No auge da temporada de blockbusters, temos “Twisters”, a continuação do filme de 1996 que impactou o público pelas sequências de destruição causadas por tornados, um tema bem pouco explorado pela indústria do cinema até então. Mas será que este novo filme consegue se destacar em meio à saturação de sequências e universos expandidos? A crítica do Kolmeia te convida a descobrir.
Seria um retorno justificado ou mais um filme para fazer bilheteria
Algo que Hollywood precisa se perguntar antes de fazer projeções numéricas para agradar investidores é quais filmes realmente valem a pena o custo de produção, pois mesmo com uma possível ajuda de inteligência artificial e uma série de pessoas experientes na tomada dessa decisão, vimos muitas sequências que serviam para arrancar dinheiro dos fãs ou para aumentar futuramente o catálogo dos streamings. Posso garantir que não é o caso de “Twisters”, pois, assim como “Jurassic World” e “Top Gun Maverick“, sequências após um longo hiato são bem-vindas porque o mundo mudou e algumas lições precisam ser relembradas.
Por exemplo, a premissa do filme original era a saga de alguns cientistas de campo com uma missão de tentar, pela primeira vez, escanear a estrutura interna de um tornado a partir de um dispositivo chamado “Dorothy”, que liberava vários sensores do tamanho de bolas de tênis, para assim compreender melhor esses fenômenos.
Já em “Twisters”, a ciência já evoluiu tanto que o rastreamento de tornados é algo tão comum que as possíveis rotas deles são mostradas nos telejornais. O problema é que o cenário mudou drasticamente. Afinal, na segunda década do segundo milênio, os furacões estão cada vez mais imprevisíveis, algo que não está tão longe da realidade. Porém, aqui está o primeiro ponto negativo de “Twisters”: ainda que as mudanças climáticas apareçam com frequência nos nossos telejornais, o filme parece ter vergonha de dizer que essa pode ser a causa das mudanças nos tornados, algo que exaltaria sua premissa que está na possibilidade de criar um artifício capaz de parar um ciclone baseado em estudos científicos. Aliás, boa parte dos elementos citados acima é posta na tela já nas primeiras sequências do longa. Inclusive, tanto a “Dorothy” quanto um tornado F5 (o pior de todos) são jogados na sua cara, logo nem pense em chegar atrasado.
Twisters apresenta efeitos especiais ainda mais imersivos
Um dos grandes trunfos de “Twisters” reside em seus efeitos visuais impressionantes. As cenas de tornados são de tirar o fôlego, transportando o espectador para o coração da tempestade. A tecnologia moderna permite criar efeitos cada vez mais realistas, o que o torna nesse aspecto naturalmente superior ao filme original. Com disse anteriormente, apesar de “Twister” ter impressionado a audiência ao mostrar tornados, aqui temos esse tecnologia ainda mais apurada a ponto de ter uma cena onde fogos de artifícios explodem dentro de um deles.
Não só isso, há um detalhe maior na dinâmica dos tornados. Apesar de impressionantes, no primeiro filme, em sua maioria, os objetos eram sugados e ficavam girando em círculos no ar e os tornados se assemelhavam a uma montanha de fumaça invertida. Em Twisters, os vemos objetos voares nas mais varias direções, as colisões produzem deformações mais nítidas e conseguimos fazer distinções entre os tornados e suas intensidades.
Personagens Cativantes e Relações Complexas
Diferente de alguns filmes de ficção científica, onde o elenco tem o mesmo carisma de uma foto de um jantar formal da década de 20, temos personagens dos quais conseguimos criar uma conexão do momento em que eles aparecem na tela. A atriz Daisy Edgar-Jones interpreta Kate, uma pesquisadora de tornados brilhante e destemida. Em Oklahoma, ela persegue tempestades furiosas, com um dom quase mágico para prever onde elas irão surgir. Ela também é assombrada por um evento terrível mostrado nos primeiro minutos da obra, logo Kate sabe, o quanto os tornados podem ser devastadores. Sua mãe, interpretada por Maura Tierney, enfatiza que, hoje em dia, os tornados são ainda mais frequentes e perigosos.
Kate recebe apoio do líder do projeto, Javi (Anthony Ramos – Em um Bairro de Nova York), que compartilhou o mesmo evento terrível, logo ambos estão conectados pelo sentimento de dever e culpa. Contudo, a harmonia entre os dois é abalada pela entrada de Tyler, um caçador de tempestades despreocupado e movido pelo prazer e pela adrenalina, cujo único objetivo parece ser acumular milhões de visualizações no YouTube. Interpretado por Glen Powell, Tyler se encaixa perfeitamente no papel de galã de Hollywood. Como não poderia faltar aquele personagem babaca, temos o parceiro de negócios de Javi, Scott (David Corenswet – vulgo próximo Superman), que trata o time de Tyler como “caipiras com canal no YouTube”, e por vezes também se mantém cético aos conhecimentos de Kate.
Direção Sensível e Roteiro Coerente
O filme conta com a direção de Lee Isaac Chung (Minari – 2020). Em “Minari”, sua ligação íntima com o interior dos Estados Unidos trouxe uma doçura melancólica que tocou o público. Agora, ele traduz essa sensibilidade para um cenário mais amplo. Imagine as estradas de argila vermelha serpenteando pelos campos verdes de Oklahoma. É uma imagem que evoca a essência de Chung, uma fusão de beleza e dor. As pequenas comunidades, retratadas com uma tristeza palpável, mostram a devastação e a resiliência que ele tão bem capta. Já o roteiro é assinado por Mark L. Smith, que consegue criar uma trama simples e em grande parte coerente com o desenvolvimento de cada personagem e os desdobramentos dos atos. Não podemos esquecer que Steven Spielberg está na produção de “Twisters”; pode confiar que, para ele estar envolvido aqui, é porque de fato viu um motivo para produzir mais uma história de tornado.
Twisters vale a pena assistir no cinema ou melhor esperar pra ver em casa
Confesso que minhas expectativas para “Twisters” não eram altas, dada a saturação de sequências no cinema atual. No entanto, o filme me surpreendeu positivamente e ele apresenta uma excelente experiencia de cinema. A combinação de efeitos visuais espetaculares, personagens cativantes e uma história bem desenvolvida o torna uma opção de entretenimento empolgante e reflexiva. Uma continuação digna do clássico que explora temas relevantes.