Consolidado por duas décadas como um dos maiores gênios da música, Kanye West acumula diversas polêmicas fora dos palcos. O controverso rapper já passou por um divórcio conturbado com a empresária, modelo, atriz, influenciadora e socialite norte-americana Kim Kardashian, com quem tem 4 filhos. Além disso, possui uma lista extensa de inimizades, incluindo nomes fortes da indústria, como Drake, Wiz Khalifa, e Jay-Z. Aliás, quem não se lembra do VMA 2009, em que Kanye invadiu o palco para contestar o prêmio que a jovem Taylor Swift tinha acabado de receber? Felizmente, essa inimizade foi resolvida anos depois no Grammy 2015. Porém, foi na saudade da sua falecida mãe que o rapper tirou forças para produzir seu 10° álbum de estúdio. Donda, uma linda homenagem com a cara e elementos que apenas Kanye West poderia trazer para essa obra, seja para o bem ou para o mal.
Donda foi a força e muitas vezes o pilar de Kanye West
É muito provável que a perda da mãe seja uma das maiores dores que uma pessoa pode sentir. Afinal, é um momento em que você se sente impotente, sem vontade, desarmado, fraco, sozinho. Foi dessa forma “sem rumo” que Kanye West se sentiu ao perder Donda West, seu pilar emocional. A saber, Donda faleceu em 2007 vítima de complicações após uma cirurgia plástica, aos 58 anos de idade. Ele que tinha todo o suporte de sua mãe em todos esses anos de turnê, teve que lidar, ainda jovem, com a falta desse elo emocional que controlava o então “passivo” Kanye dentro de seu casulo. Depois dessa tragédia, as coisas só ficaram mais confusas na cabeça do astro. Isso acabou refletindo nas atitudes do rapper, protagonizando entrevistas sinuosas, nas quais revelou que acredita que a morte de sua mãe foi parte de um grande plano de Hollywood.
A essa altura Ye (como gostaria de ser reconhecido legalmente) estava mergulhado em decisões que afetam sua carreira. Assim sendo, tornou-se uma figura pública controversa, tomando as mídias de comunicação quase toda semana. Em sua maior ambição chegou a ser candidato à presidência dos Estados Unidos em 2020, recebendo 60 mil votos ao todo. Kanye West encontrou no cristianismo uma forma de se reconectar com seu “eu” novamente. Assim, colocou um “fim” ou um possível controle nesse personagem que ele tinha criado, tão cheio de rancor e mágoa com a vida.
Em Jesus is King, seu álbum anterior lançado em 2019, ele fez muito bem essa transição com a música gospel. Apesar de não ser um trabalho lembrado pelos fãs como algo memorável, o álbum ajudou muito espiritualmente o rapper. Mas, e depois do batismo de Kanye West, o que viria?
Donda e a “pós conversão“ de Kanye West
O lançamento de Donda estava marcado para julho de 2020. No entanto, seu nome seria outro, God’s country que já tinha dois singles naquele mesmo ano, Wash Us In The Blood e Nah Nah Nah. Era um ano complicado para o lançamento do álbum devido a controvérsias bem pesadas envolvendo campanha presidencial. Além disso, havia acusações envolvendo sua esposa Kim Kardashian, somadas às crises constantes de bipolaridade.
Quando o álbum finalmente foi lançado, em agosto do mesmo ano, nas diversas plataformas de áudio, Kanye West acusou a gravadora de ter liberado sem sua permissão. No instagram, West escreveu “Universal lançou meu álbum sem minha aprovação e eles bloquearam “Jail 2″ de estar no álbum”. A explicação para a retirada da música era porque o rapper e compositor DaBaby estava envolvido na música. A saber, o mesmo teve seu show no Lollapalooza Chicago cancelado por conta de uma série de comentários homofóbicos feitos por ele no festival Rolling Loud.
Como se não bastasse Kanye West chamou outro “cancelado” da internet para participar da mesma música, Marilyn Manson. O caso de Manson é ainda mais complicado, sendo acusado de estupro, assédio físico, moral e sexual, pedofilia, e até cárcere privado de mulheres. Ambos os artistas apareceram em uma das 3 audições que Ye fez para o álbum Donda recebendo duras críticas pela atitude de dar voz aos “cancelados. Depois de um tempo a faixa foi disponibilizada normalmente.
Fonte: Apple MusicLeia também: Primavera Sound 2023 | The Hives Mais Vivo do que Nunca
Análise do álbum
Com 1h44m de duração, Donda já abre com a faixa Donda Chant de maneira literal mostrando que as emoções do rapper ficariam evidentes. A música ecoa durante 52 segundos o nome da mãe de Ye. Não só de participações polêmicas vive o álbum, e o glorioso The Weeknd mostra as caras na Hurricane, entregando um sermão quase angelical, com tons obscuros e um órgão no fundo de arrepiar. A força da música chega com Kanye West soltando seu poderoso verso e consagrando essa que é uma das melhores faixas do álbum.
Seguimos com Jail, e quem diria, uma música com atmosfera Rock capitaneado pelo Ye e toda a categoria de Jay-Z, aqui o nível sobe, quebrando as portas do céu com guitarras pesadas. O trap de Off The Grid com os energéticos Playboi Carti e Fivio Foreign te mostram o porquê dessas músicas criarem a melhor sequência de um álbum daquele ano.
O lado gospel de 24, música calma que deixa claro uma certa homenagem a Kobe Bryant (o jogador do Los Angeles Lakers usava a camisa 24 na NBA), que faleceu após um acidente de helicóptero. Aqui o coro e o órgão vem juntando lembranças e nos faz pensar como é realmente bom ouvir o Kanye cantar. Todos os dias antes de dormir as pessoas deveriam ouvir Moon, a faixa dessa dupla (Kid Cudi e Kanye) que não precisava provar mais nada, mas que entregou uma das músicas mais lindas desse século.
Outras composições de Donda
Mais para o fim do álbum com, Keep my spirit alive, Jesus Lord (criticando o sistema carcerário americano) e New again (com mais uma participação polêmica, dessa vez com Chris Brown, que coleciona acusações de agressão da ex-namorada, Rihanna) Kanye reuniu seu momento louvor do álbum.
Algumas músicas levam o álbum para o seu ponto mais baixo, Ok Ok, Remote Control e Junya trazem um Kanye West sem inspiração nas letras ou até mesmo no arranjo que o artista tem como ponto alto em sua carreira. O que é uma pena, pois, como já destaquei, algumas músicas desse álbum te levam para uma experiência pessoal de um artista como nenhum outro trabalho já te levou, com momentos de genialidade surreais.
Kanye West, o maior pecador em busca de perdão.
Em paz com seu lado espirituoso e com a fé renovada, Kanye West entrega em seu 10° álbum uma experiência de contato íntimo com a figura do rapper mais polêmico e controverso de seu tempo. Entender a mente dele é mergulhar em seus traumas e ouvir suas obras como uma forma de manifestar toda sua angústia acumulada durante toda sua vida. Seja você defensor da genialidade de West, ou um crítico da forma como a figura pública do cantor fica em evidência a todo momento na mídia (porque se tem uma coisa que Kanye West gosta, é dos holofotes), não se pode negar que para a indústria musical ele ainda é, e sempre será o maior rapper/produtor de seu tempo. Kanye West não para de surpreender, e Donda é mais uma prova disso, para a tristeza de quem não gosta dele.