O tão aguardado retorno dos Libertines com “All Quiet on the Eastern Esplanade” chega como um divisor de águas. A banda que outrora nos presenteou com hinos caóticos como “Don’t Look Back Into the Sun” agora navega por um som mais polido, alguns diriam “seguro”, em seu quarto álbum de estúdio. Essa guinada sonora, lançada após nove anos de hiato, desperta reações contrastantes entre a crítica e os fãs.
Antigos Fantasmas e Novas Paisagens Sonoras
As resenhas do álbum pintam retratos distintos. De um lado, há quem elogie a maturidade dos Libertines, reconhecendo a criação de melodias contagiantes que remetem aos grandes nomes do Britpop. Do outro lado, reside a nostalgia por um passado turbulento, onde a energia bruta e a química explosiva entre Carl Barat e Peter Doherty reinavam supremas. A pergunta paira no ar: e se a imprevisibilidade de Doherty e o contraponto de Barat ainda estivessem presentes? Seria “All Quiet on the Eastern Esplanade” um álbum completamente diferente?
Ecos do Passado e Experimentações Ousadas
Apesar da mudança de direção, os Libertines não abandonam por completo suas raízes. “Oh Shit” flerta descaradamente com “Don’t Look Back Into the Sun”, enquanto “Night of the Hunter” busca inspiração em um clássico filme noir e no Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, em uma tentativa ousada, ainda que nem sempre bem-sucedida, de fusão de estilos.
Mas nem tudo se resume a relembrar o passado. “All Quiet on the Eastern Esplanade” também abre espaço para experimentações. “Baron’s Claw” injeta doses de jazz quente com suas linhas de trompete, enquanto “Be Young” se aventura pelos caminhos do reggae. A banda não se intimida em abordar temas sociais, entrelaçando o impacto do Brexit e a situação dos imigrantes em faixas como “Mustang” e “Merry Old England”.
O álbum também funciona como um retrato da nova base da banda em Margate, cidade litorânea inglesa que os acolheu. A faixa-título evoca a tranquilidade da orla marítima, enquanto “Mustang” traça o perfil de uma dona de casa alcoólatra de Kent com tons de glam rock ao estilo de Nashville. Margate se torna, assim, mais do que apenas um local de residência; é uma fonte de inspiração para a criação artística dos Libertines.
“All Quiet on the Eastern Esplanade” é, sem dúvidas, um álbum competente, que demonstra a proeza dos Libertines em compor músicas. No entanto, a ausência do caos eletrizante que os marcou no passado pode deixar alguns fãs com um gosto amargo. É inegável que a banda se mostra disposta a explorar novos territórios, mesmo que isso signifique dividir opiniões.
Conclusão
“All Quiet on the Eastern Esplanade” é um álbum que convida à reflexão. É um convite para revisitar o passado turbulento dos Libertines e apreciar a maturidade musical que conquistaram ao longo dos anos. É um convite para se encantar com novas paisagens sonoras e se surpreender com a versatilidade da banda. E também é um convite para aceitar a mudança e celebrar a capacidade dos Libertines de se reinventar.
Ao final, a decisão de amar ou odiar “All Quiet on the Eastern Esplanade” cabe a cada um. Mas uma coisa é certa: este é um álbum que merece ser ouvido, com atenção e sem pré-conceitos. É um álbum que nos convida a revisitar o passado, celebrar o presente e aguardar ansiosamente pelo futuro dos Libertines.
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