Depois de uma espera ansiosa dos fãs, enfim, a Netflix liberou a última temporada de As Telefonistas. De fato, a série tem uma grande rede de expectadores, inclusive, um público que vai além do tradicional da plataforma de streaming. Por ter um clima que, de certa forma, lembra as novelas mexicanas, a série espanhola caiu no gosto até das donas de casa. Portanto, é um grande mérito de Las Chicas del Cablo levar o tema do empoderamento feminino a quem não costuma ter muito acesso a esse tipo de conteúdo.
O Kolmeia preparou para vocês um resumão sobre a série da Netflix, destacando seus pontos fortes e fracos e sua conclusão. Inclusive, segue uma ambientação histórica e caracterização das personagens. Por fim, as considerações sobre a temporada final.
Breve panorama da história espanhola mostrada na série
Las Chicas Del Cablo se passa num arco de mais de 10 anos e num período de grande efervescência na história mundial. A saber, o enredo de As Telefonistas se incia em 1928 e vai até 1939/1940, já durante o Franquismo e a Segunda Guerra Mundial. No ano em que a história começa, como bem definido por Lidia/Alba, as mulheres eram apenas acessórios. De fato, poucos eram os direitos femininos conquistados à época. Inclusive, o sufrágio feminino foi promulgado na Espanha em 1931, sendo, de fato, exercido em novembro de 1933.
Nesse contexto, a série tenta se posicionar de modo a não comprar a briga dos simpatizantes ao regime franquista, nem dos revolucionários. De certa forma, acaba assumindo o papel de mostrar excessos nos dois extremos. Se por um lado, a temporada final traz a rigidez da ditadura franquista, a Terceira temporada toda gira em torno de mostrar o radicalismo de republicanos e algumas feministas. Inclusive, é uma temporada causa certa empatia do público com o rei. É uma série Girl Power, sem dúvidas, e também mostra a necessidade de evolução de outros direitos, mas não parece ter assumido tão claramente um lado político na briga de radicais vs totalitaristas, mas uma postura não bélica.
Certamente, a Tecnologia também dava seus passos. A própria companhia telefônica dos Cifuentes é um exemplo disso. Afinal, vemos a popularização do telefone, a realização de uma chamada intercontinental, a automatização das chamadas telefônicas e a criação dos telefones públicos na Espanha. Obviamente, como quase todas as evoluções tecnológicas, o telefone foi uma importante arma política por meio de interceptações irregulares.
Sobre as personagens da série
As Telefonistas gira seu roteiro em torno de 4 amigas e da conturbada família Cifuentes, dona da Companhia Telefônica. Embora a série se responsabilize a mostrar a situação político-social feminina, o maior foco é a sororidade e a relação que as amigas constroem entre si. Nesse contexto, cada uma das quatro tem um papel bem definido na trama e visa demonstrar as adversidades enfrentadas pelas mulheres e outras causas. Mas, acima de tudo, mostram o amor entre elas mesmas.
As telefonistas
Primeiramente, Ángeles começa como a melhor funcionária da Companhia. Portanto, pela meritocracia pura e simples, deveria obter todo o sucesso profissional, mas esbarrava em obstáculos que não teria se fosse homem. Afinal, era vítima de um relacionamento abusivo que várias vezes resultava em violência física, mas a lei defendia o seu marido. Ela se transforma depois de tudo que enfrentou ao lado de Mário e torna-se, inclusive, uma chefe de organização criminosa (que foi meio estranho) enquanto mantém um caso com Cuevas, um policial.
Marga é a jovem romântica e ingênua do grupo, mas o passar da série mostra sua evolução e seu desabrochar. Ela traz leveza à trama, com seu cômico e fofo relacionamento com Pablo, mas está longe de ser ignorante sobre seus direitos e sobre sua situação enquanto mulher.
Apesar de ter surgido com seu estilo Girls Just Wanna Have Fun, Carlota é uma revolucionária nata. A princípio, ela busca sua independência do pai controlador, mas percebe que isso é pouco. A senhorita Rodriguez de Senillosa se comove com todas as injustiças e se recusa a compactuar com todas as opressões. Justamente por isso abraçou a transexualidade de Sara/Oscar Millán com quem permaneceu até o fim. Carlota, sem dúvidas, é uma personagem extremamente necessária e a mais girl power de As Telefonistas.
Lídia/Alba
Lídia é a protagonista e narradora em primeira pessoa da série da Netflix. De fato, ela é senhora das própria decisões e demonstra muitas ambições profissionais, sonhos de liberdade e empoderamento feminino. No entanto, fica um pouco ofuscada diante de sua vida amorosa conturbada e cheia de idas e vindas com Francisco e Carlos Cifuentes. Mas ainda assim é interessante ver o processo de transformação de Alba em Lídia. Por mais que Victoria tenha tentado transformá-la em calculista, ela sempre banca suas emoções e se torna capaz de qualquer coisa por quem ama. Ela é a mulher que se vira sozinha, mas entende que compartilhar a vida pode ser melhor.
Família Cifuentes
Não pode faltar uma família rica, poderosa e conturbada, não é? Certamente, a família Cifuentes tem tudo isso! Ricardo, o pai envolvido com política suja e estratégias para aumentar ilicitamente suas riquezas, Carmen, a vilã malvada e manipuladora e os filhos manipuláveis. Sem contar Francisco que, por um tempo, chegou a ser parte da família após seu casamento com Elisa. A maior parte do dramalhão mexicano de As Telefonistas tem os Cifuentes como motivo central.
Série Espanhola ou novela mexicana
A Netflix acertou em muita coisa ao criar Las Chicas Del Cablo, mas acabou pesando um pouquinho a mão em alguns detalhes. Certamente, as personagens são carismáticas e, apesar dos exageros e dos detalhes que precisamos ignorar, a gente se prende à série e deseja o tempo todo saber o que acontece com as telefonistas. Entretanto, não há como negar que algumas fórmulas são cansativas, como, por exemplo as seguintes:
Dramalhão de amor que nunca se resolve: a verdade é que o excesso de reviravoltas do triângulo amoroso Carlos – Lígia – Francisco acabou por se tornar cansativo. Até arrumaram um caso para Carlos, Alex Uribi, que depois sumiu da trama e também um para Francisco, Pérola, que teve o mesmo destino. Tudo pra não deixar morrer o “quem ficará com Lídia?”.
A Fórmula dos mortos-vivos: sabe aquela frase “entre mortos e feridos salvaram-se todos”? A Netflix levou ao pé da letra! Primeiro, Lígia grávida caiu do segundo andar, meses depois estava viva e o bebê também. Em segundo lugar, o incêndio que, no final das contas, matou apenas o pai de Carlota e alguns figurantes. Afinal, a morte de Eva foi forjada e a de Elisa também. Depois foi a vez de Francisco experimentar o “morreu, mas passa bem”. Por fim, Carmem ressurge das cinzas, depois de ter sido sentenciada à morte. Ela já era idosa e nós a vimos transpassada por um ferro, mas ficou boa e depois aparece nas últimas no hospital. Porém na temporada final lá estava ela! Paola Bracho curtiu isso!
a miscelânea mexicana: as telefonistas não é só girl power! Trouxe também prisão injusta de mocinha, sequestro de neném por uma vilã Malvada, coma seguido de perda de memória, personagem pulando na frente de um tiro pra salvar outro, além dos tópicos anteriores.
Personagens esquecidos no churrasco
Alguém sabe dizer qual foi o fim de Carolina? Pois, ela simplesmente sumiu da Companhia telefônica e da série sem que ninguém desse satisfação ao público. De fato, trata-se de uma personagem relevante nas duas primeiras temporadas para na terceira simplesmente sumir. É certo que Lídia encontrou uma vilã mais perigosa e que Mário já não estava mais vivo para ela ocupar o posto de amante. Mas, vale lembrar que era uma mulher super vingativa presa injustamente por uma armação de Lídia e Ángeles. Muita gente esperou a vingança, no entanto, ela simplesmente sumiu.
Miguel foi outro personagem totalmente deixado de lado sem explicações. Ele até chega a aparecer no início da quarta temporada. Entretanto, acaba parecendo mais um figurante do que um personagem tão importante nas temporadas iniciais. Já na terceira, sua situação se tornou confusa, uma vez que sua luta contra as drogas não foi bem explorada e acabou indo parar no núcleo do White Lady. Sua última e breve aparição mostra que retornou ao seu cargo na Companhia e que estava recuperado. Porém, a quarta temporada é focada em Carlota e sua acusação de assassinato. É fato que Miguel a amava e era grato por ela, mas ele sequer deu as caras para ajudá-la. Ficou esquisito.
Outros personagens não tiveram um final definido, como Pérola e Alex. Mas, como se trata de personagens secundários, não é necessariamente um problema grave. Até porque a série tinhas outros arcos mais importantes para finalizar.
Temporada Final
Foram muitos acontecimentos construídos pela Netflix até a chegada da temporada final. Depois da terceira e da quarta temporadas um pouquinho arrastadas, a morte de Ángeles nos fez levar As Telefonistas mais a sério (embora isso provavelmente tenha acontecido por indisponibilidade na agenda de Maggie Civantos para gravar a temporada final). A partir daí, entendemos que tudo poderia acontecer no fim da série. E, de certa forma, Ángeles continuou presente representada por sua filha Sofía que foi o pivô da última temporada.
A Netflix foi muito bem no intuito de mostrar a vida dos cidadãos durante a guerra sem apelar para o excesso de violência. Aliás, toda ambientação da série está de parabéns. O público, de fato, se sentia nos anos 20/30 e tudo era muito bonito, desde cenários até figurinos. Só a trilha sonora não era tão eficaz, mas a estética era muito atraente. Além disso, a série dividiu os personagens entre os republicanos, como Sofía e Felipe, franquistas, como Carlos e Carmen e os que só desejavam o fim da guerra, como Pablo e Marga, que chegou a dizer:
“Há famílias divididas, amigos que se matam por estarem em lados opostos e no fim não faz sentido“
O destino das telefonistas
Com o fim da guerra e a instauração do Franquismo, a situação na Espanha não ficou necessariamente melhor. Afinal, qualquer pensamento diferente do que governo defendia deveria ser punido. O mesmo acontecia com desertores, com que se aliasse à causa republicana ou quem apenas ajudasse alguém que o fosse. Entre as telefonistas havia tudo isso, mas havia acima de tudo o senso de responsabilidade por um mundo melhor!
Tá certo que foi decepcionante a ideia não muito inteligente de fugir de trem, que é o meio de transporte mais fácil de interceptar. Além disso, fomos enganados e induzidos a acreditar em um final feliz antes da última interceptação do trem. Mas seria ainda mais irreal a temporada final terminar assim. Então, na decisão mais corajosa e surpreendente da Netflix, as telefonistas se sacrificaram pelo bem comum. Não dá pra contar a luta das mulheres de forma colorida. Houve muitas mortes, muito abuso, muita dor. Inclusive, das Chicas del Cablo, que deixarão saudades!
E você? O que achou do final da série? Gostou das nossas considerações? Se gosta das séries da Netflix, aproveite para ver a opinião do Kolmeia sobre Dark. Até a próxima!