O Festival do Rio 2025 já chegou ao final, mas assim como ainda temos alguns filmes sendo exibidos, nuam espécie de repescagem do evento, nós também seguimos falando dele. “Herança de Narcisa”, terror psicológico dirigido por Clarissa Appelt e Daniel Dias, fez sua aguardada estreia no festival, integrando a Mostra Première Brasil: Competição Novos Rumos. O filme, que marca a estreia de Paolla Oliveira no gênero, apresenta uma premissa envolvente sobre o peso da ancestralidade feminina e as feridas de uma relação tóxica entre mãe e filha. Mas acabamos ficando por aí.

Filme desenha uma bela ideia, mas a execução é razoável
O longa de Appelt e Dias é traz um tema já arriscado por alguns diretores brasileiros, mas sempre visto com certa desconfiança. Porém, as produções de terror, tem aumentado. Seja para o cinema, ou para a TV e os streamings. Porém, aqui, o susto não consegue passar pela tensão psicológica encarada muito bem por Paolla Oliveira. A trama se destaca ao utilizar o casarão herdado como um personagem que carrega o luto e os segredos da família, funcionando melhor como um drama psicológico denso do que como um terror de sustos.
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Ausência de personagens e desenrolar tímido prejudicaram a produção
Mais do que um filme notadamente, de baixo orçamento, nota-se por cenários e efeitos práticos, “Herança de Narcisa” peca pela ausência de outros personagens para compor a trama. Isso não tiraria o foco de Ana (Oliveira) e ajudaria o irmão da personagem, Diego (Pedro Henrique Müller) ter mais destaque. A trama acaba se reduzindo a luta de Ana de negar a história, o passado e a herança deixada pela mãe, grande vedete e apaixonada pela casa. Ao aceitar o seu karma, Ana confronta a mãe, para descobrir que seu destino é algo inevitável.
Oliveira segura bem todas as cenas, independente de quem encarne. Porém, a ausência de relações, da dúvida, e de outros cenários, empobrece a produção. Não no sentido artístico, “Herança de Narcisa” é bem concebido, e tem uma direção muito honesta pela dupla de realizadores, mas que certamente sofreram por não poder revelar mais de Ana, de Diego, da casa e da nossa personagem título: Narcisa (brilhantemente vivida por Rosamaria Murtinho). Uma história que renderia muito mais com uma dose mais ousada de sustos e gore.
O longa ganhou 3 exibições durante o festival e prêmio
O público do Festival teve múltiplas oportunidades de conferir a obra, com sessões de estreia no dia 6 de outubro, às 18h45, no Estação Gávea, seguida por uma sessão com debate no dia 7 de outubro, às 16h, no Estação Rio, e uma exibição adicional no dia 8 de outubro, às 18h, no Cine Carioca José Wilker. A recepção surpreendetemente positiva, tanto que a produção foi eleita o Melhor Longa-Metragem pelo Júri Popular da Mostra Novos Rumos, validando a força de sua narrativa emocional no cinema nacional.
“Herança de Narcisa” ainda não tem data de estreia para circuitos comerciais nos cinemas.
