Seguindo nossos textos sobre os enredos das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, chegamos até a Academia do Samba: Acadêmicos do Salgueiro. Escola da Zona Norte do Rio, localizada no bairro da Tijuca, sempre muito cotada por seus enredos irreverentes, fortes, e necessários, em 2025, não poderia ser diferente. Sob o título “Salgueiro de Corpo Fechado”, a vermelho e branco, que das campeãs do Grupo Especial, é a que está há mais tempo sem o tão sonhado campeonato, 15 anos, está vindo com muita fé, proteção espiritual e muita mandinga para quebrar esse jejum.

O Salgueiro fará viagem cultural sob o aspecto da fé
A narrativa do enredo do Salgueiro, campeão pela última vez em 2009, com “Tambor”,

propõe um mergulho nos rituais de proteção utilizados por diferentes culturas ao longo do tempo, incluindo crenças africanas, práticas indígenas e elementos da cultura popular carioca. Elementos ancestrais, figuras muito respeitadas como as benzedeiras, entre outros aspectos, principalmente, os que são de cunho cultural afro-brasileiro. Figuras como os as ciganas da sorte, pombas-gira, exus e o malandro batuqueiro marcam presença na promessa de um potente desfile promovido pela escola.
Samba da escola está entre os mais reproduzidos entre todas
Composto por figuras conhecidas do cenário da cultura popular do samba, e consequentemente, da MPB, Xande de Pilares e Pedrinho da Flor são dois dos compositores do samba campeão. Dono de um dos refrãos mais repetidos do pré-carnaval, o samba-enredo se tornou o grande trunfo do Salgueiro na avenida. “Macumbeiro, Mandingueiro…” está na boca do povo. Os outros compositores são: Betinho de Pilares, Renato Galante, Miguel Dibo, Leonardo Gallo, Jorginho Via 13, Jefferson Oliveira, Jassa e W. Correa. Confira o vídeo de lançamento do samba-enredo, abaixo.
Confira um trecho da sinopse do carnaval do Salgueiro:
“Sem medo de macumba, sem medo de quiumba, o Salgueiro prepara o tacho de óleo de oliva, arruda, guiné, alecrim, carqueja, alho e cravo. Com o sinal da cruz na fronte, no peito, nas mãos e nos pés, nossa escola vai entrar na maior encruzilhada do mundo, a Marquês de Sapucaí, de corpo fechado. A história e cultura do fechamento do corpo está inserida em um conjunto de crendices presente em religiões africanas e européias que sobreviveram à travessia do Atlântico. Ao longo do tempo, o pacto para a proteção do corpo se diversifica e caminha com nuances próprias nas pequenas cidades do interior, na zona rural, na periferia, na cidade grande. Territórios de um mundo mágico-religioso, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções.
A crença na invulnerabilidade chegou ao Brasil por meio dos mandingos escravizados, do antigo Império Mali, que eram ao mesmo tempo guerreiros, feiticeiros e seguidores do islamismo. Do nome desse povo, veio o termo mandinga, no sentido de feitiço, mágica, coisa-feita, despacho. Embora fosse seguidor da religião islâmica, o fundador do Império Mali, Sundiata Keita, possuía, conforme se acreditava, poderes mágicos vindos dos amuletos que utilizava. As chamadas bolsas de mandinga eram costuradas em pano ou couro com passagens do Alcorão, portadas junto ao corpo para trazer proteção e poder, que se intensificavam em proporção direta ao número de talismãs usados.
Trazidas à Colônia, foram adaptadas como “patuás terapêuticos” contra “males” do corpo e da alma. Supunha-se que as bolsas de mandinga tinham propriedades de cura e que fechavam o corpo contra doenças e feitiços. Na Bahia, as passagens corânicas foram substituídas por orações cristãs, acrescidas ainda de diversos elementos, como balas de chumbo, pedra de corisco, pólvora, olho de gato, osso de defunto, moedas de prata, sangue humano e de animais. A potência das mandingas estava no ritual que lhes conferia um poder místico após sua confecção. Eram cozidas dentro de bolsas e defumadas com incensos e ervas para depois serem benzidas e enterradas em encruzilhadas à meia-noite ou depositadas debaixo do altar de uma igreja para em cima delas serem rezadas três missas, o que as tornaria ainda mais poderosas. Além de acreditarem ter o corpo fechado ao usá-las, muitos daqueles que traziam tais objetos em volta do pescoço esperavam também que lhes trouxessem dinheiro, sorte e mulheres.” (…)
Confira a sinopse completa AQUI.

Escola trouxe o atual bicampeão do carnaval paulista
Depois de muito bater cabeça, após a saída do Casal Lage, que passou 14 anos na escola tijucana (entre 2003 e 2017), não se encontrar com Alex de Souza, de 2018 a 2022 e tentar Edson Pereira, nos dois últimos anos, o Salgueiro chegou até Jorge Silveira. Conhecido no Rio pelos carnavais na Unidos do Viradouro e na São Clemente, foi em São Paulo que Jorge foi mais feliz. Bicampeão pela Mocidade Alegre, em 2023 e 2024, a vermelho e branco aposta em um estilo bem peculiar, menos grandioso e mais cartunesco e explorador para a sonhada 10º estrela no seu pavilhão.

Os dois pavilhões tijucanos no mesmo dia na Sapucaí
O Salgueiro desfile no mesmo dia da Unidos da Tijuca. A rivalidade estará aflorada na Segunda-feira de carnaval, dia 3 de Março, com a Academia do Samba entrando da avenida logo após a Beija-Flor de Nilópolis, que por sua vez, desfila Laíla depois da Tijuca encantar a Marquês de Sapucaí com Logunedé. A Unidos de Vila Isabel, de Paulo Barros, promete um assombroso, mas divertido desfile para fechar a segunda noite de Desfile das Escolas de Samba do Rio, em 2025.
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ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Ficha técnica:
Fundação: 05/03/1953
Cores: Vermelho e Branco
Presidente: André Vaz da Silva
Presidente de honra: Djalma Sabiá
Quadra: Rua Silva Teles, 104 – Andaraí – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20541-110
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 08) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP: 20.220-290
Site: www.salgueiro.com.br
E-mail: [email protected]
Em 2025:
Enredo: “Salgueiro de corpo fechado”
Carnavalesco: Jorge Silveira
Diretores de Carnaval: Wilsinho Alves
Intérprete: Igor Sorriso
Mestre de Bateria: Mestre Guilherme e Mestre Gustavo
Rainha de Bateria: Viviane Araújo
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Sidcley Santos e Marcella Alves
Comissão de Frente: Paulo Pinna