O meme de que o Brasil é a região da criação de conteúdo no LoL nunca foi tão verídico. Acredito que não seja novidade para nenhum amante de esportes eletrônicos que não performamos bem contra times do exterior, e não foi diferente na primeira edição da LTA Sul.
A repercussão da comunidade nas redes sociais foi condizente com o desempenho apresentado — ou a falta dele. Entretanto, será que vivemos a situação de terra arrasada que muitos pregam?
Vamos começar com a frase que deu título a este texto: somos bons apenas em jogos de tiro? Em sua maioria, talvez. Mas, usando como exemplo Lelis, player de Dota 2 que possui uma carreira vitoriosa e com diversas passagens internacionais, ele discordaria com afinco.
Ainda nesse tema, criemos uma comparação entre o CS2 e o LoL. Logo de cara, podemos perceber uma ciclagem de atletas infinitamente maior no FPS da Valve. Só esse fator já é motivo suficiente para termos mais nomes no cenário e, consequentemente, melhores resultados — ou, ao menos, mais opções no mercado. Claro que isso se deve ao modelo adotado pela desenvolvedora, que incentiva a existência de inúmeros campeonatos e trabalha com um calendário internacional muito mais recheado. Não podemos esperar isso da Riot, infelizmente.
Então, qual poderia ser a solução para isso? Algo que poderia ser uma opção a longo prazo seria usar o Academy/T2 com seu objetivo inicial: revelar novos talentos. Sem players já consagrados ou experientes, mas focando apenas em desenvolver novos talentos. Esse movimento poderia dar a chance de que uma nova geração de atletas fosse revelada e, pela primeira vez, sem os vícios antigos que são carregados de geração em geração. Afinal, nunca houve uma mudança significativa nos nomes que estavam na elite do LoL brasileiro. Eram sempre os mesmos players disputando o CBLOL, apenas com tags diferentes antes dos nicks. Poucos nomes surgiam, mas sempre eram mesclados com antigos.
Um discurso muito comum, disseminado nas redes sociais, foi: devemos aceitar que somos ruins e ponto. Porém, isso vai contra o princípio básico da competição. Se aceitamos que nossos jogadores são ruins, então que busquemos novas opções, e que fiquem no passado aqueles que hoje são considerados fracos e sem perspectiva de evolução para um nível competitivo.
Vale lembrar que, quando falo em qualidade, não me refiro apenas à habilidade do atleta, mas também ao comprometimento.
Entretanto, será que os donos de organizações estariam dispostos a fazer essa aposta na nova geração? O investimento em uma nova leva de atletas sempre vem carregado de riscos. Para ser justo, essa não seria a primeira vez que algo assim aconteceria em solo brasileiro. Em 2021, a RED Canids Kalunga disputou o CBLOL com uma line-up estreante, tendo o adicional fundamental para essa receita um único atleta, que apesar de sua pouca idade na época, já podia ser considerado veterano e muito vencedor, TitaN.
Enfim, devemos tentar entender o que se passa conosco de uma forma mais profunda. Em diversos momentos, ficou claro que os brasileiros sentiram a pressão. Tomadas de decisão erradas e falhas mecânicas — que normalmente não aconteceriam — foram imagens recorrentes no último final de semana. Possivelmente, se fossem outras tags no lugar de 100T e C9, LOUD e paiN não teriam cometido os mesmos erros.
Agora, precisamos discutir a respeito do motivo de ainda sentirmos pressão em partidas contra equipes do exterior. Antigamente, a culpa recaía sobre a falta de experiência. Mas será que ainda podemos usar essa desculpa? Levemos em consideração que não foram players inexperientes que subiram no stage, mas sim atletas consolidados e veteranos de cenário, com participações em competições internacionais. Claro, performar contra times de fora é uma responsabilidade que vem sendo carregada há mais de uma década, e isso pode influenciar — mas não deveria.
Respondendo a indagação que levantei antes, não acredito que vivemos uma situação de terra arrasada. Particularmente, não acredito que todos são ruins ou incapazes de se desenvolver. Mas, em sua maioria, sim. Se o nível da competição como um todo fosse elevado, abriríamos espaço para que os bons nomes que temos evoluíssem ainda mais e se acostumassem com partidas difíceis. A competitividade obrigaria quem quer se manter como profissional a sair da zona de conforto, pois haveria outros nomes disputando suas vagas tão almejadas.
Nenhuma opção para melhoria será fácil, levando em consideração que estamos falando de um risco de investimento altíssimo para as organizações. Porém, manter os mesmos nomes que falham há anos nos times de elite e esperar uma mudança milagrosa de desempenho é o mesmo que dar murro em ponta de faca e ser conivente com a pergunta que deu início a este texto: somos bons apenas em jogos de tiro?
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