De rosto fechado e postura ereta. Algumas ordens, na maioria das vezes, esporro. Prezando por excelência, sem perder o brilho e o luxo. Esse era Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, mais conhecido como Laíla, que por muitos anos foi líder máximo, carnavalesco e cansou de sair vitorioso na azul e branco de Nilópolis. Na reportagem que continua a série sobre os enredos das Escolas do Grupo Especial do Carnaval carioca, A Beija-Flor de Nilópolis traz o enredo “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, e promete contar também um pouco da sua história, através de um mestre nato e condutor de muitos carnavais.

Trajetória de Laíla promete emocionar a Sapucaí
Mas não só de Beija-Flor viveu Laíla enquanto figura imponente do Carnaval do Rio.

A agremiação, que é a maior vencedora de carnavais da era Sambódromo, vai contar a história da trajetória de Laíla desde a fundação da “Unidos da Ladeira”, escola-mirim oriunda do lugar onde nasceu: O Morro do Salgueiro. Passando pela Acadêmicos do Salgueiro, onde foi campeão, e chegando em uma jovem Beija-Flor, em 1975, cruzou o caminho de Joãozinho Trinta, outra importante figura do carnaval do Rio de Janeiro e de cara um tricampeonato (76, 77 e 78).
Quando, no samba enredo desse ano (que você podem conferir o vídeo de lançamento, abaixo), podemos cantar “chama joão pra matar a saudade”, é um relato fidedigno da história vencedora de Joãozinho Trinta, que hoje dá nome à Cidade do Samba, onde ficam os barracões das 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio, e de Laíla, que com seu temperamento forte, sempre soube conduzir bem as escolas por onde passou. Sempre com muita fé, respeitando a ancestralidade e sendo muito profissional. Infelizmente, após romper com a “Deusa da Passarela”, Laíla esteve na Unidos da Tijuca e União da Ilha do Governador, antes de ter um declínio com relação a sua saúde, e falecer em 2021.
Confira um trecho da sinopse do carnaval da Beija-Flor:
“Peço licença para buscar o melhor caminho ao revisitar a história e reviver a trajetória vitoriosa de um bamba.
Kaô Kabecilê, Xangô Menino da Pedreira de Salgueiro! É o brado da aldeia nilopolitana, evocando o Deus do Trovão, do alto de seu trono, a fazer justiça com o seu machado, pelo reconhecimento do seu real valor. Sopram os ventos de Oyá, trazendo alento à memória do filho nascido do ventre de Dona Corina, e renascido em Orixá.
Da conexão com a regência do Ori e da reverência à ancestralidade de matrizes africanas, a Fé sincrética como guia, que ia muito além dos muitos colares de fios de contas carregados em volta do pescoço; a convicção inabalável de que primeiro a gente coloca o pé, depois o Sagrado coloca o chão.
De joelhos dobrados e mãos impostas, o Amor devocional à Deus sobre todas as coisas em harmonia com o respeito aos rituais e preceitos, oferendas, mandinga e feitiçaria. O clamor por diretrizes, bênçãos e proteção refletido nos amuletos, patuás, balangandãs e santinhos de devoção; misticismo em sintonia com os Caboclos e a energia de cura da mata; o sortilégio da magia cigana; a pureza e a doçura dos brincantes Ibejis; a sábia experiência resiliente no aconselhamento dos Pretos Velhos aos seus “fios”.
Comandante do exército quilombola da Pequena África situada na Baixada Fluminense, sempre enalteceu a africanidade latente do berço de nossas raízes e a potência do Povo Preto; e com a bravura de um leão movido pela coragem de agir com o coração, deu voz aos descendentes da nobre dinastia do continente de onde vieram os nossos antepassados. Sabedoria que valida o protagonismo da negritude e a resistência dos excluídos invisíveis aos olhos insensíveis relegados a margem da sociedade. (…)”
Confira a sinopse completa AQUI.

Jejum da escola já dura 7 anos
Acostumada a vencer, e vencer bem, a Beija-Flor de Nilópolis, marcante por desfiles acachapantes (como “Ratos e Urubus”, em 89, e “Agotime”, em 2001), muitos que nem levaram o título de campeã do carnaval, mas são lembrados e reverenciados por sua torcida apaixonada, enfrenta um jejum de 7 anos sem o ponto mais alto da classificação final dos desfiles. Em 2018, ano de despedida de Laíla da azul e branco, a escola se sagrou campeã, com o enredo “Monstro É Aquele que não Sabe Amar. Os Filhos Abandonados da Pátria que os Pariu”, conquistando seu 9º título na Sapucaí, e o 14º da sua história.
Escola é a 2ª a desfilar na Segunda de carnaval
Logo depois de abrir a segunda-feira de carnaval, 2 de Março, com um desfile sobre Logunedé

(que já falamos aqui sobre e que vocês podem conferir todas as nossas outras reportagens abaixo), a Beija-Flor de Nilópolis debuta em 2025 para o seu desfile, como a segunda escola da noite, em um carnaval desenvolvido pelo talentoso João Vitor Araújo, com passagens por Unidos do Viradouro, Unidos de Padre Miguel, Cubango e Paraíso do Tuiuti.
Parceiro de Rosa Magalhães, na escola de São Cristovão, João trouxe muito do que aprendeu com “a professora”, falecida em julho de 2024, para a Beija-Flor já em 2024, conquistando o 8º lugar na classificação dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio. Já após a “Deusa da Passarela”, alcunha da escola de Nilópolis, a Acadêmicos do Salgueiro e a Unidos de Vila Isabel fecham o segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí.
Confira as outras reportagens feitas pelo nosso portal sobre agremiações do carnaval do Rio, em 2025.
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BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Ficha técnica:
Fundação: 25/12/1948
Cores: Azul e Branco
Presidente: Almir Reis
Presidente de honra: Aniz Abraão David
Quadra: Rua Pracinha Wallace Paes Leme, 1025 – Nilópolis – RJ. Cep: 26.050-032
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 11) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa. Cep: 20.220-290
Site: www.beija-flor.com.br
Em 2025:
Enredo: “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Diretores de Carnaval: Marquinho Marino
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Mestre de Bateria: Mestre Rodney e Mestre Plínio
Rainha de Bateria: Lorena Raissa
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho e Selminha Sorriso
Comissão de Frente: Jorge Teixeira e Saulo Finelon