A Ousadia Inicial dos anos 90 e a Realidade da Franquia em 2025
Logo nos primeiros minutos de Jurassic World: Recomeço, o paleontólogo Henry Loomis (Jonathan Bailey) joga a frase bombástica: “Ninguém mais liga para os dinossauros!”. Uma declaração e tanto, vinda de um filme de dinossauros, não é? Lembro das antigas “Sessões da Tarde” e de como o título “Corra Que a Polícia Vem Aí 33 1/3” já me fazia rir, graças a ironia de que nenhuma franquia poderia ter tantos filmes. Agora, em 2025, após seis longas, a saga já explorou de tudo: parques desastrosos, dinossauros em cidades, missões de resgate, acidentes em parques reativados, salvamento de espécies e até a indústria farmacêutica testando DNA de dinossauros. Será que a fala de Loomis não reflete um pouco da verdade?
O Previsível Pretexto para a Trama
O filme começa cinco anos após os eventos de Jurassic World: Domínio. A ecologia do planeta se mostra hostil aos dinossauros, e os poucos sobreviventes se refugiam em ambientes equatoriais isolados, com climas parecidos aos de seu passado. Ali, vivem os maiores: o Titanossauro (novidade na série!), o Quetzalcoatlus e o nosso conhecido Mosassauro. Para criar medicamentos que combatem doenças cardíacas, Martin Krebs (Rupert Friend), líder de uma Compainha farmacêutica (zero surpresa aqui!), precisa de amostras de sangue desses três. Conveniente, não? Um pretexto bem familiar, aliás, como em Avatar: O Caminho das Águas.
Em Jurassic World: Recomeço, dirigido por Gareth Edwards e escrito por David Koepp, a missão é clara: coletar amostras de DNA dos três gigantes. Martin recruta a mercenária Zora Bennett (Scarlett Johansson) e o paleontólogo Henry Loomis (Jonathan Bailey) para uma viagem ilegal e secreta. Com eles, o capitão e pistoleiro Duncan Kincaid (Mahershala Ali) e outros que parecem ter um alvo nas costas. A ideia é se aproximar a dez metros dos dinos para atirar um cartucho de coleta de sangue. E essa é a única ideia realmente nova do filme. Até esse ponto, eu até pensava: “Pelo menos eles sabem o que estão fazendo, a dinâmica de sobrevivência vai ser diferente”.
A Família Desnecessária e os Absurdos de roteiro
Mas, de repente, somos apresentados à família Delgado: Reuben (Manuel Garcia-Rulfo), a precoce Isabella (Audrina Miranda), a adolescente Teresa (Luna Blaise) e seu namorado Xavier (David Iacono). Pasmem, eles estavam em um barco a vela num lugar onde ninguém em sã consciência iria. Claro, naufragam após um encontro com um dinossauro. Desculpe o desabafo, mas a família Delgado e o namorado sem noção estão ali para cumprir o requisito jurássico: colocar crianças em perigo. Sem contar o clichê americano da família disfuncional superando traumas no meio de um filme de terror. Para fechar o pacote de absurdos: após o encontro dos grupos, a missão decide levar a família desprotegida junto. Depois de coletar a primeira amostra, são todos atacados por mosassauros e espinossauros (aquele que mata o T-Rex no terceiro filme!). Tudo isso no mar, separando a família da missão. Essa, sim, é a única cena genuinamente nova.
A partir daí, Jurassic World: Recomeço mergulha em uma espiral de previsibilidade e conveniências de roteiro, lembrando o terrível Imaginário – Brinquedo Diabólico. Cada cena parece ter sido tirada de algum filme anterior da franquia. A alternância entre os dois grupos, enquanto atravessam a ilha, drena qualquer emoção de uma jornada já questionável. Parece que diretor e roteiristas nem se deram ao trabalho de assistir aos filmes anteriores de Jurassic Park e Jurassic World. Um exemplo? O T-Rex morde um bote inflável duas vezes e ele fica intacto, ou as diversas cenas em que os personagens fazem um barulho absurdo em uma ilha cheia de dinossauros, além de mortes ridículas. A revelação de que Martin não valia nada, os dinossauros não os perseguindo para defender território… e o desfecho do filme é tão óbvio que parece ter sido escrito em 10 minutos na sexta-feira à tarde.
Ironicamente, de recomeço não tem nada
O filme é tão previsível e cheio de incoerencias, incomuns até para filmes de terror e sobrevivência que nem mesmo o grande vilão, o Distortus Rex – um dinossauro mutante com membros extras e uma testa bulbosa –, consegue impressionar. Portanto, respondendo à pergunta inicial: a razão de as pessoas não se importarem mais com dinossauros são filmes como Jurassic World: Recomeço, que, ironicamente, de recomeço não tem nada. Tenho quase certe que Steven Spielberg e a Universal deram sinal verde para esse filme por ter perdido alguma aposta de jogo.
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