“Para resolver qualquer parada / e evitar qualquer celeuma / duas coroas da pesada / Dona Zica e Dona Neuma”. Muito antes dos versos de “Dona Zica e Dona Neuma”, canção lançada por Alcione em 1990, a Estação Primeira de Mangueira já era Supercampeã do Carnaval Carioca. E apesar do insucesso de Alcione à frente de seu enredo, em 2024, a Mangueira já sacudiu a poeira, e vem ainda mais musical e espiritual em 2025. De carnavalesco novo, o supercampeão Sidnei França, o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”, vem cantando a importância da chegada do povo bantu e toda a mudança cultural ocasionada por esse fato.

Mangueira foi campeã em duas oportunidades nos últimos 10 anos
A Mangueira sempre faz desfiles emocionantes, seja embalada pela sua torcida monumental,

ou até mesmo pela robustez de seus enredos e o desempenho da escola na avenida. Vindo de dois títulos nos últimos 10 anos, com Leandro Vieira (hoje, na Imperatriz Leopoldinense, escola de Ramos) encabeçando seus desfiles (em 2016 e 2019), a escola sempre se notabilizou pelo seu senso crítico-social, o que faz com que a passagem da verde e rosa do Morro da Mangueira, seja uma das mais esperadas da noite de carnaval.
Depois anunciar a contratação de Sidnei França, 5 vezes campeão do carnaval paulista, 4 vezes com a Mocidade Alegre e em uma oportunidade com a Águia de Ouro, o paulistano pretende elevar o nível estético do desfile da Mangueira, como é sua marca registrada nos carnavais de São Paulo. Um desfile que promete apagar as impressões deixadas pelo carnaval problemático de 2024, que tirou a escola do Desfile das campeãs depois de muitos anos.
Enredo forte aumenta as expectativas quanto ao desfile da Verde e Rosa
Sobre o enredo de 2025, “À Flor da Pele”, a Mangueira pretende celebrar a rica contribuição dos povos bantus, originários da região de Angola, que moldaram a vida cultural, social e religiosa da Cidade Maravilhosa. Com palavras, costumes e sua religiosidade, o povo preto de África precisou resistir às investidas de seus senhores contra às suas crenças e vidas. O samba-enredo, composto por Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Julio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim, promete reafirmar o compromisso da escola com a resistência cultural e o engajamento social. Confira abaixo.
Confira um trecho da sinopse do carnaval da Mangueira:
“Ouça o ruído do mar. Pense em quem foi saído de Cabinda, de Luanda, de Benguela. Jogue o corpo pro centro do mundo. Prepare a mão pra bater, o pé pra riscar e o peito para vibrar nos acordes e nos tremores do som. Desaterre a experiência dos bantus, unidos pelos seus traços linguísticos, e criadores de uma sofisticada visão de mundo.
A sua própria leitura da realidade se manifesta no ciclo bakongo através da união do mundo visível e do mundo invisível. Vida e morte fazem parte do mesmo ciclo; não se anulam, complementam-se. Um entendimento sobre a existência que foi silenciado pelo racismo, na ideia de superioridade dos pensamentos brancos e pelo estabelecimento de uma outra forma predominante de refletir sobre a negritude.
Essa visão de mundo se reafirma contra as verdades históricas e contra o apagamento da sua contribuição africana de uma cidade que não se limita nas fronteiras tradicionais. O Rio também é o Atlântico. Pelo cais, o Rio também recebe o mar.
A água conduz as passagens e é no seu interior que estão guardados a memória e os mistérios ancestrais. É possível ver o invisível submerso sob o espelho d’água, conectando-se com as forças dos antepassados.
Nas kalungas, vida e morte se sobrepõem, dentre corpos, almas e inquices.
A terra absorve tudo o que nasce. É Kavungo. Anuncia memórias fincadas no solo, que guardam as dores em busca de reparação dos pretos novos e pretas novas. As entranhas subterrâneas revelam a verdade, expõem as marcas, devolvem o que se tenta esconder e apagar o que está à flor da pele – À Flor da Terra! A ventania de Kaiango governa os cursos espirituais, conduzindo caminhos. Finaliza e recomeça destinos que fazem a passagem e podem assim retornar ao ciclo da vida.
Em Ku Nseke, plano terreno, território de contato, ressurge o choque de culturas. Era o branco a própria morte, autoritário, que impõe a sua natureza e o seu feitiço de dominação sobre as populações negras.” (…)
Confira a sinopse completa AQUI.

Escola é uma das maiores campeãs do carnaval do Rio
Tradição é o sobrenome da Mangueira! Todo mangueirense já nasce sabendo que o primeiro nome é o Samba. A Estação Primeira de Mangueira sempre desce o morro com muita representatividade e força. A força de uma comunidade que jamais poderia ser esquecida ou calada, e o rufar dos tambores de uma noite de Desfile do Grupo Especial sempre foi a maior resposta que a escola deu à desigualdade. Que o samba deu à indiferença. Seja no Sambódromo do Rio de Janeiro, na Av. Presidente Vargas, na Av. Rio Branco, a escola de Delegado, Cartola, Jamelão, Zica e Neuma, é uma unanimidade!
São 20 estrelas no pavilhão da Mangueira, com um expressivo Supercampeonato na inauguração do Sambódromo, em 1984 e títulos históricos como com os enredos “Chico Buarque de Mangueira”,

em 98, “Brazil com ‘Z’ é pra Cabra da Peste…”, em 2002 e significativos como o “História para Ninar Gente Grande”, em 2019, onde a escola abraçou o país, e emocionou a avenida.
Mangueira fecha o Domingo de Carnaval
Falando sobre os Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em 2025, a Mangueira fecha o 1º dia de desfiles, o Domingo de carnaval, dia 2 de Março, depois de ver passar Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense e Unidos do Viradouro. No novo formato, onde haverão ainda mais duas noites de espetáculo, a verde e rosa promete um show à parte, o que já foi sentido no ensaio técnico, com os componentes em peso, transformando a Sapucaí em um “mar de mangueirenses”.
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ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
Ficha técnica:
Fundação: 28/04/1928
Cores: Verde e Rosa
Presidente: Guanayra Firmino
Presidente de honra: Eli Gonçalves da Silva (Chininha)
Quadra: Rua Visconde de Niterói, 1.072 – Mangueira, CEP 20943-001
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 13) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP: 20.220-290
Site: www.mangueira.com.br
Em 2025:
Enredo: “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”
Carnavalesco: Sidnei França
Diretores de Carnaval: Dudu Azevedo
Intérprete: Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz
Mestre de Bateria: Mestre Taranta Neto e Mestre Rodrigo Explosão
Rainha de Bateria: Evelyn Bastos
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Matheus Olivério e Cintya Santos
Comissão de Frente: Karina Dias e Lucas Maciel