Muito além da notícia, mas sempre com a verdade
Para você que está chegando agora, esse é o terceiro artigo de uma série focada a indústria dos eSports. Neste episódio teremos o prazer de bater um papo com Luiz Gustavo Queiroga, jornalista do ESPN eSports Brasil. Então, se você quer fazer parte do jornalismo desta área, ou já possui um site/blog sobre jogos eletrônicos, prepare papel e caneta ou bloco de notas do celular, e confira essa notícia até final. Antes que eu me esqueça, no último bloco já divulgaremos o tema do próximo artigo.
A narrativa do Luiz Gustavo Queiroga no Jornalismo é similar a jornada do herói nos filmes
A trajetória de Luiz Gustavo Queiroga lembra bastante a de alguns animes japonês, nas quais o personagem principal evolui a cada etapa se tornando um grande destaque no final. Assim, sua jornada começa em 2010, como colaborador no time do Jornalismo Futebol Clube e no São Paulo Futebol Clube Digital, onde ele foi colunista do site, assistente de mesa e comentarista de mesa na web rádio. Inclusive, essa polivalência é característica dele até hoje. Já em novembro daquele ano se tornaria editor e repórter, cobrindo diversos eventos até 2013.
A partir disso, sua carreira passou pelos grupos Lance! e Bandeirantes de Comunicação. Até que em 2018, ele integrou o time de jornalistas da ESL, a maior produtora de torneios de eSports do Mundo. Assim, logo de cara, tornou-se responsável pelo conteúdo voltado para o Pro League e Major do jogo Tom Clancy’s Rainbow Six Siege, uma das franquias mais populares no cenário dos jogos de FPS, desenvolvido pela Ubisoft.
Hoje, Luiz ocupa o posto de jornalista de eSports dentro do grupo ESPN, além de roteirista e produtor multimídia. Confira agora o nosso bate papo com Luiz Gustavo Queiroga e entenda porque a história dele é similar aos personagens de animes.
Durante a sua trajetória, você iniciou no meio esportivo e a partir de 2018 iniciou na indústria do eSports, qual foi sua motivação?
Minha maior motivação veio do fato de eu sempre ter sido nerd. Eu sempre fui fã de anime, joguei vídeo game desde cedo, inclusive sofri bullying por conta disso no passado, algo totalmente diferente de hoje onde ser nerd é bom. Enquanto eu estava no BandSports eu procurava fazer pautas diferentes do comum, ou seja, diferente do o público do canal estava acostumado a assistir. Então, com o aval do meu editor chefe Luciano Borges, eu fazia notas sobre Street Fighter, Super Mário e elementos do universo Geek e Nerd.
Inclusive, meu maior case de sucesso foi uma matéria comparando o personagem Kratos de God of Wars com o zagueiro Maicon do São Paulo . A princípio, a comparação era apenas visual, porém, notei que a narrativa deles eram similares. Isso rendeu uma matéria de 4 min de vídeo comparando a trajetória dos dois. Já na reta final na BandSports, consegui quebrar um certo preconceito com os eSports, e incluí-los na grade principal.
Quais foram os maiores desafios no início da carreira nos eSports e quanto a sua experiência anterior o auxiliou?
Ajudou totalmente, afinal eu já estava com a forma moldada graças a experiência adquirida nos anos anteriores cobrindo esportes. Se você observar bem, são muitas similaridades entre os eSports e esportes tradicionais, desde campeonatos, classificatórias, patrocinadores e por aí vai. Assim, eu já estava familiarizado com processo de construção pauta, apuração, entender o que é notícia.
O desafio de fato começou quando entrei para ESL em 2018 (hoje BBL), onde eu me especializei no jogo Rainbow Six Siege (R6), partindo literalmente do zero. Contudo, graças às experiências anteriores, eu utilizei a técnica da adaptação. Ainda que a minha trajetória tenha sido construída no futebol, por vezes, eu tinha de comentar outros esportes contando com pouca informação. Isso me permitiu enfrentar o desafio de encarar o R6 e em no ano de 2018, eu fui de novato, passando por eventos como final do Pro League Rio de Janeiro me tornando uma das referências nessa área em cerca de 6 meses.
Respondendo ao título dessa matéria, qual a importância do jornalismo para a indústria do eSports?
No aspecto geral, a função da imprensa é passar informação, em outras palavras, somos o noticiário. Além disso, temos a missão de contar histórias, dar voz para pessoas que precisam ser ouvidas, expor o que não está funcionando.
Aliás, aproveitando para fazer um comentário, a indústria de eSports ainda não está pronta para o jornalismo, pois ainda confundem o papel do jornalismo como ” falar bem”.
Por exemplo, se um jogador está sendo prejudicado e não tem como expor, o papel do jornalismo é jogar luz a essa informação e permitir um amplo debate. Por isso que às vezes o jornalista é persona non grata. A imprensa não a inimiga, faz parte do nosso papel noticiar, seguindo os princípios básicos como responsabilidade, checagem de fatos e ter mais de uma fonte.
Resumindo, o papel do jornalista é noticiar e contextualizar o público com as informações daquele meio, servir para trazer informações de bastidores. E por fim, promover conscientização por meio de história, por exemplo, falar de racismo, machismo e homofobia nos eSports, apontar o ambiente tóxico e como lidar com isso. Afinal, levantar esses debates é necessário, pois o cenário de jogos eletrônicos, tanto no Brasil, quanto no restante do mundo são um reflexo da sociedade.
Como você lida com as pressões da comunidade de eSports?
O jornalista se sente pressionado o tempo todo. Tem muito colega de imprensa que faz apuração, traz a notícia redonda sobre a contratação ou dispensa de um determinado jogador. Logo após a publicação, as vezes, tem-se todo um movimento da torcida, dos fãs e, por vezes, até das organizações, de ataque ao jornalista. Então, ser jornalista não é fácil, pois quando falamos o que não querem o que seja falado, você tem um alvo gigante na sua cabeça. Seja por fãs,dirigentes, jogadores e às vezes até mesmo outros jornalistas.
Isso vai de encontro ao que eu disse antes, a indústria de eSports não está pronta para o jornalismo, afinal o simples fato de você noticiar algo, que é parte do trabalho, já gera atritos. Agora, imagina quando você vai pro lado do ativismo? Dar um opinião no eSports é um crime. Eu falo com propriedade, pois opiniões minhas já acarretaram em punições na minha vida, mas não abaixei a minha cabeça. Quem me acompanha no Twitter sabe, sabe as lutas que eu travo, ainda mais que sou uma pessoa negra e sempre levando essa discussão independente da data.
A verdade é que o meio de jogos eletrônicos não é inclusivo. A começar pela própria desigualdade social, pois comparativamente o preço de um PC Gamer já é bem mais do que o salário mínimo ( que é a realidade de boa parte da população). E quando você rompe essa barreira, você recebe ataques. Esses dias eu fui celebrar, no Twitter, a presença de personagens negros e aconteceu um engajamento que eu não esperava. Sofri ataques racistas apenas por dizer que preferia jogar com os personagens pretos.
Para quem está lendo essa série de artigos você acha necessário para iniciar uma carreira como jornalista de eSports?
Antes mais nada é gostar de jogar, ou então acompanhar as transmissões das partidas. Agora falando da parte prática é saber gerar portfólio. Então, para ser jornalista você precisa começar do zero, seja como blog, canal no YouTube, ou algum site de jornalismo colaborativo. Infelizmente, você precisa ralar trabalhando de graça, na intenção de gerar portfólio e a partir daí se mostrar pro mercado de trabalho. Não importa se você tem currículo bonito, fez uma faculdade renomada, mas não tem portfólio. Esse é um trabalho que funciona com o prático, fazendo texto,vídeo, podcast, gravação em áudio.
Além disso, não adianta esperar ingressar oficialmente no mercado de trabalho, você precisa correr por fora. E pra isso acontecer é necessário um portfólio, seja pelo WordPress, Medium, YouTube, Instagram ou Twitter. Vale lembrar que não adianta tentar fazer tudo, ou fazer algo intensamente, hoje todos estão noticiando. O segredo está em se diferenciar e chamar atenção, principalmente naquilo que você gosta. E claro, descobrir qual sua maior qualidade, seja fazendo matérias, vídeos, análises dos dados.
Agora, se você caiu em uma vaga numa empresa, o ideal é observar os objetivos da vaga, da empresa e fazer o melhor trabalho possível. De preferência estudar e conversar com as pessoas que já trabalham no meio.
Se o Queiroga fosse um personagem de anime…
Como disse no início deste bloco, se esse fosse um enredo de anime japonês e indústria de eSports fosse uma temporada, Queiroga seria um daqueles personagens extremamente habilidosos. Inclusive, como dissemos no primeiro artigo dessa série, há diversas maneiras para começar na área de esportes eletrônicos lembra? Então, curiosamente a história do jornalista Luiz Gustavo Queiroga juntou todo o que escrevemos, tal como a Marvel fez no filme dos Vingadores.
Prepare-se para ‘Cena pós-créditos’ da próxima fase
No próximo artigo, iremos conversar com o piloto Lucas Bonelli, um Pro Player do cenário de Automobilismo Virtual, vencedor de 4 campeonatos pela Liga Brasil Automobilismo Virtual. Com isso, iniciaremos a fase dois da série Indústria dos eSports.
Enquanto isso, você conheça as histórias de Jeff Giasi e Erick Goldner, que tiveram suas vidas transformadas por conta dos eSports de corrida, mas específicamente pelo iRacing.
Aliás, dizem por aí o que a Kolmeia conversou com a equipe do Podcast SimRacingNews para uma possível parceira para conteúdos do simulador iRacing, mas nada confirmado. #KolanoKolmeia.
Luiz Gustavo Queiroga irá voltar!