Em “Fúria Primitiva”, Dev Patel se afasta da imagem de galã romântico para mergulhar em um universo de ação visceral e crítica social contundente. Ambientado em uma Índia ficcional marcada pela desigualdade, corrupção e opressão, o filme acompanha a jornada de Kid, um lutador de rua em busca de vingança contra o gângster que destruiu sua vila natal.
Direção visceral
Sob a direção de Patel, “Fúria Primitiva” se destaca pelas sequências de luta coreografadas com maestria. A câmera frenética e os cortes rápidos colocam o espectador no meio da briga, transmitindo a fúria e o desespero de Kid em cada golpe. Patel, faixa preta de taekwondo, entrega uma performance física impecável, combinando força e agilidade para dar vida à brutalidade dos combates.
As cenas de ação, embora brutais, não se limitam à mera exibição de força bruta. Elas servem como um instrumento para traduzir a dor e a frustração de Kid, que busca justiça em um mundo dominado pela violência e pela impunidade. A câmera captura a ferocidade dos golpes, mas também a angústia nos olhos de Kid, revelando a alma de um homem quebrado em busca de redenção.
Para além da adrenalina das lutas, “Fúria Primitiva” tece uma crítica social contundente à realidade da Índia. O vilão Rana, interpretado por Sikandar Kher, representa a opressão e a brutalidade do poder, encarnando a corrupção que corrompe o sistema e marginaliza os mais fracos. Kid, por sua vez, se torna um símbolo de resistência contra a injustiça, lutando por vingança e por um futuro mais justo.
Ação e atmosfera compensam simplicidade da narrativa
A narrativa, embora simples e previsível, é compensada pela imersão nas cenas de luta e pela construção da atmosfera densa e claustrofóbica da cidade. A falta de desenvolvimento de alguns personagens secundários não compromete a experiência principal, que se concentra na jornada de Kid em busca de vingança.
A mensagem social do filme, embora importante, nem sempre se integra de forma coesa com a história principal. A crítica à opressão e à corrupção, presente em diálogos e cenas, por vezes se perde em meio à adrenalina da ação. No entanto, a mensagem geral de resistência e luta por justiça permanece clara e inspiradora.
Conclusão
A principal falha de “Fúria Primitiva” é a falta de foco; dá para imaginar uma versão mais curta, talvez um pouco cafona, mas bem mais divertida. No entanto, esse filme de ação bombástico e rebuscado não sofre tanto com esse defeito quanto outros filmes do gênero. Isso graças à sinceridade e estilo de Patel, a carga catártica e a rica textura visual que ele traz para o que é essencialmente um filme de pancadaria. De certa forma, a falta de compostura de “Fúria Primitiva” é proposital, e no final fica fácil ver Patel como estrela de ação, mas difícil imaginá-lo no papel de um agente colonial suave. Talvez Bond não seja mesmo a praia dele.
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