Em análises anteriores, o Kolmeia já comentou sobre a nostalgia que Hollywood vive atualmente. São inúmeros reboots e sequências que precisam alinhar o passado e o presente de maneira que faça sentido. Certamente, é um desafio que, muitas vezes, gera alguma insatisfação. Afinal, o mundo hoje tem demandas novas e válidas, mas também existe certo saudosismo de alguns elementos do passado. Nesse contexto, quase quarenta anos depois do filme original, Tom Cruise, encarna o piloto Pete “Maverick ” mais uma vez em Top Gun: Maverick. Será que o longa cumpriu seu papel?
LEIA TAMBÉM:
kolmeia.net/2022/01/27/ghostbusters-mais-alem-faz-tributo-divertido-e-emocionante-ao-original-de-84/
Alguns filmes te prendem pela trilha sonora, outros pela presença de algum ator específico. Porém, tem aqueles com um enredo que consegue se desenvolver e conectar diversos tópicos, de forma que fica quase impossível parar de assistir. Dito isso, ‘Top Gun: Maverick’, certamente, sobrevoa esses três campos. Além do mais, o longa presenteia o público com um verdadeiro espetáculo de acrobacias e cenas de fazer qualquer um perder a respiração, ou seja, um blockbuster para ninguém colocar defeito.
A evolução de top Gun
Com direção de Joseph Kosinsk, o filme se passa quase 40 anos após o primeiro. Já adiantando que por mais que as referências estejam lá (fotos, músicas e até mesmo flashbacks), o longa consegue impor seu diferencial. Afinal, tem uma execução tão bem elaborada que atinge o mesmo patamar do original. Aliás, graças às novas tecnologias, arrisco a dizer que ele superou o original em algumas partes. Inclusive, a impressão que dá é que se você não apertar bem os cintos na poltrona do cinema, você sair voando a qualquer momento.
No entanto, não são apenas as cenas de ação que foram aprimoradas. Até porque, hoje deve difícil construir a narrativa do personagem que não se encaixa no sistema, sendo ele um homem branco, cis e heterossexual. De certa forma, o sistema foi construído pensando no perfil dele. Mas a personalidade e o instinto de Pete não cabem em burocracias. Justamente por isso, o púbico, por mais diversificado que seja, consegue comprar a demanda do protagonista. Ainda mais quando Maverick desperta o sentimento de “descarte” das suas habilidades, com a evolução tecnológica.
Por outro lado, ‘Top Gun: Maverick’ apresenta uma situação peculiar em relação a pautas sociais. Não há problematizações evidentes, mas não quer dizer que o filme simplesmente ignore essa questão. Phoenix, por exemplo, é uma mulher entre os melhores pilotos do mundo. Porém, não há necessidade de provar isso. Ela simplesmente é e todos em volta dela sabem. Assim como os personagem negros também não precisam provar o direito de ocuparem seus devidos lugares.
Tom Cruise
Outro ponto positivo é sem dúvidas a participação do Tom Cruise. Todos já devem saber que ele praticamente não usa dubles em suas filmagens e se entrega de cabeça nas suas produções. Vide o exemplo da franquia ‘Missão Impossível‘ que parece ter encontrado a última fonte de renovação e boas ideias pra sequências presentes em Hollywood, uma vez que a cada filme, tudo parece subir de nível, seja roteiro ou cenas impossíveis.
Tom definitivamente se encaixa no padrão galã, do tipo que ainda faz as pessoas irem ao cinema só pela presença dele. Embora ‘Top Gun: Maverick’ tenha outros atrativos, a magia do filme, de fato, gira bastante em torno do ator. E ele, como sempre, faz isso valer. Tanto na personalidade, quanto nas ações e interações de Pete, o público sente que apenas Tom Cruise poderia estar ali.
As relações de Pete Maverick
Por falar em interações, o longa traz um show de química. A interação entre Tom Cruise e Jennifer Connelly é simplesmente hipnotizante. Inclusive, chega a ser curioso pensar que Penny sequer apareceu no primeiro filme. Na verdade, ela é a materialização de uma personagem que havia sido apenas citada como um caso de Maverick. Ela é a “filha do Almirante” com quem Pete se relacionou e é sempre um processo interessante ver uma um personagem ganhar forma, sem deixar apenas por conta da nossa imaginação. Some-se a isso o fato de Jennifer ser uma grande musa dos anos 80. Tudo culminou para o sucesso do casal.
Entretanto, é impossível evitar perguntas válidas sobre a ausência de Charlie (Kelly McGillis), inclusive levando ao questionamento sobre o etarismo que vitimiza atrizes de Hollywood, mas que é assunto para outro tópico,
Também vale destacar a interação entre Pete e Rooster. O personagem é filho de Goose, ex-parceiro de Maverick que morreu em uma operação malsucedida. Já na primeira cena, é mostrado como Rooster parece com seu pai e como isso ainda abala o herói da trama. A princípio, a impressão que dá é que o filho de Goose servirá apenas para o desenvolvimento de Pete e para que ele faças as pazes com seu passado e finalmente se perdoe.
Mas o personagem de Miles Teller ganha as próprias demandas e acaba por ir além da redenção do mocinho. Assim, eles formam uma dupla com uma química tão interessante que dá a impressão de que seria perfeitamente possível assistir uma série estrelada pelos dois.
Entre o tributo e a sátira
Um ponto importante em Top Gun: Maverick é a forma como reconstrói cenas icônicas da obra original. Tal fato, ora soa como tributo, ora como sátira. Se a cena de Rooster no piano pode soar como um tributo, outras cenas mostram como o filme é autoconsciente e brinca com sua própria história. A cena do vôlei de praia em Ases Indomáveis dá lugar ao futebol americano em Maverick. Chega ao ponto de beirar ao brega, a depender do ponto de vista. `Porém, com toda a sinceridade, vale à pena reivindicar o direito de ser brega para ver pessoas lindas, num cenário estonteante e numa luz dourada que deixa tudo e todos incrivelmente sexies.
Em contrapartida, o filme não é do tipo com plots twists surpreendentes. Na verdade, quem tem apego ao outro filme consegue deduzir praticamente tudo que vai acontecer. No entanto, uma obra é mais do que sua resolução, o percurso até lá é muito importante e Top Gun: Maverick faz esse percurso de modo super envolvente. E, por mais que se debata sobre ser um filme “heterotop” (e é), é um heterotop bom de assistir.
E para não perder o hábito, vamos à pegunta: Vale à pena assistir Top Gun: Maverick? Com certeza! Você estará diante de um blockbuster de 2022. Não é bom arriscar ter que dizer, daqui a 30 anos, que deixou a oportunidade de ver um clássico passar. Só não esquece de contar pra gente sua opinião nas nossas redes!