O lançamento do novo álbum da banda Kings of Leon, intitulado “Can We Please Have Fun”, marca mais um capítulo na já extensa discografia dos rockeiros de Nashville. Conhecidos por sua trajetória que vai desde os sons crus e sujos dos primeiros álbuns até o polimento radiofônico dos sucessos mais recentes, a banda se encontra em um ponto peculiar de sua carreira. No entanto, a questão que fica é: a banda conseguiu de fato trazer algo novo ou simplesmente revisitou fórmulas passadas?
Redescobrindo a Criatividade
“Can We Please Have Fun” parece, em muitos aspectos, um esforço consciente para se reconectar com a essência criativa da banda, talvez impulsionado pelo impacto pessoal e emocional da morte súbita da mãe dos irmãos Followill em 2021. Este evento trágico é citado como um catalisador para uma renovação do propósito criativo da banda. A leitura do livro “The Artist’s Way” de Julia Cameron, que inspirou artistas como Alicia Keys e Martin Scorsese, ajudou os membros da banda a redescobrir a alegria na criação musical.
A produção, desta vez nas mãos de Kid Harpoon, conhecido por seu trabalho com Harry Styles e Florence and the Machine, trouxe um frescor desejado. A expertise de Harpoon é evidente em faixas como “Ballerina Radio” e “Actual Daydream”, onde os elementos de garagem e a tensão twangy que caracterizaram o auge da banda são revisitados com uma precisão afiada. Há uma clareza na mixagem que destaca a madeira seca das baquetas de Nathan e as vibrações metálicas da guitarra de Jared.
No entanto, ao ouvir o álbum em sua totalidade, fica evidente que apesar da tentativa de inovação, muitos dos temas e sonoridades parecem um déjà-vu dos trabalhos anteriores. Faixas como “Mustang” e “Nothing to Do” pagam homenagem às raízes do rock’n’roll da banda, mas não conseguem se distanciar da estética synthwave que dominou o álbum anterior, “When You See Yourself”. O resultado é um híbrido estranho que não satisfaz plenamente os fãs da era arena rock nem os nostálgicos do início mais cru e garageiro da banda.
O álbum abre com a enérgica “Mustang”, onde Caleb Followill canta com um vigor que desafia a monotonia de alguns trabalhos anteriores. A pergunta provocativa “Are you a Mustang or a kitty?” traz uma vivacidade nova à voz do vocalista, mas logo o álbum retorna a terrenos mais familiares. “Ballerina Radio” é um dos momentos mais sombrios e introspectivos, refletindo um masoquismo cotidiano, enquanto “Rainbow Ball” oferece uma linha de cordas bonita que se mistura a um bounce borrachudo, mostrando que a banda ainda pode criar momentos de beleza e introspecção musical.
Memorabilidade em Falta
Há, no entanto, uma falta de memorabilidade em várias faixas, um problema persistente que tem afligido a banda desde “Mechanical Bull”. A sonoridade, apesar de bem executada, muitas vezes se perde em um mar de fórmulas já testadas, e as letras criptográficas de Caleb nem sempre conseguem criar uma conexão emocional forte com o ouvinte. “Seen”, com sua influência shoegaze, talvez seja o ponto alto do álbum, demonstrando um crescendo bem elaborado e melodias cativantes, mas ainda assim, é uma exceção em meio a uma coleção de músicas que lutam para deixar uma impressão duradoura.
Conclusão
“Can We Please Have Fun” é um álbum que, apesar de seus momentos brilhantes, ainda carrega o peso das expectativas e do passado da banda. A produção caprichada de Kid Harpoon e a habilidade técnica dos membros da banda garantem que o álbum seja, no mínimo, agradável, mas a falta de inovação significativa pode frustrar tanto os fãs antigos quanto os novos. Kings of Leon se encontra em um dilema, preso entre a necessidade de evoluir e o desejo de reconectar com suas raízes. Em última análise, enquanto “Can We Please Have Fun” oferece momentos de diversão, ele não consegue se libertar completamente das sombras de seus predecessores, deixando-nos com a esperança de que os próximos trabalhos tragam uma evolução mais ousada e memorável.
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