Depois dos resultados questionáveis de Adão Negro (crítica aqui), a atenção do púbico da DC se voltou totalmente às expectativas sobre “Shazam! Fúria dos Deuses”. Afinal, o primeiro filme foi muito bem recebido entre crítica e público. E não é para menos, pois o elenco é bastante carismático e a temática da família fora do padrão gerou bastante empatia e conexão. Isso somado a boas doses de aventura e humor. Felizmente, o segundo longa traz todos esses elementos de volta de modo mais maduro. Por outro lado, a dobradinha Asher Angel/Zachary Levi dando vida a Billy Batson/Shazam ficou um pouco prejudicada de um longa para o outro. Em contrapartida, isso se torna pequeno diante da consolidação da Família Shazam!
Dessa vez, a história começa com as Filhas de Atlas, Kalypso (Lucy Liu), Anthea (Rachel Zegler) e Hespera (Helen Mirren) buscando recuperar os poderes de seu pai e reconstruir seu mundo anteriormente destruído. Entretanto, o plano de reconstrução, deu lugar a um projeto de vingança contra a humanidade. Nesse contexto, o único empecilho ao plano maligno é a família Shazam. Porém, nem mesmo a tentativa deles de serem os heróis da Filadélfia está dando muito certo. Ainda assim, Billy Batson e seus irmãos embarcam em mais uma aventura contra a Fúria dos Deuses!
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Essa família é muito unida
É fato que a família de Billy é um ponto de extrema importância dentro da narrativa de Shazam! Se no primeiro filme o desafio é compreender o abandono e se abrir para novas possibilidades, em Fúria dos Deuses, a questão para Billy é dar a essa configuração atípica o status de família. Talvez, esse plot não tenha sido tão bem desenvolvido quanto na primeira temporada, mas, ainda assim, proporcionou uma resolução bem emocionante.
Em relação aos irmãos de Billy, “Shazam! Fúria dos Deuses” tem prós e contras. Como ponto positivo, temos o foco maior em Freddy (Jack Dylan Grazer). Além do personagem ser super carismático, o ator é bastante talentoso. E a dobradinha com Rachel Zegler deu muito certo. Em contrapartida, Mary (Grace Fulton) funcionou como uma “voz da consciência” para Billy entender que está ficando adulto. Porém, ela mesma não teve sua personalidade e suas questões bem trabalhadas. Quanto aos demais, faltou também um pouco mais destaque para a fofa Darla (Faithe Herman).
Asher Angel x Zachary Levi
Um problema que o filme enfrenta é a diferença de tons dados a Billy em sua versão jovem e sua versão Shazam! Zachary Levi entrega um personagem ainda mais caricato, o que até combina com a proposta divertida do filme. A questão é que o Billy Batson de Asher Angel tá mais maduro. Se no primeiro filme o menino era um adolescente de 14 anos iludido em relação ao abandono materno e extasiado com os poderes e privilégios de parecer um adulto, em Fúria dos Deuses ele está prestes a completar 18, um pouco mais ciente de sua responsabilidade. A insistência em um herói caricato pode distanciá-lo da personalidade do “Billy normal”. Ainda assim, não é difícil se apegar às duas versões do herói, mas não é legal uma perder a outra de vista em uma possível continuidade.
As Filhas de Atlas
Outro arco essencial ao desenvolvimento de “Shazam! Fúrias dos Deuses” é o das Filhas de Atlas. Inclusive, faria mais sentido o filme se chamar Fúria das Deusas, já que nesse longa especificamente são elas as antagonistas. Helen Mirren e Lucy Liu são atrizes veteranas e talentosas. Porém as escolhas do roteiro e da direção de David S Sandberg limitam o potencial das duas. Helen, fã do primeiro filme, chegou a declarar que não entendeu muito bem a trama enquanto filmava. Liu, que acaba por ser a mais vingativa das irmãs, não demostra o peso dramático necessário.
Por outo lado, Rachel Zegler tem a chance de brilhar ao lado de Jack Dylan Grazer. A química entre os dois é super convincente e a dinâmica conquista o público, com um plot mais leve e intimista.
Shazam e o Universo Cinematográfico da DC
Este, certamente, é um tópico que mexe com a curiosidade dos fãs. Para muitos, inclusive, Shazam perde o apelo por ainda estar ligado ao DCEU e a seus personagens originais. Não que isso seja um problema por si so, mas que, de certa maneira, fala mais sobre passado do que sobre futuro. Afinal, alguns personagens já foram descontinuados e não há porque fazer referência a eles o tempo todo. E, convenhamos, o público está sedento pelos rumos que a DC vai ter nas mão de James Gunn e nos são entregues pouquíssimas pistas no longa dirigido por David S Sandberg.
Talvez essas questões citadas tenham sido cruciais para o segundo longa debutar no Rotten Tomatoes com avaliação bem inferior ao primeiro. Enquanto o filme de 2019 tem 90% de avaliações positivas, “Shazam! Fúria dos Deuses” tem apenas 62% ate agora. Ainda assim, o filme é uma experiência muito válida. É possível garantir umas boas risadas, uma emoção genuína e boas cenas de ação. Além do mais, é uma oportunidade de se acostumar um pouco mais com o fim da DC sombria. A era colorida começou com uma produção para toda a família e com lições muito bonitas de amor e coletividade. Problemas estruturais não precisam ser ignorados, mas não abalam o delicioso entretenimento de assistir a nova aventura do Campeão.