A maturidade do roteiro e seus riscos
Wicked: Parte 2 contraria a tendência de Hollywood e da maioria dos streamings ao chegar aos cinemas exatamente um ano depois da estreia da primeira parte. Parece que foi ontem que Elphaba causou um blackout sobre Oz ao cantar “Defying Gravity”, o ponto alto de uma narrativa milimetricamente pensada. Agora, é o momento de analisar a conclusão dessa história que conquistou uma nova legião de fãs.
Ritmo frenético e mudança de tom
Assim como o antecessor, Wicked: Parte 2 segue fielmente a estrutura do musical original. Além disso, fica quase nítido que o diretor Jon M. Chu ouviu as críticas sobre a duração excessiva do primeiro volume e decidiu impor um ritmo mais ágil nos dois primeiros atos.
Antes de entrarmos nos detalhes, vale lembrar que esta sequência lida com as consequências diretas do final da Parte 1. Ou seja, sai aquele clima de “colégio interno” e entra uma trama política do mundo real, abordando manipulação da verdade, discurso de ódio, opressão e a exposição midiática de celebridades. Para que tudo isso seja bem absorvido, no entanto, é necessário tempo de tela. Lembra que, na crítica do longa do ano passado, dividi a percepção entre os fãs do musical e aqueles que estavam tendo o primeiro contato com a obra? Guarde essa comparação.
Aceleração versus Profundidade
Dito isso, ainda que Wicked: Parte 2 seja coerente com o material de origem — agradando por tabela a sua base de fãs —, para o público que está conhecendo este universo apenas pelo cinema, a narrativa apresenta problemas. Os dois primeiros atos possuem um ritmo tão acelerado que os personagens mal têm tempo para sentir o peso das situações que lhes ocorrem. Isso gera a sensação de que a história não possui a mesma profundidade emocional da primeira parte.
Sei que pode parecer injusto comparar os dois filmes, afinal, eles ocorrem em momentos e contextos diferentes. Contudo, a própria obra força o espectador a fazer esse paralelo o tempo todo, principalmente através de reprises musicais e diálogos expositivos.
Adaptação e o desenvolvimento de coadjuvantes
O filme segue, novamente, a estrutura rígida do palco. Porém, nas últimas décadas, as adaptações cinematográficas de sagas literárias e HQs conseguiram, muitas vezes, adicionar camadas extras onde as obras originais não se aprofundaram. Infelizmente, isso não acontece aqui.
O desenvolvimento de Fiyero, Nessarose e Boq ficou tão ralo quanto aquele café feito com pouco pó. Outros que tiveram seus arcos prejudicados pela pressa do roteiro foram a própria Madame Morrible, o Mágico de Oz e os animais falantes, que acabam soando mais como peças de tabuleiro do que personagens tridimensionais.
Wicked Parte 2 e o peso das canções
Outro ponto que merece destaque são as músicas. Parte do motivo de Wicked ter uma base de fãs tão sólida reside justamente em sua trilha sonora. Nem é preciso dizer que “For Good” e “No Good Deed” são os momentos mais emocionantes, citando também “As Long As You’re Mine” pelo contexto dramático em que se insere.
Já as demais faixas, apesar de muito bem executadas pelo elenco, sofrem com os problemas de ritmo descritos acima. Isso faz com que a Parte 2 cometa um erro que o primeiro filme evitou: fazer o espectador sentir a divisão brusca entre a trama falada e o momento musical, quebrando a imersão.
Sobre as duas músicas, enquanto “No Place like Home” casou perfeitamente com o clima do filme e fez o enredo progredir, “The Girl in the bubble” caiu em um momento tão tenso do filme, que atrapalhou o andamento da história que duvido muito que as pessoas irão lembrar dela.
O foco nas protagonistas e o veredito de Wicked: Parte 2
Por outro lado, Wicked: Parte 2 acerta ao girar quase exclusivamente em torno de Elphaba e, especialmente, de Glinda. Essa decisão faz com que o terceiro ato seja a parte do filme com maior riqueza de detalhes e carga dramática, afinal, é o encerramento da história e um ponto decisivo para ambas. Esse, de longe, foi o maior acerto da produção.
Em suma, comparando com os filmes musicais lançados nas últimas décadas, Wicked: Parte 2 é, sem dúvida, uma experiência memorável. No entanto, o longa carregou o fardo de uma missão quase impossível: superar um encerramento tão icônico quanto aquele que contém “Defying Gravity”.








