Os tradicionais textos que subiam resumindo algum período conturbado ou pronto para se desajustar da galáxia, já não empolgam mais seu fiel público. Para falar a verdade, algumas produções caracterizadas por essa abertura, nem mesmo tem mais essa cena. Uma perda de marcas. Falamos de Star Wars. A saga gigantesca que despontou nos anos 70 em um planeta desértico, com alguns robôs e uma galáxia inteira de novidade. Essas e mais algumas marcas da franquia foram ficando pelo caminho. E eu não falo das inovações tecnológicas orquestradas por George Lucas, na segunda trilogia realizada entre 1999 e 2005, também chamada de trilogia prequel. Ali, o melhor da tecnologia que poderia ter sido usada, foi, mas aliada a uma trilogia bem amarrada. A virada de chave atende por um outro nome, agora, à frente de toda criação da saga: Walt Disney Company.
O início de um sonho (ou de um pesadelo intergaláctico)
Quando George Lucas vendeu a Lucasfilm para a Disney, em 2012 e por mais de US$ 4 bilhões, deixou tudo sobre a batuta de Kathleen Kennedy, esposa de Frank Marshall e amiga de longa data de Steven Spielberg, assim como Lucas, a primeira novidade que anunciada, foi a terceira trilogia da saga. A tríade fecharia a história dos Skywalkers, e de quebra, veríamos Luke (Mark Hamill), Leia (Carrie Fisher) e Han (Harrison Ford). O tradicional e o novo. A continuidade da história mais tradicional e impactante do cinema, ao lado de uma nova e eletrizante série de filmes que mexeriam com os fãs mais conservadores. Os adolescentes ou jovens adultos do fim dos anos 70, agora, eram, pais e levariam seus filhos, sobrinhos, afilhados…
Star Wars sempre foi uma aventura familiar, estava de volta nas mãos de um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo, e não… A Disney jamais estregaria isso.
Ou será que não?
Derivados e “O Despertar da Força”
Rogue One. A Disney anunciou que produziria um derivado da franquia, situado momentos antes da trilogia clássica, focado exclusivamente na luta da rebelião contra o império instalado ao fim de “A Vingança dos Sith” (2005), terceiro episódio da franquia. Uma grande novidade para quem tinah visto, em live-action até então o fatídico especial “Caravana da Coragem”, em 1984, como apoio a saga original. A realização da produção foi entregue ao correto Gareth Edwards (Godzilla, 2014), mas ainda assim, uma legião de fãs, protestou quanto o que poderia estragar uma saga intocável. Antes disso, a Lucasfilm nos entregou “O Despertar da Força”, o episódio VII da franquia, numa nomeclatura que nasceu apenas após o segundo filme ser lançado em 1980: “O Império Contra Ataca”. Até então, tudo era “Star Wars” ou “Jornada nas Estrelas”, no Brasil. A própria Disney, supostamente, descredibilizou o fillme de Edwards, à época de seu lançamento, como vocês mesmo podem ler AQUI.
Falando sobre o Episódio VII, entre críticas mistas e uma boa avaliação dos novos personagens, interpretados por Dayse Ridley (Rey), John Boyega (Finn) e Oscar Isaac (Poe Dameron), e um vilão promissor, interpretado por Adam Driver (Kylo Ren), forjado à sombra do maior vilão do cinema mundial, Darth Vader, “O Despertar da Força” foi uma história de continuidade/reinício de uma franquia. A maior franquia do mundo do cinema.
Choque criativo e o primeiro fracasso da era Disney
Mas ficou tudo ai. O primeiro filme foi dirigido por J. J. Abrams (“Super 8”), e em uma troca de direções até bem vista com Ryan Johnson (“Entre Facas e Segredos“) assumindo o episódio seguinte, e Colin Trevorrow (“Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros”) dirigindo o último episódio, o IX, a ideia é que se mantivesse uma linha de roteiro que elevasse a franquia ao sucesso que já teve em outro momento, sem perder a linearidade nas narrativas. Tal como foi feito por Lucas na trilogia clássica, onde só dirigiu o primeiro filme, “Uma Nova Esperança”. Mas não foi nada disso que aconteceu. O bem avaliado “O Despertar da Força”, foi sucedido pelo derivado “Rogue One: Uma História Star Wars”. Sucesso. Surpreendentemente, a trama desenvolvida também por Edwards, além de Tony Gilroy e Chris Weitz, foi uma história fechada, e é ainda considerada o melhor produto desenvolvido para o cinema da fase Disney.
Então veio Ryan Johnson e seu “Os Últimos Jedi”, em uma tradução não tão literal, já que o título original era “The Last Jedi”. Interpretativo para alguns. Claro para outros. Johnson simplesmente desconstruiu Luke Skywalker, a grande surpresa do final do episódio anterior, e construiu uma história sombria e até então ousada para a franquia. Como um filme independente, “Os Últimos Jedi” não se sairia mal. A crítica ficou encantada pela sintonia de Rey e Kylo Ren, e com as cenas de lutas primorosas. Mas como parte de uma trilogia, os Jedi não podiam acabar daquele jeito…
Entendeu, Ryan?
Solo e o retorno de J. J. Abrams para a franquia
À luz de um primeiro alerta vermelho, a melhor coisa a se fazer é focar no último episódio e tentar recuperar esse público perdido certo? Não. Vamos lançar mais um spin-off, disse Virgínia Wolf, ou melhor… Kathleen Kennedy. “Han Solo – Uma História Star Wars” surgiu com grande elenco, ancorando na popularidade do contrabandista mais amado da galáxia! Mais uma antologia do universo, porém canônica! Emilia Clarke (“Game oh Thrones”) e Donald Glover (“Community”), estrelaram o filme ao lado do canastrão Alden Ehrenreich (“Dezesseis Luas”), que nem de longe, parecia o Solo de Ford e Lucas. Era apenas o Solo de Kennedy. Ou do Mickey, quem sabe.
“Solo” não foi bem recebido como “Rogue One”. Nem mesmo Clarke conseguiu acreditar na produção, alegando que nem tinha conseguido assistir o filme (veja isso aqui). Glover, que interpretou uma Lando Calrissian quase melhor que o original, sendo um dos melhores
ganhos não só da produção, como da saga inteira, segue a espera da sua série, do seu filme, da sua minissérie… E olha que Lando Calrissian também caiu como uma luva para o ator.
Já no último episódio da franquia, o episódio IX, uma surpresa prometia salvar a saga. O Imperador Palpatine, interpretado de forma primorosa por Ian McDiarmid. “A Ascenção Skywalker” foi dirigida por… por… J. J. Abrams. Isso mesmo, no meio do processo criativo de Colin Trevorrow, seu “Duel of The Fates” foi jogado no lixo por Kennedy, e Abrams chamado às pressas. Por dois motivos: Ele já tinha realizado o primeiro filme da retomada da franquia e precisava desfazer muito do que foi feito por Ryan Johnson no filme anterior. Vide a clara mudança do personagem de Mark Hamill de uma produção para outra.
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Retcons pelo Disney+ e a nova empreitada do universo Star Wars: As séries live-action
Abrams aceitou o desafio. Construiu um retorno que seria amparado pelas produções seguintes, para o Disney+, streaming da Disney lançado em 2019, em um segundo momento, e trouxe de volta Darth Sidius, o Imperador Palpatine, grande vilão da saga. Em um filme corrido, e já sem a presença de Carrie Fisher, falecida em 2016, o episódio IX deixou uma série de lacunas e exterminou o desenvolvimento de alguns personagens principais e de coadjuvantes inseridos nos filmes anteriores, nos episódios VII e VIII. Apenas Rey e Kylo Ren importavam. Resultado, um final que desagrada ainda hoje, 5 anos depois, grande parte do fandom da franquia criada por George Lucas.
Longe do cinema, a Disney usou o seu streaming, o valioso Disney+, para lançar a maior incursão fora da tela grande de Star Wars: “O Mandaloriano” (ou “The Mandalorian”). A história de Mando e Baby Yoda acertou em cheio o coração dos fãs e resgatou boa parte do fandom pelas mãos de Jon Favreau (“O Rei Leão”, 2019). Favreau, laureado pelo live-action de “O Rei Leão” lançado no mesmo ano, orquestrou um dos produtos de maior sucesso da saga fora do cinema. Em pequenos retcons (pequenos ajustes ou mudanças de fatos em uma obra ficcional), a Disney foi fazendo as pessoas entenderem por que o Episódio IX poderia fazer sentido. Mas grande parte ainda prefere esquecer o que viu…
“Você não viu nada…” – será que usando a força, funciona?
Sucesso das séries e o retorno de Ewan McGregor e Hayden Christensen
Seguida por uma segunda temporada de sucesso, “O Mandaloriano” se consolidou e deu vez a Boba Fett, em uma tentativa de fan service que acabou saindo pela culatra. “O Livro de Boba Fett” não agradou ninguém, talvez apenas Temuera Morrison (“Aquaman”), mas isso não foi suficiente. Na esperada “Obi-Wan Kenobi”, saudosa e necessária, Ewan McGregor (“Moulin Rouge – Amor em Vermelho”) e Hayden Christensen (“Jumper”) reprisaram os papéis mais famosos da trilogia prequel, inteiramente dirigida por George Lucas. Em cenas brutais, tivemos fan service de qualidade.
Já Tony Gilroy acertou em cheio um público carente de conhecer um pouco mais sobre a Aliança Rebelde. “Rogue One”, estrelado por Felicity Jones (“A Teoria de Tudo”) e Diego Luna (“Narcos: México”), deu gosto aos fãs, e Gilroy resolveu nos dar ainda mais, para saber sobre a formação da maior resistência ao Império Intergaláctico. A estreia de “Andor”, traz de volta Luna, antes de conhecer sua equipe do filme, e de como o personagem e seus pares lidaram com o avanço do Império. História acertada e bem conduzida. Solucionando lacunas e nos dando informações que só a infinidade de quadrinhos de Star Wars, contém. a segunda temporada, e também temporada final de “Andor” chega em 2025, no Disney+.
Filoni finalmente assume o seu lugar na Lucasfilm
Depois de muito pedir Rosario Dawson conseguiu o tão sonhado papel de Ahsoka Tano, na série homônima. “Ahsoka”, encabeçada pelo herdeiro criativo de George Lucas, Dave Filoni, se tornou um sucesso, pela integração com “O Mandaloriano” e também pelo resgate de detalhes preciosos do Universo Expandido. Dentre eles, o Grão Almirante Thrawn. O herdeiro do Império. Além de uma continuação espiritual de “Star Wars: Rebels”, Filoni usou tudo que pode para transformar a série em um sucesso sem tamanho, mas não só com fan services, mas também com qualidade e uma história espetacular, dando novos rumos à força.
E ai, depois de dois grandes êxitos, começam de novo as especulações e as produções duvidosas… Além de não investir na continuidade imediata de produtos como “Ahsoka” e “Obi-Wan Kenobi”, a Lucasfilm decidiu lançar “The Acolyte”, uma série sobre duas irmãs forjadas pela força, que deturpou completamente a regra de dois dos Sith, e foi um entretenimento completamente pífio, resultando no seu cancelamento quase imediato ao fim da exibição da temporada.
O futuro de Star Wars
Além disso, “O Mandaloriano”, pode ter a sua quarta temporada cancelada. As vésperas do filme que vai continuar as três temporadas de “The Mandalorian”, no original, que estará nos cinemas em breve, a Lucasfilm não confirmou a quarta temporada. Assim como o segundo ano de “Ahsoka” e de “Obi-Wan Kenobi”, o quarto ano de Mando e Grogu, também é incerto.
Muitos produtos, anúncios e lançamentos. Em breve, “Skeleton Crew”, de Jon Watts e Christopher Ford, estreia e a expectativa não é mais a mesma gerada com o anúncio da nova trilogia, em 2012. Os fãs estão apreensivos. A série vai acrescentar? Ou confundir? Star Wars ainda é maior franquia do planeta. E não mais só pelo que se vê no cinema. A saga deu origem a muito do que consumimos como Cultura Pop.
O que será dos próximos anos? Temos alguns filmes em produção, inclusive com o retorno de Dayse Ridley, a série de filmes de Ryan Johnson, algumas séries engatilhadas e outras no limbo. Assim como a Marvel da Disney, Star Wars passa por um momento de instabilidade, e resta saber se a volta pros trilhos depende de uma conexão maior com a força, não das histórias, de seus personagens e de seu criador. Mas de quem gerencia tudo isso. Star Wars é grande demais para apenas sobreviver.
Eu só posso dizer que… “Eu tenho uma mau pressentimento sobre isso.”