Após nos presentear com obras como “Corra”,”Nós” e a série “LoveCraft Country” (HBO), finalmente conferimos o longa Não! Não Olhe! de Jordan Peele. O filme consegue fluir pelos gêneros de Velho Oeste, programas da década de 80, fenômenos bizarros, extraterrestres, terror e, claro, críticas sociais. Geralmente, quando há muitos temas permeando o roteiro, a chance de um desastre total ou de uma obra prima correm lado a lado. Portanto, nos próximos parágrafos, vamos descobrir para qual lado da moeda essa obra correu.
Seguindo a mesma escolha narrativa de “Kill Bill” e ‘O Esquadrão Suicida’, Não! Não Olhe! possui pequenas divisões, tal qual capítulos de um livro ou episódios de uma série. Já na introdução, o diretor conduz a audiência para três arcos narrativos completamente distintos. O primeiro deles envolve o personagem Ricky “Jupe” Park (Steven Yeun – The Walking Dead), o segundo retrata os irmãos OJ (Daniel Kaluuya – Corra e Judas e o Messias Negro) e Emerald Haywood (Keke Palmer – True Jackson e Alice) e no terceiro surge o personagem Angel Torres (Brandon Parea). E o mais fantástico disso tudo é que os três arcos, em um determinado ponto do filme, conseguem se tornar um só de uma forma fantástica.
Depois da introdução dos personagens, somado ao mix de acontecimentos ditos acima, o filme entra de vez no clima de suspense e terror. Diferentemente de alguns filmes alienígenas das décadas de 80 e 90, que, ou mergulhavam desde do início no fator medo do desconhecido, ou passavam boa parte da trama preparando o espectador para o susto final, aqui a escolha não foi essa. O clima de que algo assustador está para acontecer vai se construindo aos poucos e te convida a investigar junto aos personagens o que de fato está acontecendo.
Confesso que, por vezes, estava esperando um roteiro clichê, com explicações rasas. No entanto, ao seguir pelo caminho investigativo que leva as perguntas de ‘O que?’, ‘Onde?’ e ‘Por quê?’ as respostas que o roteiro devolve são surpreendentes em diversos níveis. Outro ponto impressionante são as reações de cada personagem aos acontecimentos do filme. Embora estejam lidando com algo extremamente complicado de explicar e bem perigoso, as reações são, de uma certa forma, coisas que muitos de nós, caso fossemos enfrentar algo similar, teríamos feito. Neste longa, as ações dos personagens estão de acordo com as características apresentadas na introdução. Em outras palavras: não se tratam de ações que, ao assistir, você daria um tapa na testa com reprovação.
Conselho! Preste atenção em todos os elementos do filme, principalmente nos cenários, pois tudo está ali o tempo todo.
E antes de concluir este texto, obviamente Jordan Peele não deixou de fazer suas críticas sociais. A primeira delas vem logo nos primeiros minutos dos filmes e envolve a história dos dois irmãos e o primeiro frame feito de forma cinematográfica. Já a segunda vem de forma quase imperceptível para muitos, porém bem feita. Ao olhar para os protagonistas, vemos atores negros, latinos e asiáticos nos principais papéis de destaques, enquanto os causacianos estão apenas no elenco de apoio durante todos os arcos e tramas desenvolvidas no filme.
Portanto, respondendo o questionamento do primeiro parágrafo, Não, Não Olhe! apresenta um roteiro ousado que, ao misturar diversas temáticas, chega no limite de se tornar um fracasso, contudo, essa ousadia o torna uma obra prima que será lembrada por muitos anos.