O quê você anda colecionando? E se você fosse o ser colecionado?
Em “O Colecionador” conhecemos Frederick Clegg, vulgo “Caliban”, um colecionador de borboletas que certo dia resolve colocar em prática seus planos e “coletar” seu espécime mais raro, Miranda Grey.
A história nos mostra os pontos de vista do agressor e da vítima, o que torna esta obra clássica de John Fowles, lançada pela primeira vez em 1963 e agora pela Editora DarkSide, algo totalmente diferente de tudo o que vocês já leram/viram. Preparados?
Frederick, o Caliban, em O Colecionador
Miranda, que não sabe o nome verdadeiro de seu sequestrador, o chama principalmente de Caliban, referência que será explicada mais adiante neste texto.
Inegavelmente, o protagonista é egocêntrico, antiquado, machista, pedante e muito egoísta. Acredito que não seria errado chamá-lo também de sociopata, uma vez que ele não consegue distinguir o que é certo do que é errado, falando em vários trechos como se fosse justificável sua atitude de manter Miranda em cativeiro.
“Ele disse que me amava, ainda assim.
Eu disse: Seu amor é o amor-próprio. Não é amor, é egoísmo. Não é em mim que você pensa, mas naquilo que você sente a meu respeito.”
Além disso, ele é solitário e não se incomoda com isso, pois acredita que não precisa de ninguém, além de ter sérios problemas com confiança. Como ele disse, sua amada era tudo o que ele tinha no mundo. Logo, nada mais justo do que mantê-la presa sob seu teto, não é mesmo? (contém ironia)
“Mas tudo o que vai além do que ele paga e vê com os próprios olhos é motivo de desconfiança para ele. Não acredita em nenhum outro mundo além daquele em que ele vive e vê. É ele que está aprisionado; em seu próprio mundo, estreito e cheio de ódio.”
O outro lado da história, por “M”
Após várias páginas acompanhando o ponto de vista do Colecionador, na segunda parte do livro passamos a ver as situações por meio do olhar de Miranda, que compartilha sua rotina em um diário. Assim, revisitamos situações que ele contou, só que narradas agora por Miranda (ou “M”).
Miranda também é egocêntrica. Mimada, ela gosta dos presentes que seu sequestrador sempre lhe traz, apesar da situação de prisão. Além disso, ela sabe que exerce poder sobre ele e se aproveita disso às vezes, apesar de não o respeitar pelo mesmo motivo. Entretanto, ela também tem princípios fortes e valores, que a impedem de pensar em matá-lo, por exemplo.
“Você é apenas uma gota, sua quebra de promessa é apenas uma gota, isso não importa. Mas todo o mal que há no mundo é feito de pequenas gotas. É tolice falar sobre a falta de importância das pequenas gotas. As pequenas gotas e o oceano são a mesma coisa.”
“Sou eu o que ele quer, meu olhar, minha aparência; não minhas emoções ou mente, ou minha alma, e nem mesmo meu corpo. Nada que seja humano.
Ele é um colecionador. Esse é o grande lance mórbido a seu respeito.”
Quando as histórias se juntam
O Colecionador não é um livro fácil de ler. Algumas partes se arrastam um pouco por serem muito centradas nos sentimentos e pensamentos dos personagens principais. Além do mais, também não é uma leitura fácil por narrar situações de violência, física e psicológica, bem como por nos fazer mergulhar nas profundezas obscuras das mentes de Frederick e de Miranda.
Ao longo da trama, o autor, com maestria, faz com que a gente se coloque no lugar tanto do agressor quanto da vítima. Seu objetivo não é mostrar um homem mau e uma menininha frágil. Pelo contrário, Miranda é forte, quer sobreviver mais do que tudo. Esta é uma história “para os fortes”, sobre obsessão e limites.
O jeito como Fowles escreve de duas formas diferentes, quando estamos sob a narrativa ora de Frederick, ora de Miranda, e de como ele nos faz, dessa forma, ver que há um pouco de vilão e um pouco de mocinho em ambos, é genial. Quando você percebe, está obcecado para saber como tudo acaba, e o final… Bem, é, no mínimo, chocante.
Curiosidades sobre O Colecionador
Primeiramente, a introdução é escrita por ninguém menos que Stephen King, que considera este livro uma obra prima. De fato, O Colecionador foi um marco na década de 60 e continua sendo procurado, tantos anos depois de seu lançamento.
Quanto ao “Caliban”, foi uma referência que Miranda tirou da peça “A Tempestade”, de Shakespeare. A mocinha naquela história também se chama Miranda, e o Caliban é o serviçal de seu pai. Filho de uma bruxa com o diabo, ele é mesquinho, vingativo, feio e malcheiroso, e tenta violar Miranda para povoar a ilha em que ambos são prisioneiros.
Por fim, vocês sabiam que foi feita uma adaptação do livro? Em 1965 foi lançado o filme homônimo, muito elogiado pela crítica. O diretor foi William Wyler, e ganhou diversas premiações, assim como foi nomeado em três indicações ao Oscar.
E vocês, gostam de thrillers psicológicos assim? Preferem histórias fortes ou mais leves? Por favor, não deixem de nos dizer o que acharam desta obra nos comentários ou nas nossas redes sociais! Até a próxima 😉
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