No sábado, 18 de março, a Z42 Arte inaugura uma exposição individual de Marina Ribas, artista carioca com 20 anos de carreira na arte contemporânea brasileira, chamada “Nada é de novo”. A exibição ocupa o térreo do casarão no Cosme Velho, com trabalhos inéditos produzidos ao longo dos últimos três anos.
Icônico na história da arte, o ovo é um elemento presente na trajetória de grandes artistas brasileiras: Anna Maria Maiolino, Celeida Tostes, Lygia Pape, Regina Vater e a escritora Clarice Lispector. Como nada é “de novo”, Marina Ribas explora com sua linguagem poética este símbolo. Desde pequenos ovos produzidos um a um à mão, passando por esculturas totêmicas, grandes formatos em pinturas até registros de inserções não permitidas realizadas pela artista fora do país.
Em “Ninhos vazios”, cipós e troncos de podas são justapostos a hastes metálicas, criando circuitos. As peças de grandes dimensões têm relação direta com a parede, falando da linha e a sua projeção sobre o espaço real. O ninho vazio em escala menor se sustenta por si só; mais escultórico, traz a questão da volumetria através da massa.
Já na série “Endométricos”, Marina Ribas apropria-se de espumas de grandes dimensões e trabalha o acúmulo e o esvaziamento de matéria sobre elas. A saturação é evidenciada por volumosos borbulhantes, que crescem e se proliferam pela superfície esponjosa. Uma das obras que se destaca é um quadro preto de 3,1 x 2 metros, feito a partir de uma espuma cinza. “Introduzi mais preto sobre uma corporeidade. A espuma é uma estrutura com profundidade e densidade. Acumulei sobre ela mais matéria e pigmento preto, criando fissuras, indo além do gestual do pincel: é também um trabalho de esculpir. É uma pintura escultórica; um relevo”, explica a artista, autora de “Nada é de novo”.
A série “Oco Maciço” dá uma continuidade à corporificação da exposição, desta vez relacionando os volumes disformes e esponjosos a elementos arquitetônicos e geométricos, através de empilhamento. O barro, presente na história da humanidade desde os tempos imemoriais, reforça a ideia de se repensar o passado.
Outros trabalhos trazem uma dinâmica de opostos complementares, protagonizados por um díptico: dois grandes quadros brancos com ovos em baixo e alto relevo. Este jogo do côncavo e convexo se desdobra em outras obras de escalas variadas, onde casca e conteúdo dialogam entre si, tomando como discurso o “dentro” e o “fora”.
Uma parte da exposição vai exibir registros fotográficos de uma série de intervenções não autorizadas, em que a artista espalhou seus ovos por estátuas femininas antigas de cidades italianas e francesas. Apesar do mimetismo, não se trata de uma integração, mas de uma provocação. Os ovos marcam a ausência da artista mulher nesses contextos, onde a história da arte foi até pouco tempo predominantemente masculina.
Em vídeo, estão registradas as ações em que Marina Ribas coloca seus ovos em espaços contemporâneos como no pavilhão da Espanha na Bienal de Veneza, Palazzo Manfrin (atual fundação do artista Anish Kapoor), a filial italiana da galeria Gagosian, o Instituto Burri, o Museu George Pompidou e Palais de Tokyo, questionando a ausência ou não pertencimento feminino no mercado da arte.
Por fim, a artista apresenta o múltiplo “nada de nOvo”, onde a manufatura dos ovos em porcelana fria discute a dualidade entre o individual e o coletivo. Apesar de quase idênticos, são todos únicos.
Numa das salas, os ovos pretos ocupam uma parede em linha reta, como
se flutuasse. Aqui, o inesperado se apresenta no apoio vertical, criando visualidades fora do comum. A obra também fala de repetição do ponto no espaço e sua relevância.
Para que o colecionador e o público em geral possa fazer sua própria inserção, a artista disponibiliza caixas de meia dúzia de ovos para venda – cada uma por R$ 600,00 – com quatro opções de tom. As obras vêm acompanhadas de certificado de autenticidade assinado pela artista.
Leia também: Museu da República apresenta exposição “Gabriela Noujaim – Resistência Latinamérica”
Sobre a artista
Marina Ribas é carioca e tem 44 anos. É formada em Desenho Industrial na PUC-Rio e estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com Charles Watson, João Carlos Goldberg, Ivan Pascarelli, Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger e ao longo de nove anos com Iole de Freitas. Também se aprofundou em História da Arte com Rodrigo Naves.
Marina fez duas exposições individuais com curadoria de Fabio Szwarcwald, ex presidente da EAV e ex-diretor do MAM-Rio, com texto crítico do curador Ulisses Carrilho; além de coletivas no Espaço OASIS e Casa Carambola – onde já possuiu atelier e foi artista residente – e em espaços institucionais como Casa França-Brasil, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Centro Cultural Correios e Centro Cultural Municipal do Parque das Ruínas.
Em 2020, diante do desafio pandêmico de exibir as obras em espaços físicos, deu início ao projeto da Galeria Paralela no formato “figital” – junção de “físico” com “digital” – uma oportunidade híbrida de realização de exposições.
SERVIÇO:
Título: “Nada é de novo”, de Marina Ribas
Texto crítico: Patrícia Borges
Local: Z42 Arte
Abertura: 18 de março, às 17h
Período expositivo: até 18 de abril de 2023
Horário: de segunda a sexta, das 11h às 16h. (sábados, sob agendamento)
End: Rua Filinto de Almeida, 42, Cosme Velho – Rio de Janeiro
Entrada franca