Tem sido recorrente nos enredos da Acadêmicos do Grande Rio, histórias que remetem a caboclos e respeito a ancestralidade por meio das religiões de matriz afro-brasileiras. E a escola caxiense, capitaneada por Milton Perácio, não ia fugir das temáticas enquanto fala de um estado da Região Norte. Todos muito místicos e folclóricos. E com o enredo “Pororocas Parawaras: As águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”, a escola vai fazer uma viagem por águas misteriosas, religião e muito carimbó cantando o estado do Pará.

As três princesas turcas fogem para o Brasil
A escola promete contar a história da fuga de 3 princesas turcas, mergulhando no universo do Carimbó, que são elas Mariana, Jarina e Herondina, as Belas Turcas; e a Cabocla Jurema, que, conforme detalha a tricolor de Caxias, “personifica a própria floresta”.

As Três princesas, que são irmãs, foram encantadas na Praia dos Lençóis, no Maranhão, após fugirem da Turquia por causa da Revolução do país. Os seguidores de religiões com matriz afro-brasileira conhecem bem essa história e homenageiam, todos os anos, as princesas. Partindo de alguns versos cantados por Dona Odete, a Grande Rio, se embrenha em águas parauaras e leva o Tambor de Mina para a Marquês de Sapucaí.
Samba da escola foi escolhido em seletiva entre Rio e Pará
A parceria que venceu a disputa para o samba da Grande Rio em 2025, foi a dos compositores Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes. Justamente a parceria paraense da disputa. Damasceno, é um dos bambas da “Deixa Falar”, é quilombola do Salvá, no Município de Salvaterra, no Arquipélago do Marajó, e também criou o Búfalo-Bumbá. Tem deficiência visual desde os 19 anos. Confira abaixo o samba da “Deixa Falar” que já é um dos mais badalados do pré-carnaval.
Confira um trecho da sinopse do carnaval da Grande Rio:
“De todas as coisas do fundo eu vou falar um pouco. Ouvidos abertos, atentos à voz que baila. É ela quem versa o ponto, pinta o rosto, poetiza: remanso. Porque “as águas dos meus encantos… é doce!”
1.
Água doce me leva, deixa as águas me levar
pra barreira do mar
No balanço, eu conto uma história de Princesas e Encantarias, areias, brumas e barro. Desfio a colcha de retalhos. Sigo em frente, mareando. Banzeiro de barco. Terceira margem, à beira. Mouros e mururés. Tudo, pois, começou no mar, em meia-viagem, nas tempestades. Tempo fora do tempo, quando a gente peregrina. Encruzillhadas cruzadas, fantasmas, mas é isso (ou aquilo): lenda, crença, reza, mito. Dizeres, letras que flutuam. Lanternas. Palavras que não afundam nas fossas abissais. Sereias e abassás, terreiros nos cantos das águas. Sangue, sal, saudade – a vida nada.
Contam de um sábio Rei, Sultão de nome afamado, cujas filhas embarcaram, fugindo das guerras santas. Eram três as Maresias, Tóias Turcas, Joias d’Água, navegando, navegando: Mariana, Herondina e Jarina. Que não conheceram a morte, uma vez que o mistério é o presente, verde, muiraquitã no peito: diante do arrebatamento, o naufrágio o inevitável, cruzaram os Portais da Encantaria e mergulharam no Espelho do Encante. O Avesso. Quando a névoa se fez incenso – e o céu, azul, azulejo.
2.
Verequete é o Rei coroado lá no mar
Coroa, coroa, coroa… brilhou no mar
Nas praias do Grão-Pará, brancas, lençóis de algodão, a Turquíssima Trindade encontrou um protetor. Verê, Averequete, Vodum poderoso, Tói, Totem das Ondas, Senhor das Espumas. Que se transforma em Pombo Roxo e pajeia, cintilante, a única das Sete Cidades que pode ser contemplada, vasta, sobre a imensidão barrenta. Marajó das revoadas, Aguaguara, vertigem! Viram, então, palácios e berçários, sementes da vida, romã-biribá-bacuri. Vida que vira mangue, mangue que oferta argila para que essa infindável vida seja traduzida em traços, ocos, vasos, dutos: olho d’água, útero do mundo. Na lama, no pântano, nasce a flor mais bonita – aprenderam, à deriva. Seguiram.
3.
Um chamado do fundo / você tem que respeitar
Assim disse um caramujo / que lá foi visitar
As águas driblam seus cursos, levam e lavam, no contrafluxo desse barco, que risca, lentamente, o arco espelhado do Encante. No fundo dos igarapés, nas bocas das matas, os bichos se transfiguram. Flecham! Cobras, sapos, peixes, caruás, o segredo em Pena e Maracá, Pajelança Cabocla. Mãe d’Água canta, Boto assovia, Boiúna se agita no lodo, Caipora e Curupira rodopiam nas clareiras. Mapinguari espia, Matinta espreita. A floresta, ela mesma, se materializa em entidade: Jurema, Quarta Conta, deusa cuja coroa, cocar tricolor, se uniu às três Soberanas. Rebatizadas, nas cascatas da Amazônia, Mariana foi Arara cantadeira; Jarina, a Jiboia vigilante; Herondina, a Onça do meu destino.” (…)
Confira a sinopse completa AQUI.

Escola vem de quase decesso, renovação e título
A Acadêmicos do Grande Rio é a escola mais jovem do Grupo Especial. Fundada em 1988, juntando as escolas tradicionais caxienses,

GRES Grande Rio e Acadêmicos de Duque de Caxias, a escola conquistou acesso ao principal grupo dos Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e fez marcantes carnavais, em 1993, 1998, 2003, 2006 e 2007, quando chegou a ser vice-campeã do carnaval. O feito se repetiu em 2010. Quando um decesso foi impedido em 2018, após um carnaval capitaneado pelo Casal Lage, a Grande Rio se transformou.
Trazer Gabriel Haddad e Leonardo Bora, da Cubango, em 2020, transformou tudo que se viu da escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, até então. Com um estilo particular, colorido e desfiles resultados de pesquisas profundas, a Acadêmicos do Grande Rio se sagrou vice-campeã do carnaval mais uma vez, em 2020, perdendo o título para a Unidos do Viradouro e se sagrando campeã do carnaval pela primeira vez na sua história em 2022, com “Fala Majeté – As Sete chaves de Exu”, mais uma vez com Bora e Haddad como carnavalescos. Em 2025, a dupla tem o auxílio de Rafa Bqueer, pesquisadora e artista visual, com o enredo sobre o Pará.
Desfile da escola é na terça-feira de carnaval
Antecedendo a última escola a cruzar a Marquês de Sapucaí, nos desfiles oficiais, esse ano, a Portela, a Grande Rio leva o Pará para a avenida na Terça-feira de carnaval, 4 de Março, logo após Mocidade Independente de Padre Miguel e Paraíso do Tuiuti. A escola manteve Evandro Malandro, intérprete e puxador desde 2020, e também o Mestre Fafá no comando da Invocada.
Buscando o bicampeonato, a Acadêmicos do Grande Rio, apostou na manutenção de boa parte da sua equipe de carnaval, e vem mais uma vez com um carnaval voltado para o lado ancestral, da fé que o carnaval e a maior parte dos foliões professa, se reconectando consigo mesmo, e um histórico de enredos afro-brasileiros que compreendeu os seus desfiles iniciais e a levaram até a posição de hoje no Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio.
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ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Ficha técnica:
Fundação: 22/09/1988
Cores: Vermelho, Verde e Branco
Presidente: Milton Abreu do Nascimento (Perácio)
Presidente de honra: Jayder Soares, Leandro Soares e Helinho de Oliveira
Quadra: Rua Almirante Barroso, 5 e 6 – Duque de Caxias – RJ – CEP 25010-010
Barracão: Cidade do Samba (Barracão nº 04) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa CEP: 20.220-290
Site: www.academicosdogranderio.com.br
E-mail: [email protected]
Em 2025:
Enredo: “Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”
Carnavalesco: Leonardo Bora e Gabriel Haddad
Diretores de Carnaval: Thiago Monteiro
Intérprete: Evandro Malandro
Mestre de Bateria: Mestre Fabrício Machado (Fafá)
Rainha de Bateria: Paolla Oliveira
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Daniel Werneck e Taciana Couto
Comissão de Frente: Hélio Bejani e Beth Bejani