça a sábado, das 12h às 19h
Entrada: gratuita
Classificação: livre