O que esperar de um filme que tem um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos, trabalhando com um dos diretores mais consagrados do país? Quando “O Agente Secreto” levou o carnaval de Recife, conduzido por um baiano para um dos festivais mais requintados do mundo, em Cannes, já era de se esperar que estaríamos em breve, diante de um achado. Uma pérola do cinema nacional. E o Festival do Rio 2025, veio confirmar isso ontem, 07, na noite de estreia do filme de Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Wagner Moura, no Cine Odeon.

O estilo de Kleber e o talento inato de Wagner
Já enebriados por “Recife Frio” e seus “Retratos Fantasmas”, Mendonça Filho não só fala do Nordeste, de Pernambuco, da Praia de Boa Viagem… Ele declara seu amor pela sua cidade, seu estado e pela sua região. Entre uma trama ou outra de seus longas, ele deixa claro, onde vive o cinema que ele quer mostrar. Com “O Agente Secreto”, Mendonça Filho nos engana algumas vezes, mas preenche a tela com tensão política em pleno regime militar e nos prende a cada um desses personagens.
Conhecemos Marcelo, que na verdade é Armando, interpretado de maneira insubstituível por Wagner Moura, que parece que nasce pra cada papel que se dispõe fazer, em uma introdução meio faroeste, mesmo que saudosista depois de imagens de alguns dos principais ídolos da nossa geração anterior. Fidedigno ao ambiente, ao linguajar, às atitudes e costumes da época, Mendonça Filho e Moura nos chamam para um bom frevo em tela, mostrando um pouco do absurdo cotidiano do fim da Década de 70, no Recife. Sem fala de ditadura, mas deixando claro cada pensamento ditador.

Elenco afiado é um dos trunfos do longa
A história nos leva até um ambiente que muda a configuração do filme. Conhecemos Sebastiana, interpretada pela sua mais nova-velha atriz favorita, Tânia Mara. Você ainda vão entender porquê. João Vitor Silva, Licínio Januário, Hermila Guedes, Izabél Zuaa, entre outros. Todos em plena sintonia com a trama. Elenco afiado, disposto, assim como a dupla formada por Gabriel Leone e Roney Vilela, entrosada.
Filme diminui o ritmo mas continua instigante
Até então, com motivos desconhecidos, vamos entendendo os motivos da volta de Marcelo/Armando para a cidade natal, além da vontade e partir com o filho, ele está em fuga por conta de um desentendimento com um magnata do ramo industrial, por contas de projetos e patentes específicas. Apesar de uma boa explicação, o filme valoriza o seu espaço, e começa a resolver tudo de uma forma rápida demais. Mas felizmente, já estamos bem envolvidos por cada um dos personagens.
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Mendonça Filho não é uma pessoa de concluir seus filmes, é tudo muito interpretativo, apelando para horizonte de cada personagem, e da capacidade dos seus atores de captarem isso. Por sorte, os astros, ou alguma mandinga, todos captam seu momento de tela, e sua ideia de futuro depois que o filme termina. O adendo é apenas para a revelação de morte de um personagem, que teria um impacto muito maior se fosse encenada à plateia religiosa de “O Agente Secreto”.

Participações de luxo complementam o clímax da produção
O filme tem um trilha gostosa, de músicas nacionais, internacionais, quando não nos coloca no carnaval recifense, que é um procissão inegável de alegria desde que temos notícia. Mendonça Filho reproduz cada detalhe de uma cidade sem muitos excrúpulos, mas tão charmosa quanto Paris em sua Belle Époque.
Com participações seguras de Maria Fernanda Cândido, como Elza, uma das pessoas que ajuda essa espécie

de “programa de proteção à testemunha”, do qual Marcelo/Armando faz parte, e Alice Carvalho, que usa poucos minutos de tela para nos fazer entender o tamanho do talento que ganhamos através de obras como “Renascer”, “Cangaço Novo” e “Guerreiros do Sol”. Seu talento está no olhar, na respiração e na revolta de sua Fátima.
“O Agente” mantém vivo o desejo dos brasileiros por voos maiores
Em termos gerais, “O Agente Secreto” é o filme brasileiro mais esperado e mais elogiado do ano, e não só no nosso país, por conta de um conjunto de acertos. Sua narrativa não é completamente linear, com inserções do presente, mas sem perder a lógica e o elo de ligação entre os tempos representados. A história é densa, e talvez precisassemos de mais um par de horas para sair satisfeito do sala de cinema. Ou talvez, “O Agente Secreto” não saciasse a nossa sede de ver o cinema nacional indo tão bem.
E falando de Brasil. Da dor à esperança de dias melhores.