Os Anos 80 estão em todos os lugares
Se você é uma pessoa que, de fato, presta atenção à sua volta, já deve ter reparado a quantidade de elementos dos anos 80 presentes atualmente no mundo nerd e na cultura pop em geral. A Netflix, por exemplo, é recheada de referências, remakes e produções originais da década. Na verdade, já tem alguns anos que esse hype oitentista está no ar, tem crescido desde 2015/2016. Por conta disso, sua influência é notória em filmes, séries, música e moda atuais.
Assim, o Kolmeia criou uma série de textos visando enaltecer a década de oitenta e mostrar a influência dela hoje. Esse primeiro texto é uma visão mais geral, enquanto os próximos serão específicos sobre séries, filmes e música, respectivamente.
Breve panorama dos Anos 80
Certamente, década de oitenta no Brasil não foi exatamente um período fácil. Ao contrário, ainda havia Ditadura, hiperinflação e a crise econômica assolava, não só nosso país, mas também toda a América Latina. Por conta disso, o período ganhou o nome de “década perdida”. Entretanto, se, por um lado, temos a década perdida na economia, por outro, temos a década que se recusa a acabar! Não só porque alguns fantasmas sempre tentam voltar, mas a rica diversidade cultural também dá as caras de vez em quando.
Simultaneamente, o resto do mundo também enfrentava grandes dificuldades. A saber, a AIDS se espalhava de modo assustador, levando, inclusive, grandes artistas. A cocaína e o crack eram quase uma epidemia nos Estados Unidos. URSS e EUA ainda protagonizavam a Guerra Fria, o que levou o “estilo de vida americano” ao ápice do culto consumismo e o boom dos shoppings centers. Em contrapartida, a fome se agravou na África, originando movimentos como o USA for Africa e o Live-Aid. Os protagonistas da Guerra Fria também vivenciaram dois acidentes trágicos que ocorreram em 1986: a explosão do ônibus espacial Challenger transmitida ao vivo e o acidente nuclear de Chernobyl.
Transição de Eras e Revoluções
De fato, olhando o cenário catastrófico anterior é compreensível pensar: que raios os anos 80 poderiam oferecer para se tornar essa fonte de inspiração? Primeiramente, se trata de uma transição de eras: termina a idade industrial e começa a era da informação. Certamente, a invenção do computador IBM e do Apple Macintosh contribuíram bastante com isso. Além do mais, duas criações da década de setenta se popularizaram revolucionando a forma de se consumir filmes e músicas: o videocassete e o walkman respectivamente. Em consequência, a demanda por maior produção de cultura pop aumentou de modo considerável! A tecnologia na produção musical também tornou-se mais acessível, facilitando a vida dos músicos do underground.
No campo das relações humanas também houve mudanças. O movimento punk, que surgiu na década anterior, se consolidava e atingia seu ápice. Este também teve papel fundamental, tanto na subversão de padrões estéticos, quanto no foco de suas produções. De certa forma, ele é uma resposta ao movimento hippie da década de sessenta que trazia a mensagem de “somos todos iguais”, focado na paz, no amor e na coletividade. A cultura punk, por sua vez, trazia a individualidade e a subjetividade à tona. Não se trata de uma mensagem egoísta, mas um toque de pessoalidade, individualidade. Afinal, não somos tão iguais assim!
Grosso modo, essa compreensão de que não somos iguais foi fundamental para várias revoluções. Como exemplo, o Feminismo começou a transicionar da Segunda para a Terceira Onda, o que se consolidou na década seguinte. As demandas que antes eram ditadas por mulheres brancas, heterossexuais e com poder aquisitivo abre espaço para as lutas mais específicas, incluindo questões raciais e de orientação sexual. Obviamente, desde sempre essas lutas existem, mas ganharam muita notoriedade nos anos 80.
A vez dos nerds
Sem dúvidas, na década de oitenta a figura do nerd era muito estigmatizada. Ser mais centrado e estudioso numa época em que todo mundo queria ser descolado trazia grandes consequências como exclusão e bullying. Curiosamente, no cinema, a temática se tornava central em muitas produções. Extraterrestres, mundos paralelos, viagens espaciais e no tempo, magias e ficção científica eram recorrentes nos filmes de maiores bilheterias. Inclusive, a própria figura do nerd se desenhava em muitos protagonistas. Ninguém queria ser o nerd da turma, mas quase todo adolescente tinha sua pitada de insegurança e medo da exclusão, o que leva a uma certa identificação com os protagonistas.
Hoje a temática nerd volta a estar em alta, em especial com a popularização dos filmes de super heróis, das plataformas de streaming de jogos e de filmes. A ascensão do geek é uma prova disso. Você pode gostar do universo nerd e, ainda assim, ser “cool”. Afinal, muitos eventos nerds são famosíssimos. Inclusive, quem diria que o Rock in Rio, criado nos anos 80 um dia teria um espaço dedicado aos nerds, como é o caso da Game XP? Também são muitas as marcas de camisetas e produtos de modo geral voltado a esse público. Certamente, tal cenário fez o interesse pelas produções oitentistas do gênero crescer bastante. Porém, o interesse ultrapassou a barreira dos filmes de temática nerd, alcançando a música, moda, estilo de vida e a década de oitenta como um todo.
A Teoria do algoritmo da Netflix
Existe uma teoria do ano de 2016 que afirma que a série Stranger Thigs foi feita em decorrência do algoritmo da Netflix que mostra o grande interesse das pessoas pelas produções dos anos 80. De fato, a plataforma tem muitos filmes e séries com vibe oitentista (como ficará claro nos próximos textos dessa sequência). E isso reforça que há, sim, uma busca grande sobre as coisas da década. Entretanto, Stranger Things não foi feita sob encomenda pra preencher as demandas mostradas pelo algoritmo, mas se encaixou perfeitamente nele, o que direcionou a aposta da Netflix.
De qualquer forma, um algoritmo mostrando a grande quantidade de busca sobre o assunto é apenas mais uma prova. Afinal, como dito no primeiro parágrafo, para todo lugar que se olha tem uma referência oitentista!
Do Flop ao Hype
Quem viveu os anos 2000 sabe a aversão que existia a qualquer coisa relativa aos anos 80. O cabelo volumoso que em oitenta era sucesso, em 2000 era desprezado. O mesmo ocorria com as roupas, com as cores, com a cultura. Entretanto, se a gente reparar bem os anos 2000 são um hiato de mal gosto na história recente! Cabelos quimicamente alisados e todos iguais, calças de cintura super baixa, filmes de besteirol. Paris Hilton como ícone fashion e Avril Lavigne como ícone subversivo (risos). Portanto, não dá pra levar tão a sério o senso comum da década.
Em contrapartida, os anos 80 oferecem uma combinação interessante de elementos. Há material histórico, cultural, social, antropológico para enriquecer qualquer enredo simplesmente dramatizando fatos que ocorreram. E, por outo lado, há a criatividade, o exagero, a ascensão do pop, consolidação do hip-hop e o auge do rock, regado a muito sobrenatural, muitas cores, muitas polêmicas e muita, muita aeróbica.
Se você chegou até aqui, caro abelhudo, provavelmente é uma prova de que o hype é real! Então, fique de olho no próximo tema: “os anos 80 em séries atuais”. Posteriormente, falaremos de filmes e música. Te aguado lá! Ah! Não esqueça de deixar sua opinião nos comentários!